Creio que a expressão “Luz do Oriente” surgiu há uns dois mil anos, em determinada parte da Europa, tendo-se propagado gradativamente a ponto de hoje não existir quem a desconheça. Até agora, no entanto, por ignorância do seu verdadeiro significado, ela continua envolvida em mistério. Assim , gostaria de mostrar o que realmente significa essa expressão.
Indiscutivelmente, “Luz do Oriente” era uma predição relacionada à minha pessoa. Não haverá quem não se espante ao tomar conhecimento dessa verdade, e poucas pessoas conseguirão aceitá-la de imediato. Por isso, tentarei me explicar melhor, apresentando provas reais do que estou dizendo.
A primeira prova é o local onde nasci e o trajeto das mudanças que fiz.
Nasci num bairro antigamente denominado Hashiba, situado em Assakussa, na cidade de Tóquio. O país chamado Japão, como todos sabem, localiza-se no extremo leste do globo terrestre; acrescente-se que Tóquio é uma cidade do leste do Japão. O leste de Tóquio é Assakussa, cujo leste, por sua vez, é Hashiba, o bairro ao qual me referi há pouco. A leste desse bairro está o rio Sumida. Assim, Hashiba é realmente o leste do leste; em termos mundiais, é o extremo leste do mundo.
Aos oito anos, fui morar no bairro de Senzoku, a oeste de Hashiba; mais ou menos na época em que concluí o curso primário, mudei-me para o bairro de Naniwa, em Nihon-bashi, e em seguida, para Tsukiji, em Kyo-bashi; depois fui para os bairros de Oi e Omori, ambos em Ebara; mais tarde, transferi-me para Koji e, a seguir, para Tamagawa, onde existe, atualmente, o Solar da Montanha do Tesouro. Posteriormente, dando um salto bem grande, mudei-me para Hakone e Atami, e, agora, para Quioto. Assim, troquei de residência dez vezes, e dessas mudanças, excetuando-se o bairro de Koji, nove foram para o oeste. Naturalmente, daqui em diante a Luz do Oriente avançará cada vez mais para o oeste; um dia, é óbvio, chegará à China e, finalmente, à Europa.
Analisando os diferentes aspectos da cultura japonesa até o presente momento, constatamos que todos eles nasceram no oeste e foram se expandindo em direção do leste. Entre as religiões, o budismo, incluindo todas as suas ramificações, o cristianismo e o xintoísmo – este último, originário do Japão – nasceram no oeste e foram se propagando para o leste. A religião budista Nitiren foi a única que nasceu no leste. E isso tem uma profunda razão de ser. Vejamos.
O budismo, como tenho dito, foi criado para promover a salvação das criaturas na Era da Noite, isto é, o período em que o mundo era protegido pela deusa da Lua. Entretanto, como tudo ocorre primeiramente no Mundo Espiritual, chegando a época apropriada à mudança para a Era do Dia, iniciou-se naquele mundo, há setecentos anos, o primeiro estágio do Alvorecer.
Foi por isso que nasceu Nitiren Shonin. Crendo em Buda, assim que terminou seus primeiros aprimoramentos, ele tomou a decisão inabalável de se dedicar à divulgação do sutra Hoke, pregado pelo Mestre. Primeiramente foi a Awa, sua terra natal, e, escalando o Monte Kiyossumi, próximo ao mar, entoou em voz alta, no momento em que o Sol estava para nascer, as palavras Nan-myo-ho-ren-gue-kyo. A partir de então, divulgou para o mundo o sutra Hoke com todas as suas forças, enaltecendo-lhe os benefícios. Mais tarde, lutou contra inúmeras perseguições, até que, finalmente, estabeleceu uma seita inabalável como é hoje a Hoke-kyo, que merece todo o nosso respeito.
Esse grande feito de Nitiren representava o primeiro raio da Luz do Oriente. Em termos espirituais, podemos dizer que, no extremo leste do Mundo Espiritual, até então imerso nas trevas, era um brilho bem fraco e pequeno, o primeiro indício de que o Sol estava para nascer. Naturalmente, isso não se evidenciava aos olhos humanos, mas em verdade constituía uma importante realização Divina no avanço da Grande Providência.
Seiscentos e tantos anos depois, chegada a hora do Alvorecer, no dia 15 de junho de 1931, levando trinta e poucos acompanhantes, escalei o Monte Nokoguiri, situado em Awa, onde se localiza o Templo Nihon-ji, e no topo desse monte, em direção ao céu do leste, entoei uma oração. Na mesma hora, ocorreu algo misterioso. Ainda não me é permitido revelá-lo, mas significava a demarcação da mudança da Noite para o Dia, promovida pela Providência de Deus. O interessante é que o Monte Kiyossumi fica a leste do Monte Nokoguiri. E, devido à grande proximidade de ambos, são realmente montes irmãos. E Nihon, o nome do templo, que significa “Nascente do Sol”, também está insinuando aquela mudança.
Acima escrevi sobre a afinidade do Japão com o budismo. Quanto ao confucionismo, à moral, à sinologia, à medicina chinesa e todas as primeiras expressões da cultura japonesa, foram importadas da China e da Coreia. Nos últimos tempos, foi introduzida no país a cultura ocidental, de modo que a maior parte da sua cultura provém do oeste. Além da Religião Nitiren, não existia nenhuma outra expressão cultural japonesa que tivesse nascido no leste.
Mas agora precisamos refletir: se, através dessa cultura nascida no oeste, se tivesse conseguido formar um mundo ideal de paz e felicidade, que teria eu para falar? O que vemos, entretanto, é justamente o contrário. Materialmente, o mundo se tornou uma civilização magnífica, porém o mais importante, que é a felicidade humana, não foi alcançado; e o pior é que, segundo tudo indica, também não o será, no futuro. Certamente, todos pensam assim. No entanto, embora o homem contemporâneo não possua nenhuma esperança e viva uma vida cotidiana sem objetivos, sentindo uma intranquilidade inexplicável, a maioria das pessoas, no íntimo, não cessa de ansiar pela luz da esperança. O centro desse desejo, na realidade, é a Luz do Oriente.
Como podemos ver, os fundamentos da civilização seguiram uma trajetória contrária à ordem natural, o que pode ser muito bem compreendido ao observarmos a Natureza: o Sol e a Lua despontam no leste e descrevem órbita em direção do oeste. Sendo esta uma verdade eterna, o que nasce no leste representa a própria Verdade. Assim, posso afirmar com toda segurança que as pessoas que acreditarem em minhas palavras, procedendo em conformidade com elas, conseguirá obter a verdadeira felicidade. Em resumo: eu purificarei toda a água turva impelida do oeste para o leste, devolvê-la-ei pura e construirei um mundo límpido como o cristal.
Jornal Eiko, nº 182
12 de novembro de 1952