PALESTRAS SOBRE O DEUS KUNITOKOTATI-NO-MIKOTO

Palestra sobre o aprisionamento do Deus Kunitokotachi-no-Mikoto

Há muito tempo atrás, houve uma era de deuses. Não se trata de algo vago, e sim de uma época em que aqui viviam seres humanos que adquiriram status divino, isto é, algo como a era do dia anterior. Naquele tempo, quem governava o mundo era um deus chamado Kunitokotati-no-Mikoto – um Deus muito rigoroso e justo. Por ter uma política de não permitir coisas erradas, um grande número de deuses – oito milhões de deuses –, assim como a opinião pública, já não conseguiam suportar [1] tamanha vigilância [2]. Por isso, acharam melhor aprisioná-lo. Assim, após fazer um movimento pela sua retirada do poder [3] e pelo seu aprisionamento, ele foi confinado em determinado lugar na direção nordeste. Além disso, para que ele nunca mais viesse a público, espalharam soja torrada pelo chão e disseram: “Quando esta soja torrada florescer, você poderá sair”. Naturalmente, como soja torrada jamais irá brotar, aprisionaram-no estabelecendo isso como condição. A partir daí, passaram a dizer que ele era um deus muito mau. Isto está descrito no livro Ofudessaki [4], da religião Oomoto, da seguinte forma: “Aprisionaram-me e chamaram-me de deus amaldiçoado, deus maligno [5]”.

Palestra do dia 6 de fevereiro de 1954, publicada em Mioshie-shu nº 31, de 15 de março de 1954

Tradução: Alexandre Guedes dos Santos 

 

Kunitokotati-no-Mikoto, Amawakahiko-no-Mikoto e Banko Shin-no

Foi ordenada a Kunitokotati-no-Mikoto a regência deste mundo. No início ele reinou muito bem. Todavia, como era um deus muito rigoroso, o povo sentiu-se pressionado e não conseguiu suportar. Quem se aproveitou dessa situação foi Amawakahiko-no-Mikoto, filho de Banko Shin-no[6]. Ele iniciou um movimento para retirar Kunitokotati-no-Mikoto do poder, ao qual muitas pessoas aderiram. Em seguida, puseram Banko Shin-no à frente do poder, pois, como ele era um deus bom, sossegado e sem força, seria mais cômodo que ele assumisse. Todavia, o poder de fato ficou nas mãos de Amawakahiko-noMikoto, que passou a governar o mundo. Com isso Kunitokotati foi banido. (...) Ele foi banido para o monte Ashibetsu em Hokkaido.

Terceira aula do Curso Kannon, publicado no livro Curso Kannon, de 5 de agosto de 1935

Tradução: Alexandre Guedes dos Santos

A opinião pública voltou-se contra Deus

Pergunta: O pecado de ter aprisionado Deus é algo individual, ou é de toda a humanidade?

Meishu-Sama: Tem sentido amplo, pois Deus foi aprisionado por meio da opinião pública.

Palestra de 8 de junho de 1948, publicado em Gokowaroku – suplemento, sem data de publicação

Tradução: Alexandre Guedes dos Santos

 

Amanojyaku dominou o mundo e corrompeu os sentimentos humanos

Houve uma época em que o Deus Kunitokotati-no-Mikoto governou o mundo. Contudo, era um Deus muito austero e não permitia coisas erradas – é possível saber isso lendo o Ofudessaki da religião Oomoto. Em função disso, os oito milhões de deuses diziam que não conseguiam mais aguentá-lo e que, se não aprisionassem aquele deus ranzinza, não conseguiriam viver despreocupadamente. Então, acabaram por realmente aprisioná-lo. O deus que o aprisionou foi Amawakahiko. Chamam-no de Amanojyaku [pessoa que sente prazer em contrariar a opinião alheia], mas esse foi um nome colocado pelas gerações posteriores devido a Amawakahiko não ser uma pessoa dócil e ter um tipo de personalidade que a todo momento tenta impor sua opinião, mesmo sem ter razão. (...) É o chamado ketsumagari[7], que distorce tudo o que os outros dizem. Uma vez que sua facção veio governando o mundo há muito tempo, os sentimentos humanos também vieram se distorcendo dessa maneira.

Palestra do dia 4 de fevereiro de 1954, publicada em Mioshie-shu nº 31, de 15 de março de 1954

Tradução: Alexandre Guedes dos Santos


[1] Não conseguia suportar [yarikirenai]: expressão que significa não conseguir aguentar algo, ou não conseguir dar continuidade a algo.

[2] Vigilante [yakamashii]: um adjetivo para definir pessoas que “reclamam pela mínima coisa”. Como consta no ensinamento: “Kunitokotachi no mikoto era um Deus que não permitia condutas erradas” – algo que, do ponto de vista de quem queria fazer algo errado, tornava esse Deus um “chato ranzinza e reclamão que não larga o meu pé”.

[3] Movimento de retirada [haiseki undo]: um movimento [undo] criado pelos deuses para rejeitar e excluir do poder [haiseki] o deus Kunitokotachi no Mikoto.

[4] Ofudessaki: livro sagrado da religião Oomoto em que a fundadora Nao Deguchi psicografou os ensinamentos de Kunitokotachi no mikoto.

[5] Deus maligno: No Japão, ainda hoje existe a tradição de, no dia 4 de fevereiro, jogar soja torrada pela janela de casa e dizer: “Demônio para fora, felicidade para dentro”, referindo-se, sem saber, ao banimento do deus Kunitokotachi (o “demônio”, segundo o ditado) e à “felicidade” advinda de poder fazer coisas erradas sem ter um “deus chato” vigiando-o de perto.

[6] Banko-shi ou Banko Shin-no: Conhecido na mitologia chinesa como Pan Gu

– o criador do mundo.

[7] Ketsumagari: é um conhecido regionalismo de Tóquio que literalmente significa “rabo torcido”; é utilizado para caracterizar pessoas que distorcem tudo o que os outros dizem com a finalidade de discordar. No Brasil, a expressão mais próxima seria “pessoa do contra”, ou seja, uma pessoa que discorda de tudo.

 
 

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