Atualmente, ouve-se falar muito sobre as medidas que devem ser tomadas em face do aumento assustador da criminalidade. Vou dar minha opinião a esse respeito.
Falando abertamente, o homem contemporâneo não se completou como verdadeiro ser humano, pois ainda tem muitas características animalescas. Poder-se-ia dizer que é um ser meio-humano e meio-animal. Talvez achem que eu esteja me expressando de uma forma demasiado agressiva, mas não tenho outro recurso, já que essa é a pura realidade. Vou explicar por que faço tal afirmação, e estou seguro de que as pessoas que lerem minhas palavras hão de concordar comigo.
Existem, presentemente, várias organizações destinadas a prevenir os crimes: polícia, tribunais, presídios e um número incontável de funcionários que se encarregam de administrá-los, além de centenas de milhares de leis. Assim, aparentemente, a sociedade está aparelhada a ponto de quase não haver brechas para a ocorrência de crimes.
O método é idêntico àquele que se utiliza para defender os homens contra os animais ferozes que constituem uma ameaça para eles: fazem-se jaulas fortes para protegê-los do perigo. Mas, tal como animais que logo conseguem quebrar as jaulas, por melhor que elas tenham sido preparadas, os seres humanos vêm espremendo sua inteligência, desde os tempos antigos, para diminuir cada vez mais habilmente os pontos fracos dos métodos preventivos contra os crimes. Eis a situação atual desses métodos. E a cada ano aumenta o número de leis, o que é o mesmo que tecer redes com pontos pequenos. Torna-se necessário agir de tal forma porque os “homens-animais” afiam suas unhas e presas para romper as jaulas.
Esta é a causa da intranquilidade social. Com efeito, ainda que, exteriormente, os homens tenham forma de seres humanos, interiormente são como animais. Se fossem verdadeiros seres humanos, a sociedade não necessitaria de jaulas. Quem jamais pratica o Mal, esteja onde estiver, é que tem a qualificação de autêntico ser humano. Se a decadência moral continua, apesar do crescente progresso da cultura, é porque o método de quebrar jaulas está vencendo o método de fortalecê-las. Este é o motivo pelo qual sempre afirmamos que a cultura da atualidade é uma cultura desequilibrada, onde só houve progresso da parte material.
O mundo dos seres humanos é um mundo sem leis nem organizações anticriminais. O esforço que estamos empreendendo tem um único objetivo: construir esse mundo.
03 de setembro de 1949
<