Em Matsushima há um templo budista, o Templo Zuygen, em cuja origem há uma história famosa.
No século XVI, havia um rapaz muito jovem pertencente à classe dos ashigaru (uma classe de samurai) que servia a um senhor feudal, o Sr. Date. A função do rapaz era cuidar das sandálias do Sr. Date. Um dia, como nevava e fazia muito frio, o rapaz colocou as sandálias dentro da dobra do seu quimono para aquecê-las, a fim de que seu amo, o senhor feudal, não sentisse tanto frio quando saísse de casa.
Mas quando o Sr. Date calçou as sandálias e sentiu o seu calor, ficou encolerizado e, chutando-as, gritou: “Você as calçou!“
O rapaz foi demitido e ficou atormentado com a situação. E como não encontrava nenhum meio de provar que não havia calçado as sandálias, mas que as havia simplesmente aquecido, decidiu-se pelo suicídio. Com sua morte, queria provar a sua inocência. Mas no momento em que estava para suicidar-se, foi visto por um grande sacerdote budista que por ali passava.
“Por que você está querendo morrer?” perguntou-lhe o sacerdote.
O rapaz contou-lhe toda a estória e explicou que com a morte estava querendo provar a sua inocência.
“Não vale a pena fazer isso“, dissuadiu-o o sacerdote. “Ao invés de se suicidar, torne-se um grande homem. Essa será a sua melhor vingança.“
O rapaz deixou-se convencer e pediu para ser discípulo do grande sacerdote. Mais tarde, aprimorou-se na China e adquiriu grande renome. Sua fama percorreu toda a região.
A fama do sacerdote chegou aos ouvidos de seu antigo amo, o Sr. Date. Quando este soube que o jovem sacerdote era oriundo do seu feudo, convidou-o para visitá-lo. Ele se sentia honrado pelo fato de tão ilustre sacerdote ter saído de suas terras. Assim, o jovem e seu antigo amo voltaram a encontrar-se. O senhor feudal o tratou com o maior carinho e respeito.
Na despedida, o jovem sacerdote disse ao senhor feudal: “Trouxe um presente para oferecer ao senhor“. E entregou-lhe um embrulho contendo um par de sandálias.
“O que significa isto?“, perguntou-lhe o Sr. Date.
O sacerdote contou-lhe então a estória da época em que, ainda muito jovem, o servia cuidando de suas sandálias. Falou, então, de quanto se sentira infeliz e mortificado por não poder provar a sua inocência.
“Por causa dessas sandálias – prosseguiu o jovem – eu estudei e me aprimorei, até chegar onde estou hoje. Portanto, estas sandálias representam um grande tesouro para mim. Foi graças a elas, mas também graças ao senhor. Por isso, trouxe-as como lembrança“.
Ao ouvir essa estória, o Sr. Date ficou muito embaraçado mas, ao mesmo tempo, ficou feliz. E para reparar o seu erro, deu um templo ao jovem sacerdote.
Assim foi construído o Templo Zuygen.
Esta história encerra um ensinamento muito precioso.
Se você for maltratado por alguém ou surgir algum mal-entendido, não tente forçar um esclarecimento imediato, nem se vingar dessa pessoa. Espere chegar o tempo. Se você estiver com a razão, tenha paciência que, na época certa, os bons resultados surgirão.
Ontem, durante uma reunião que tive com pessoas ilustres, veio à baila a questão da Segunda Guerra Mundial. Eu disse a eles o motivo pelo qual o Japão perdeu a guerra. De modo geral, quando o ser humano quer vencer, acaba perdendo. A melhor maneira de vencer na guerra é recuando. Quem for capaz de fugir, acabará vencendo. Mas os soldados japoneses não recuaram. Sempre avançaram, até onde puderam. Por isso não venceram a guerra.
Quando o general McArthur lutou nas Filipinas, fugiu e escapou da morte. Naquela época, eu disse a todos que McArthur era um grande homem porque fugiu. Por ter fugido, muitos me ouviram afirmar que ele se tornaria um grande general. Mais tarde, realmente, ele tornou-se importante.
Portanto, não é bom uma pessoa vencer sempre. Se ela for derrotada e conseguir fugir, aguardando o tempo certo, acabará vencendo.
Nas pequenas coisas, também é assim. Mesmo em relação a questões de família, é bom perder. Perdendo, a pessoa certamente acabará vencendo. E aquele que venceu primeiro, ao notar o seu erro, pedirá desculpas posteriormente.
Existe um antigo provérbio que expressa isso muito bem, “Quem perde, vence.” ou “Os últimos serão os primeiros.” É uma verdade universal.
06 de junho de 1947