Atualmente, só de ouvir a palavra “herói” algumas pessoas sentem uma espécie de admiração. Por outro lado, existem outras, como eu, que sentem uma certa rejeição, porque essa palavra lhes inspira um pouco de tristeza. Como podemos ver através da História, por trás das magníficas realizações dos heróis, estão ocultos os crimes que eles cometeram, fazendo do povo de sua época uma vítima de seus desejos egoístas e causando-lhe, conseqüentemente, grandes prejuízos. São fatos que não podemos ignorar e tampouco apagar da nossa memória. Não obstante, devemos agradecer-lhes os temas que proporcionaram à literatura, ao teatro, ao cinema, etc., e que tanto têm contribuído para o nosso deleite.
Não levando em conta o aspecto artístico, parece que o mundo confunde herói com grande personagem. Cristo, Sakyamuni e Maomé, por exemplo, são realmente grandes religiosos, mas não são heróis. Se pensarmos um pouco, poderemos entender que a diferença está em suas realizações. É desnecessário dizer que esses três grandes religiosos tentaram, a qualquer preço, salvar a humanidade, mas salvar no sentido espiritual. Assim, comparando suas realizações às da Ciência, torna-se evidente que o mérito da construção da magnífica civilização atual pertence a esta última.
Isso é apenas o aspecto que veio à tona e se tornou perceptível, mas não podemos deixar passar despercebidas as atividades dos religiosos no outro aspecto da questão. O que acontece é que, não sendo visíveis, elas não atraíram muita atenção. Muito pelo contrário: vieram sendo interpretadas erroneamente, como se fossem coisas separadas, e não se pode imaginar quanta infelicidade isso causou aos seres humanos. Na realidade, é justamente com a força dos dois lados – matéria e espírito, frente e verso, luz e sombra – que a civilização pôde alcançar o nível atual. Naturalmente, isto foi obra da Providência de Deus. Em termos humanos, o progresso da parte material pode ser considerado como contribuição dos heróis e cientistas, e o da parte espiritual, fruto da realização dos grandes religiosos.
Todavia, embora a civilização tenha alcançado tão grande progresso, não podemos esperar que ela vá além disso. Significa que a civilização chegou a um beco sem saída. Realmente, como podemos constatar, a infelicidade e a intranquilidade dos homens aumentam a cada dia; se continuar assim, nem poderemos ter ideia de quando virá o mundo de Paz e Felicidade, que é o ideal de todos os seres humanos. Consequentemente, faz-se necessária a construção de uma civilização ainda mais elevada, através de um grande salto da civilização atual. Por grande felicidade, este momento chegou. Deus mostrou-me claramente os fundamentos desse Mundo Ideal e atribuiu-me um grande poder, de modo que já comecei a executar a sua construção. Talvez as pessoas se espantem com as minhas palavras e cheguem a pensar que se trata de autoelogio, mas não tenho outra alternativa, porque o que estou dizendo é a pura verdade. Observando a transformação que se processará no mundo daqui para frente e o desenvolvimento paralelo de meus trabalhos, poderão entender que não estou mentindo.
Retrocedendo ao que dizia antes, falarei mais um pouco sobre a Ciência e a Religião.
Até hoje, os fundamentos das religiões eram de caráter shojo, isto é, as pregações dos fundadores não eram muito profundas. Poderão certificar-se disso observando que sempre houve muita hesitação e que a verdadeira Paz e Iluminação não foram alcançadas. Isso era inevitável, devido ao Tempo. Mas Deus revelou-me até os fundamentos absolutos e infinitos, só que não me é permitido expô-los agora, razão pela qual escrevo apenas até certo ponto.
A esse respeito, como podemos ver pelas religiões tradicionais, geralmente as religiões se utilizam de dois meios de salvação: os Ensinamentos Sagrados, através das escrituras, e os sermões, através das palavras.
Além das religiões, restam-nos, como herança principal de nossos antepassados, o desbravamento de matas e terras, construções, objetos artísticos, etc. Entretanto, quando faço uma análise mais profunda, vejo que é imperioso o aparecimento de uma força com capacidade para liderar o mundo daqui para frente.
Agora, torna-se necessário que eu fale a meu respeito. Como todos sabem, escolhi três locais para Solo Sagrado – Hakone, Atami e Kyoto, no Japão – lugares extremamente aprazíveis, onde estou construindo, atualmente, um pequeno protótipo do Paraíso Terrestre. Meu objetivo é criar um ambiente paradisíaco cujas características internas e externas estejam harmonizadas: enormes jardins com a beleza das montanhas e das águas, um palácio das belas-artes, construções inéditas entre as religiões, etc. Dedico-me, também, ao desenvolvimento revolucionário da medicina e da agricultura; além disso, através de infinitos e fabulosos milagres, empenho-me em fazer com que o homem se conscientize da existência de Deus. Enfim, faço difusão religiosa por métodos ainda não explorados, ainda não utilizados por nenhum homem. Estas atividades constituem o importantíssimo alicerce do mundo de perfeita Verdade, Bem e Belo.
Gostaria de acrescentar que todas as atividades de construção a serem realizadas de agora em diante, da primeira à última, já estão elaboradas na minha mente, só restando esperar pelo tempo certo. Com o passar do tempo, tudo irá se concretizando. Trata-se de um plano por demais grandioso; pode-se dizer que é a criação da nova civilização mundial.
Como se pode ver, a Igreja Sekai Meshiya Kyo não é propriamente uma religião, e não estamos conseguindo sequer dar-lhe um nome adequado. Além do mais, tudo veio se concretizando conforme o Plano de Deus; chega mesmo a assustar-me a exatidão com que isso vem se processando. Iniciada como religião em agosto de 1947, nossa Igreja conseguiu, em apenas seis anos, a magnífica expansão que vemos atualmente. Se observarmos que ela conseguiu tamanho progresso enfrentando a pressão das autoridades, a incompreensão dos jornalistas e os mais variados obstáculos durante esse período, teremos de admitir que isso não seja obra do homem. Naturalmente, daqui por diante, continuaremos caminhando de acordo com o programa definido por Deus e, dessa forma, um dia se descortinará o grande Drama Divino que tem o mundo como palco. A esse simples pensamento, sentimo-nos tomados de grande interesse e curiosidade. Além disso, doravante se evidenciarão, uns após outros, milagres surpreendentes e cenas de eufórica alegria. Portanto, desejo que aguardem com muita atenção.
Em suma, eu me considero o Herói da Paz.
11 de março de 1953