Costuma-se dizer, desde a Antiguidade, que o homem é portador de doenças, mas a expressão está completamente errada. Corrigindo-a, diremos que ele é possuidor de saúde. Como já expliquei anteriormente, o homem é saudável por natureza. Acontece, porém, que, na atualidade, a doença é sua companheira, sendo isso considerado problema insolúvel, o que levou muitos a se conformarem, aceitado-a como predestinação. Com efeito, uma vez que a pessoa é acometida pela doença, sua cura torna-se difícil. Às vezes, adoece-se por um longo período, ou então com frequência; há mesmo quem passe mais tempo doente do que com saúde. Justifica-se, pois, dizer que o homem é um portador de doenças; aliás a expressão deve ter surgido devido ao prolongamento de tal situação. Isso aconteceu porque ainda não se conhecia a natureza da doença, tornando-se compreensível que tanto esta como a morte fossem inevitáveis. Foi por essa razão que Sakyamuni afirmou: “O homem tem de se resignar com o sofrimento do nascimento, da doença, da velhice e da morte.”
Falarei, agora, sobre a anti-natureza, que é a fonte da doença.
Primeiramente, quando adoece, o homem utiliza os medicamentos como se fossem o único recurso, e aí está o erro. Na medicina chinesa, os remédios são extraídos das raízes das plantas ou das cascas das árvores; quanto à medicina ocidental, ela busca seus produtos nos minerais, nas plantas ou em fontes. Tudo isso é fundamentalmente antinatural. Pensem bem: as substâncias assim obtidas possuem, sem dúvida, sabor amargo, odor desagradável, acidez, etc., que invariavelmente provocam aversão. A conhecida expressão “tirar da boca o gosto de remédio” ilustra bem o fato. Mas por que é tão desagradável tomar remédios? A resposta é a seguinte: Deus está mostrando que não se deve tomá-los, porque eles são tóxicos. Quanto aos alimentos, todos são produzidos de maneira que agradem ao paladar do homem; ingeri-los, portanto, é uma ação natural.
Costuma-se dizer que determinados alimentos são nutritivos e que outros não o são, mas isso também é um erro. Apesar de existir alguma diferença, dependendo do clima e das características da região, todos os alimentos são produzidos de maneira adequada às pessoas aí nascidas. Os indivíduos de raça amarela alimentam-se de arroz, e os de raça branca, de trigo; da mesma forma, como o Japão é um arquipélago, significa que seu povo deva comer bastante peixe, não havendo, também, nenhuma inconveniência em que as pessoas do continente comam carne. Pelo mesmo raciocínio, as refeições dos agricultores, à base de vegetais, estão de acordo com a Natureza. O fato deles suportarem o trabalho braçal contínuo mostra a adequação da alimentação vegetariana. Desconhecendo esse princípio, a dietética está se empenhando, atualmente, para que os agricultores comam peixe; entretanto, se eles assim fizerem, resultará na diminuição da sua capacidade produtiva. Por outro lado, devido às refeições à base de peixe, os pescadores não suportam trabalho braçal contínuo e por isso trabalham de maneira intermitente. Além disso, esse tipo de alimentação ajuda a aguçar a sensibilidade; portanto, é apropriado à atividade de pesca, donde se conclui que a Natureza é realmente perfeita.
Cap. X – Série “Minha Visão” – 20 de abril de 1950