Cerimônia de Chá

A cerimônia do chá japonesa (chanoyu 茶の湯, lit. “água quente [para] chá”; também chamada chadō ou sadō, 茶道, “o caminho do chá”) é uma atividade tradicional com influências do Taoísmo e Zen Budismo, na qual chá verde em pó (matcha, 抹茶) é preparado cerimonialmente e servido aos convidados. O matcha é feito da planta chamada chá, Camellia sinensis.

O espírito da cerimônia do chá consiste em buscar a beleza, amar a simplicidade e aceitar a escassez. Na cerimônia do chá, dá-se a união do apreciador com o Universo.

Seu início foi na segunda metade do século XV e ela foi aperfeiçoada um século mais tarde por Sen-no-Rikkyu. Ela não é centrada apenas no fato de se tomar o chá, mas também na apreciação dos utensílios, que são objetos de grande valor artístico. Por exemplo: a chaleira feita de metal, o tyasen (batedor de chá) e tyashaku (colher para tirar o chá) feitos a partir do bambu e o tyawan (tigela para beber o chá) feito de barro. A tigela é especialmente feita pelo artesão que escolhe o lado de maior beleza artística para ser a sua “frente”.

A cerimônia do chá também inclui a apreciação de elementos como:

1) Tyabana — É a ikebana para a cerimônia do chá, onde se valoriza a beleza de uma única flor como se ela estivesse na natureza. Evidencia-se desde o desabrochar, seu crescimento exposto ao sol e à chuva até chegar ao ápice da sua beleza, assim como nós, os seres humanos, criação única de Deus.

2) Kakemono — É a caligrafia ou pintura exposta que traz uma profunda mensagem do anfitrião ao convidado para que fique gravada em seu coração. Da mesma maneira, cada gesto do anfitrião possui um significado, uma utilidade, sem que haja o menor desperdício de gestos.

O Mestre Jinsai era um grande apreciador da Arte do Chá. Quando recebia as pessoas no Sanguetsu-an (Casa de Chá Montanha e Lua), em Hakone, preparava pessoalmente a sala, escolhendo as caligrafias a serem expostas, vivificando as flores e recebendo os convidados com grande prazer.

A arte da cerimônia do chá contribui para a elevação espiritual das pessoas de todo o mundo. Isto porque ela é uma arte de caráter global que, além da beleza dos elementos artísticos, engloba também a beleza da natureza e a beleza de cunho religioso. Esta arte é o caminho mais curto para se alcançar uma vida baseada na trilogia Verdade, Bem e Belo, fundamental para a criação do Paraíso Terrestre.

Relação entre a Cerimônia do Chá e o Zen Budismo

O estado mental da meditação Zen e o da cerimônia do chá assemelham-se. O que no Zen é contemplação e meditação, no chá é concentração e disciplina.

 

Relação entre a Cerimônia do Chá e o Xintoísmo

Do xintoísmo, introduziu-se a sensibilidade com a natureza, peculiar ao povo japonês, o desejo de purificação e o amor à limpeza.

Itigo Iti-ê

Esta expressão japonesa significa: “Um momento, um encontro”. Por exemplo, cada encontro de uma cerimônia de chá é único, exclusivo, não acontecerá duas vezes.

A essência da cerimônia do chá é a apreciação e valorização de cada encontro, cada objeto, cada elemento da natureza. A preparação do ambiente para receber os convidados simboliza a valorização deste momento único em nossas vidas.

Portanto, uma cerimônia do chá nunca é igual a outra. Por exemplo, a cada cerimônia do chá, temos diferentes convidados, a flor vivificada na cerimônia de hoje já não será a mesma do próximo mês, etc.

Sen-no-Rikyu (1522 – 1591)

Grande aperfeiçoador do Chanoyu. Nasceu na cidade de Imaichi, sendo o seu nome Tanaka Yoshiro.

Com Kitamuki Dochin aprendeu o Shoin daisu, estilo Noami (reunião de chá realizado num salão de recepção utilizando-se de utensílios chineses colocados numa prateleira). Com Takeno Joo aprendeu o Soan cha estilo Murata Shuko (cerimônia do chá realizada numa sala pequena de cabana de sapê com número limitado de convidados). Depois praticou zen com Shorei Sokin do Templo Nanshu em Sakai, recebendo o nome de Hosensai Soeki, dado por Kokei Sochin que também era discípulo do bonzo Shorei.

Toyotomi Hideyoshi

(1536 – 1598)

Senhor feudal unificador do país e com inclinação artística, filho de agricultores nativos da região de Owari. Com o anseio de servir numa família militar, serviu a Oda Nobunaga. Iniciou-se como soldado comum, sendo promovido gradativamente.

Em 1578, no ano 62 da Era Tensho, Hideyoshi recebeu permissão de Nobunaga para realizar chakai (reunião de chá), passando então a organizá-las. Entre seus chakai mais famosos estão o do Templo Daitoku no Murasaki, o Grande Encontro de Chanoyu de Kitano e o chakai para observação das flores no Templo Saigo.

