CAPÍTULO VI

Em maio de 1934, Meishu Sama mudou-se para Tamagawa. Alugou casa em Hiraga-cho e abriu uma clínica para tratamentos. Chamava-se "Terapia de Massagens". Neste mesmo ano, publicou um livro com o título "Terapia pela massagem com os dedos, à maneira espiritual de Okada”.

Como as curas eram espetaculares, a clientela aumentou logo. Em 1935, levantou um capital para a compra de um terreno com 10.000 metros quadrados e com 700 metros quadrados construídos. Evidentemente, teve de dar uma pequena entrada e ficou com uma porção de prestações por pagar.

Tudo parecia correr bem, quando houve um incidente muito desagradável. O chefe de polícia local resolveu fazer uma visita de cortesia ao Mestre Okada. Escolheu uma certa hora de manhã, bem cedo. Naquele tempo, Meishu Sama costumava trabalhar até tarde e dormir um pouco mais durante a manhã. Um porteiro recebeu o chefe de polícia e, em vez de mandá-lo entrar e esperar um pouco, declarou simplesmente que o dono da casa estava dormindo. O ilustre cidadão não gostou. Desde então, o Mestre foi olhado com prevenção e antipatia pelas autoridades policiais.

Em 1937, a polícia de Tamagawa intimou-o a não misturar ensinamentos religiosos com o trabalho de curas. Tinha de optar por uma ou por outra. O Mestre decidiu-se pela terapia.

O sucesso continuou. Em fins de 1940, o tratamento ficou tão popular que Meishu Sama atendia mais de cem pessoas por dia. Tinha auxiliares, porém, assim mesmo, o trabalho era muito penoso. Muitas vezes deixava de almoçar. Um esforço destes foi lhe minando a saúde. Padecia de grande cansaço, tanto mais que também se esgotava com a preparação de discípulos. Ele tinha construido uma casa separada da casa grande, para tratar de seus clientes sem incomodar a família. Deu à casa o nome de Fujimi-tei, que quer dizer: "casa de onde se avista o Monte Fuji".

Tinha construído o Fujimi-tei de frente para o poente, com o único propósito de deliciar-se com o magnífico panorama. O Mestre ensinava que há três caminhos para a evolução humana. São estes: a Verdade, que era exposta nos Ensinamentos, a Virtude, que se traduzia pela prática do Bem, e a Beleza, que é como uma expressão viva da Sabedoria Divina. A contemplação do Belo faz a alma humana evoluir.

Meishu Sama tinha grande preferência pelo Fujimi-tei, onde dava suas consultas e suas aulas aos discípulos, sendo ali o lugar tranquilo onde lia, meditava, estudava e pintava seus desenhos de Kannon.

Nas tardes bonitas, o crepúsculo era divinal. Uma suave languidez tudo envolvia: cidades, aldeias, campos e montes distantes. Os montes, então, se destacavam ao Sol poente em silhueta num fundo cor-de-rosa. As nuvens enfeitavam-se com uma orla dourada. Tudo era serenidade e beleza.

Valeu a pena fazer tanto sacrifício para adquirir aquela propriedade. Fujimi-tei comunicava-se com o jardim da casa grande por um portãozinho de onde saíam dois caminhos: um para a cozinha e outro para a entrada principal da casa.

No Japão, há o hábito de tirar os sapatos para entrar em casa. Os filhos de Meishu Sama, ainda crianças, ficavam esperando que a comprida fila de sapatos fosse desaparecendo. À tardinha, quando desaparecia o último par de sandálias de madeira, as crianças sabiam que o pai, finalmente, terminara o trabalho do dia.

Ansiavam por aquela hora! Corriam para o Fujimi-tei e ainda tinham de esperar um pouco, até que o pai ministrasse o Johrei a cada um dos discípulos.

Terminada esta última tarefa, o pai saía para o jardim e era rodeado pela criançada. Dava seu passeio a pé, andando depressa com as crianças pulando e brincando ao seu redor. De vez em quando, o Mestre parava e se abaixava para acariciar uma flor mais bonita num canteiro. Visitava as hortas, interrogava os chacareiros, ia ver as galinhas, descansava um pouco no jardim de pedras que ele mesmo tinha feito e, depois, voltava ao terraço do Fujimi-tei. Era uma rotina que cumpria diariamente, encantado pela presença alegre e animada dos filhos.

Certo dia, quando já estava escuro, ao voltar para o Fujimi-tei, o Mestre teve uma vertigem. Não tinha almoçado. Era um ataque de anemia cerebral. E foi o sinal de que o Mestre precisava descansar. O descanso das práticas era muito oportuno, pois a polícia de Tamagawa estava implicando com aqueles tratamentos para tanta gente e queria acabá-los com o pretexto de serem um exercício ilegal de medicina.

Anunciaram o fechamento da clínica e Meishu Sama mudou um pouco de vida para se recuperar. É verdade que a falta de clientes tornou as finanças mais difíceis, porém valeu a pena.

As preocupações financeiras eram muitas, mas foram entregues nas mãos de Deus. O contrato de venda da propriedade tinha sido feito ao mesmo tempo para duas pessoas: Meishu Sama e Keita Goto. Nenhum dos dois quis desistir. Abriu-se um processo que durou muito tempo, mas Yoshiko e a esposa do Sr. Goto sempre foram amigas, apesar do litígio entre os maridos.

Nesta época, saiu anunciado que um vaso célebre no Japão, considerado como tesouro nacional, estava à venda. O tal vaso é uma obra-prima feita por Ninsei Nonomura, que morreu em 1660. Meishu Sama não podia perder uma preciosidade destas e, para conseguir o dinheiro, só havia um meio: vender a propriedade de Tamagawa. O Sr. Goto também amava a Arte. Os dois litigantes entraram num acordo e Meishu Sama pôde comprar o "Pote de Glicínias", hoje pertencente ao museu de Atami.

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