EXISTEM FANTASMAS?

Desde épocas remotas há controvérsias sobre a existência de fantasmas, mas eu afirmo que eles existem. Trata-se de uma realidade que ninguém pode negar. Creio que a tese do Inferno e do Paraíso, pregada por Buda, assim como a do Inferno, Purgatório e Céu, da “Divina Comédia” de Dante Alighieri (1265-1321), não são teses sem fundamento, absurdas ou ilusórias.

Que é o Mundo Espiritual? Em síntese, o Mundo Espiritual é o mundo da vontade e do pensamento. Sem o empecilho da matéria, há uma liberdade que não existe no Mundo Material.

O espírito pode ir aonde quiser, e mais rapidamente do que uma aeronave. No xintoísmo, as palavras “Tome assento nesse templo, vencendo o tempo e o espaço“, proferidas nas cerimônias litúrgicas, significam que um espírito pode cobrir a distância de mil léguas em alguns minutos ou até segundos. Entretanto, a rapidez com que ele se move depende da sua hierarquia. Os espíritos elevados, isto é, aqueles que conseguiram atingir os níveis de hierarquia Divina, são mais velozes. O espírito do nível mais alto da hierarquia Divina pode chegar ao local mais distante num espaço de tempo menor do que a milionésima parte de um segundo, mas o espírito de nível inferior leva algumas dezenas de minutos para cobrir mil léguas. Isso porque, quanto mais baixo o nível do espírito, mais pesado ele é, devido às suas impurezas.

Além disso, por sua própria vontade, o espírito pode aumentar ou diminuir de tamanho. Numa Morada dos Ancestrais com mais ou menos trinta e cinco centímetros de largura, podem tomar assento várias centenas de espíritos. Nessa oportunidade, é rigorosamente observada a ordem, isto é, cada um ocupa a posição adequada ao seu nível, dentro da maior disciplina e com a indumentária apropriada. No budismo, eles assentam no seu nome intemporal, escrito numa placa de madeira ou de qualquer outro material; no xintoísmo, assentam num espelho, numa pedra, numa letra ou no Himorogui (cruz feita de fibras de linho).

Logicamente, os espíritos ficam muito satisfeitos pelos cultos que lhes são oferecidos de coração, mas o mesmo não acontece se são atos apenas formais. Assim, nas ocasiões de culto, as pessoas devem colocar o máximo de sentimento e realizá-lo de forma ideal, de acordo com as condições materiais do momento.

Desde épocas remotas fala-se em pessoas que ocasionalmente veem fantasmas, mas na maioria dos casos trata-se de espíritos com poucos dias de desencarnados. O grau de densidade das células espirituais dos recém falecidos é elevado, razão pela qual esses espíritos podem ser vistos por algumas pessoas. Nada há de estranho, portanto, no fato de muitos terem visto a Ressurreição e Ascensão de Cristo. Porém, como o espírito de Cristo era elevado, Divino, ascendeu ao Céu. Com o passar do tempo, o espírito é purificado, ficando menos denso, e, assim, mais difícil de ser visto.

Um fantasma pode entrar e sair livremente por um orifício do tamanho do buraco de uma agulha, pois não tem corpo carnal que lhe estorve a passagem. Em vista disso, muitos podem pensar que o Mundo Espiritual seja o lugar ideal para quem ama a liberdade, mas não é bem assim. Nele existem leis que são aplicadas rigorosamente, e a liberdade é limitada.

Agora falarei rapidamente sobre a expressão facial dos espíritos.

Os fantasmas geralmente são retratados com a expressão facial dos instantes da morte. Entretanto, com o decorrer do tempo a expressão do espírito vai mudando lentamente, amoldando-se à índole da pessoa. Por exemplo, os tímidos, os pessimistas e os solitários tomam um aspecto lúgubre, raquítico; os possuidores de natureza diabólica e animalesca, tomam a aparência do próprio demônio; os de pensamento vil ficam com a face disforme, e os que têm bom coração adquirem uma expressão bondosa e bela. Neste mundo, é possível encobrir o pensamento, pela configuração chamada corpo carnal, mas no Mundo Espiritual tudo é revelado, aparecendo exatamente como é. Essa imagem verdadeira aparece mais ou menos um ano após a morte.

Num livro da autoria de um grande religioso, há mais ou menos esta referência: “Quando o homem falece, seu espírito se extingue. O espírito não é eterno, nem tampouco existe Mundo Espiritual; se existisse, já estaria repleto, pois o número de pessoas que faleceram atinge vários bilhões“. Esse autor, apesar de ser um expoente do budismo, desconhece o poder de elasticidade do espírito.

5 de fevereiro de 1947