O QUE IMPORTA É SE GOSTOU OU NÃO

Certo dia, quando visitei o Hekiun-So, Meishu-Sama perguntou minha opinião sobre um quadro do pintor Seiho Takeuti (1864-1942) que estava exposto no tokonoma[1]: “O que você acha? Não é ótimo?” Respondi: “Parece-me excelente, porém, eu ainda não consigo assimilar o seu verdadeiro valor...” Imediatamente, Meishu-Sama se mostrou mal-humorado e retrucou: “Não precisa apreciar de maneira dissimulada. Há pessoas que querem entender a todo custo uma obra de arte e, para tal, ficam especulando o seu significado. Na verdade, o que importa é se gostou ou não.”

Numa outra ocasião, uma jovem servidora entrou na sala de Meishu-Sama e elogiou uma pintura que havia naquele cômodo. Nesse momento, Meishu-Sama mostrou-se todo satisfeito. Nesses casos, uma pessoa tenderia a pensar: “Como alguém como ela pode entender de pintura?” Entretanto, Meishu-Sama mostrou-se muito contente e disse entusiasmado: “Você acha? Realmente, é uma boa pintura!”

Para Meishu-Sama, o entendimento sobre uma pintura ocorre de acordo com o nível espiritual de cada um.

Em 1953, quando eu estava no Museu de Arte de Hakone, apreciando O Corvo, de Sotatsu Tawaraya (séc. XVI), pintado a tinta-carvão, por um momento senti o corvo fitar-me e aquilo me deixou um tanto perplexo. Intrigado, expus posteriormente o fato a Meishu-Sama, que afirmou: “É, às vezes, isso acontece comigo também, principalmente quando estou apreciando caligrafias.”

Meishu-Sama não afirmou que essa sensação se devia ao fato de os espíritos de artistas conceituados terem impregnado suas pinturas e caligrafias, mas acho que seja assim mesmo.

Um familiar

 


[1] Tokonoma: Nas casas japonesas, é o local considerado nobre de um cômodo, formando uma reentrância, que fica mais elevada que o assoalho e, às vezes, toma toda uma parede. No tokonoma, penduram-se quadros ou painéis e colocam-se ikebanas.

 
 

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