Realizou o sonho de Nobunaga após sua morte, concretizando a unificação do país no 182º ano da Era Tensho (1590). Faleceu aos 62 anos, no 32º ano da Era Keicho (1598).

Visita a Tenshin Okakura

Kakuzō Okakura (岡倉 覚三), nascido em Yokohama (14 de fevereiro de 1862 – 2 de setembro de 1913) (também conhecido como 岡倉 天心 Okakura Tenshin) foi um pintor, escritor, intelectual e estudioso japonês das artes, com grandes contribuições para o desenvolvimento das artes no Japão. Fora do país é principalmente lembrado como o autor de “O Livro do Chá“, que também foi traduzido para o inglês, além do livro “Ideais do Oriente”. Ocupou ainda o cargo de Diretor do Departamento de Belas-Artes Orientais do Museu de Boston, nos Estados Unidos, sendo muito conhecido por ter apresentado ao exterior a cultura japonesa. Em 1877, entrou para o Departamento de Literatura da Universidade de Tóquio e, durante o curso, tornou-se amigo de Ernest Francisco Fenollosa (1853 -1908), um americano que ensinava Filosofia e Economia na mesma Universidade. Fenollosa também tinha profundo interesse pelas belas-artes e pesquisava com ardor as belas-artes do Japão. Tenshin serviu-lhe de intérprete, e Fenollosa, constatando seu conhecimento de inglês, convidou-o para ser seu assistente de pesquisas. A experiência dessa época serviu para abrir os olhos de Tenshin em relação às belas-artes do seu país, principalmente as antigas. Isso foi algo decisivo para toda a sua existência, o que nos mostra que a vida é realmente misteriosa.

Mais tarde, Tenshin opôs-se à tendência exclusiva para a moda ocidental e empenhou-se em fundar a Escola de Belas-Artes de Tóquio, com o objetivo de restaurar as belas-artes japonesas. Em 1890 foi nomeado vice-diretor dessa escola e posteriormente diretor, acumulando o cargo de mestre. O Mestre Jinsai ingressou no estabelecimento alguns anos depois, em 1897. Na época, o diretor era Tenshin, que também dava aulas de História.

Presume-se que o Mestre Jinsai viajou para Izura, em visita a Tenshin, logo depois que este se mudou para lá. A esse respeito, ele escreveu, em 1949:

“Há aproximadamente trinta anos, o professor Tenshin Okakura isolou-se em Izura, no Estado de Ibaragui, seguido por quatro pintores: Taikan, Shunso, Kanzan e Buzan. Nessa época, tive a oportunidade de me encontrar com ele por determinada razão. Ele me falou sobre as suas aspirações em relação à futura pintura japonesa, e nesse diálogo eu aprendi muita coisa. Foi então que percebi que o professor Tenshin, tal como eu, não era uma pessoa comum. Naquele dia, passei a noite em claro, conversando com os pintores Kimura Buzan e Kanzan Shimomura. Este último me disse: “A intenção do professor Tenshin, ao criar a Academia de Belas-Artes, foi promover o renascimento de Korin na época atual”. Consequentemente, seu verdadeiro propósito é divulgar a pintura que não usa traços delineadores. Atualmente, todos fazem pouco caso de nossos quadros, dizendo que são nebulosos, mas um dia o valor deles será reconhecido”. E aconteceu exatamente o que ele falou, pois em pouco tempo os pintores da Academia ganharam primazia entre os pintores do Japão, e todos sabem que isso foi uma revolução na pintura japonesa”.

Não há um registro preciso da data em que se deu a visita do Mestre Jinsai a Izura, mas, analisando os dados relacionados ao fato, presume-se que tenha sido entre março e outubro de 1907.

Na época, a viagem de Tóquio a Izura era bastante longa, levando mais de seis horas pela linha Joban. O dia-a-dia do Mestre Jinsai, na loja de atacados que acabara de abrir, devia ser muito atarefado. Mesmo assim, ele esteve viajando durante dois dias. A respeito do objetivo dessa viagem, sabe-se apenas que foi “por determinada razão”, desconhecendo-se maiores detalhes. Entretanto, não há dúvidas de que ele foi buscar algum conhecimento com Tenshin Okakura, que fora diretor da Escola de Belas-Artes de Tóquio e, no momento, estava dirigindo um novo movimento artístico. Correspondendo à sua expectativa, Tenshin deve ter-lhe dado várias orientações, demonstrando ao máximo seus infinitos conhecimentos e habilidades. Talvez o assunto dissesse respeito aos desenhos de bijuterias e outros trabalhos que o Mestre Jinsai tinha em mente. A propósito disso, a conversa fora se estendendo para o mundo das artes em geral e Tenshin certamente lhe falou com entusiasmo sobre seus ideais relacionados à criação da nova arte.

Leia aqui um Ensinamento do Mestre Jinsai sobre chá!

Veja aqui as chávenas da coleção de obras de arte do Museu MOA!

 

 
 

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