Religião Mediúnica[1]
Atualmente, quando o assunto se trata de novas religiões, geralmente as associamos a encosto de divindades, o que é algo inevitável. Afinal, jikouson[2], odoru-shukyo[3] e outras religiões chamam bastante a atenção pelos atos que sempre cometem; elas se tornam o centro das atenções e isso é o que interessa à mídia. Elas são amplamente noticiadas, apesar da pouca propagação de seus ensinamentos. Em contrapartida, existem religiões com características semelhantes, mas que obedecem ao senso comum, que têm relativa expansão dos ensinamentos. Apesar disso, a verdade é que, no geral, acabam se tornando pouco conhecidas. Portanto, pequenas religiões mediúnicas se sobrepõem às grandes, de características semelhantes a elas.
Neste sentido, nossa Igreja, apesar do seu significativo crescimento, não era popular. Obviamente, isso se deve ao fato de não fazemos uso de nenhuma publicidade e não vendermos ideologismos. Mas, devido ao problema com impostos, repentinamente fomos como que colocados no meio dos holofotes do palco principal e, por essa razão, passamos a ser frequentemente atormentados por jornais, rádios e revistas. Hoje, não há uma só pessoa sequer que não nos conheça. Entretanto, por acreditarmos que tudo ocorre conforme o desígnio de Deus, interpretamos esse fato como sendo a vontade divina em nos mostrar que chegou a hora de fazermos grandes mudanças, e que o momento atual é o de se realizar atividades religiosas conforme os desígnios de Deus.
Todavia, o Mestre Jikan[4], diferentemente da maioria dos precursores religiosos que ouvimos falar até hoje, tem muita aversão por possessões divinas, e palavras e ações que demonstram estranheza. Podemos compreender perfeitamente o que ele sempre explica através de palavras como “Faça com que Deus seja seu senso comum!” Também ouvimos o seguinte.
Deus é, em outras palavras, o mesmo que seres humanos perfeitos e, portanto, a pessoa pode se tornar uma divindade, dependendo do quanto se esforçar. Assim sendo, o método adotado pela verdadeira religião consiste em fazer com que, passo a passo, o ser humano perfeito tenha um cotidiano que, em síntese, faça com que ele se esforce para se aproximar da personalidade perfeita que o tornará um ser útil à sociedade. Ser uma pessoa perfeita, no entanto, é ter a Verdade como “ossos”, ou seja, apoiar-se na vontade de Deus, e considerar o cotidiano como a “carne” que envolve os ossos. Em outras palavras, ter dentro de si a firme mentalidade de não se deixar levar pelo que é incorreto e sedutor; manter-se sempre em um estado sentimental aberto e expansivo; quanto aos atos e fala diários, ser versátil para corresponder ao jishoi (momento-local-posição), sem ficar preso a qualquer coisa; ser uma pessoa que se adapta a ocasião. Também devemos valorizar regras, ter aversão à preguiça, amar ao próximo e ser agradável como a brisa da primavera e do outono, ao nos relacionarmos com outras pessoas; não sair correndo e ser extremista em tudo; precisamos nos esforçar para passar uma boa impressão aos outros, intencionar ser simpático e humilde, assim como desejar a felicidade do próximo e seguir em frente crentes de que devemos dar o máximo de si, e entregar tudo à vontade de Deus.
Não se deve almejar a perfeição nos mais variados campos da sociedade, mas, o esforço para nos aproximarmos, passo a passo, desse ideal é o que existe de mais valioso e importante no ser humano. Dessa forma, ter entusiasmo pela vida é o que faz com que a pessoa se torne um ser humano verdadeiramente feliz. Obviamente, é aqui que se encontra a essência da fé e, por esse motivo, o que viria a ser o Paraíso Terrestre senão o agrupamento de pessoas que pensam dessa maneira?
Esse era o lema sempre dito pelo Grão-Mestre.
Jornal Hikari – Edição Extra
30 de maio de 1949
[1] N.T. O termo original, traduzido como “mediúnica”, é uma referência a encostos de espíritos divinos, e não somente aos fenômenos de encostos espirituais.
[2] Jikouson: Nome da fundadora do movimento religioso jiu (璽宇), originado durante a Segunda Guerra Mundial. Após a fundadora dizer que a divindade do Imperador havia sido transmitida para ela, o governo proibiu a realização de atividades religiosas.
[3] Odoru-shukyo: Nome popular da religião Tenshō Kōtai Jingūkyō, movimento religioso japonês que emergiu do Xintoísmo e iniciou suas atividades em 1945. É bastante conhecido por uma dança ritualística chamada Muga no Mai “無我の舞”, a “dança do não-ego”, o que lhe deixou popularmente conhecida como “Religião dançante”.
[4] Jikan era um dos pseudônimos de Meishu-Sama. Às vezes Ele se referia a Ele mesmo na terceira pessoa.