A Religião não é nada mais do que a cristalização do amor de Deus para guiar os infelizes ao caminho da felicidade. Ninguém ignora que muitos lutam em vão para conseguir a felicidade almejada; raras são as pessoas que a conseguem, depois de uma vida inteira de lutas.
É de pouca utilidade colocar em prática a teoria que nos foi legada através da instrução e de biografias e leituras referentes aos exemplos de grandes personagens. A teoria bem formada merece admiração, mas todos sabem, por experiência própria, que é difícil pô-la em prática.
Tem-se como crédulo ou simplório aquele que age com honestidade; entretanto, se a pessoa procede diferente, cai no descrédito social e nas malhas da Lei. Por fim, o indivíduo não sabe como agir. O que os homens consideram bem-viver e se apressam por adotar é a vida desonesta sob a capa da honestidade. Os melhores adeptos dessa filosofia tornam-se os campeões dos bem-sucedidos, razão por que as pessoas tendem a seguir tais exemplos e o mal social não diminui.
Dizem que os honestos levam desvantagem, e tudo nos faz chegar a tal conclusão, a julgar pelo aspecto do mundo, de modo que quanto mais honesto for o indivíduo, tanto mais ele se arrisca a cair no conceito de “antiquado”. Observa-se com frequência que os homens que proclamam a justiça são repelidos e fracassam na sociedade.
É enorme o meu esforço para manter constantemente o conceito de justiça diante de semelhante mundo. O homem comum escarnece das minhas palavras, que ele considera crendices. Julga-me caprichoso e covarde, porque não sou interesseiro. Sente-se importunado por enfrentarmos o mal e destemidamente escrevermos a respeito, e também pelo nosso rápido progresso. Ultimamente, porém, em vista da firmeza de atitude com que nos temos mantido, apesar de todas as pressões – atitude que visa unicamente o bem – está despertando certa consideração por nós no espírito das pessoas. Alegra-nos, acima de tudo, que a situação tenha abrandado, facilitando o nosso trabalho. Isso se deve à resistência que oferecemos a todas as perseguições, tendo Deus por nosso apoio, e ao fato de a Igreja Sekai Meshiya Kyo possuir o Johrei, inexistente nas demais religiões.
Felizmente, alcançamos a liberdade religiosa com o advento da democracia. O ambiente ficou favorável, em comparação com o do Japão anterior à Guerra, tornando possível, através da justiça, eliminar o mal e caminhar ao encontro do bem.
A seguir, tratarei do problema concernente à felicidade do homem.
Naturalmente, o Bem constitui a base da felicidade, sendo óbvio insistir sobre a necessidade de ele ter força suficiente para vencer o Mal. Até agora, entretanto, na sua maioria, as religiões careciam dessa força; por conseguinte, não proporcionavam a felicidade desejada. Sendo assim, tiveram de pregar a Iluminação para satisfazer o povo, no seu desejo de atingir, pelo menos, a paz espiritual, uma vez que não conseguiam obtê-la na sua totalidade, isto é, espiritual e materialmente. Ou então pregaram a resignação, através do espírito de expiação e do princípio de não-resistência contra o Mal. Criaram, portanto, a teoria da negação da graça na vida presente, o que explica ser classificada de superior a religião que visa a salvação do espírito, e de inferior aquela que consegue obter, também, os benefícios do mundo. Mas essa teoria não passou de um recurso para determinada época. Darei exemplos.
Há pessoas que, embora torturadas por uma doença prolongada, dizem-se alegres, alegando estarem salvas, quando na realidade estão apenas resignadas, sufocando seus verdadeiros sentimentos. Isso é uma espécie de auto-traição. Por natureza, a verdadeira satisfação nasce com o restabelecimento da saúde, se for esse o caso.
Em todos os tempos houve famílias que, não obstante o ardor de sua fé, não foram agraciadas materialmente, permanecendo vítimas de desgraças. Dessa forma, acabaram por se iludir, julgando que a essência da Religião só objetiva a salvação espiritual.
A Igreja Sekai Meshiya Kyo salva tanto o espírito como a matéria. Podemos afirmar que vai além disso. As obras de construção dos protótipos do Paraíso Terrestre em diversas localidades, assim como a construção de museus de arte que estamos realizando, dependem inteiramente dos donativos dos fiéis. A Igreja abomina a exploração, contando apenas com recebimento do donativo espontâneo. Apesar disso, é realmente milagroso o fato de se conseguir a quantia necessária para o empreendimento de uma obra de tal envergadura. Isso prova a prosperidade dos fiéis. O donativo, longe de ser temporário, tende a aumentar, razão por que nunca me preocupei com dinheiro.
Na época em que apareceram as religiões antigas, os ensinamentos podiam ser de caráter limitado, de fé shojo, mas hoje a realidade é outra. Tudo adquiriu caráter universal, de modo que é preciso uma organização grandiosa para salvar a humanidade. Quanto maior a organização, maior o número de pessoas salvas. Por isso, ao tomar conhecimento dos seus objetivos, ninguém deixará de reconhecer a importância da nossa Igreja.
10 de junho de 1953