CAPÍTULO 49 – O VERDADEIRO ASPECTO DO MUNDO DE MIROKU

O VERDADEIRO ASPECTO DO MUNDO DE MIROKU[1]

Costumam me perguntar como seria o Paraíso Terrestre de que eu sempre falo. Tantas vezes eu pensei em escrever sobre como seria a situação do mundo um século depois, que eu pude conhecer pela Revelação Divina de 1926, mas sentia que não era chegada a hora e acabei não o fazendo até hoje. Porém, nos últimos tempos, passei a ser instigado pela sensação de que estava na hora de escrever, e é por isso que me pus a escrever. Fica por conta da imaginação do leitor se as descrições do futuro desta revelação divina se tornarão realidade ou não, mas eu tenho a convicção de que se concretizarão infalivelmente.

Quero deixá-lo ciente de que isto foi escrito supondo que eu fiquei adormecido durante cem anos e, ao acordar, fiquei surpreso com a tamanha transformação do mundo.

Acordei às seis horas da manhã, ao som de uma música bem baixinha, que parecia sair do travesseiro. Ela foi ficando cada vez mais alta, e, como eu não conseguia dormir, levantei-me. “Que interessante! Um despertador acionado dentro do travesseiro!” - pensei eu. Lavei o rosto e tomei a refeição matinal, uma mescla dos hábitos japoneses e ocidentais: sopa de “misso” pão de arroz, um pouco de peixe e carne, verdura, café, chá verde etc.

Em primeiro lugar, li o jornal. Numa manchete da primeira página, anunciava-se a eleição do Presidente Mundial. O dia da eleição estava próximo. Publicavam-se os nomes e as fotos dos candidatos de diversos países: Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Vietnã, Japão, União Soviética (cujo nome era outro) e países da América do Sul. Parece que o candidato dos Estados Unidos era o preferido.

Na página três, deparei com algo inesperado: quase não existiam artigos sobre crimes. Dava-se grande destaque à parte relativa às diversões; os artigos principais versavam sobre esporte, turismo, música, belas-artes, teatro, cinema e outras artes cênicas etc. A composição estava realmente muito bem feita. Os artigos não eram complexos e mal elaborados como acontecia nos jornais do passado, mas redigidos numa linguagem simples e precisa, restringindo-se unicamente ao necessário. Assim, gastava-se pouco tempo na leitura; percebia-se que havia cuidado para não cansar o leitor.

Outra nota diferente em relação aos tempos antigos era a grande quantidade de fotos: cinquenta por cento de textos e cinquenta por cento de fotos. A página de anúncios e classificados também era muito diferente. Quase não havia propaganda de remédios, e a de cosméticos era mínima. O que havia em abundância era propaganda de livros e artigos relacionados às vestimentas, alimentação, moradia, maquinaria, novos lançamentos etc. A parte escrita era bem reduzida, por isso eu li o jornal todo em aproximadamente quinze minutos. Terminei a leitura com muito boa disposição. E não era para menos, pois a janela era ampla e a sala estava bem clara. Não havia nenhuma instalação de segurança: explicaram-me que assaltantes e ladrões eram histórias do passado. Por isso, achei que, de fato, aquele era um mundo maravilhoso.

Terminada a leitura do jornal, peguei o carro e saí. Estava muito bem vestido, mas fiquei surpreso com a beleza da cidade. Parecia um jardim. Engraçado é que, além dos automóveis, não se via nenhum outro tipo de condução, o que não era de se admirar, pois os trens e os bondes trafegavam pelo subsolo; as ruas eram só para os automóveis. Além disso, estes não faziam nenhum barulho. Achando estranho, olhei bem e notei que a rua parecia estar forrada com cortiça. Observando melhor, percebi tratar-se de um material elástico e bastante macio, que parecia ter sido preparado com a mistura de borracha e pó de serra. Os carros trafegavam com pneus de borracha, e existiam dispositivos para isolar o som em volta das janelas e em toda parte, não havendo, pois, motivos para poluição sonora. Além do mais, se chovia, a água se infiltrava e por isso não se formavam poças. A força motora que movimentava os carros era um minério do tamanho da ponta de um dedo. Algo realmente extraordinário, porque conseguia fazer com que um carro percorresse várias dezenas de milhas. Esse minério assemelhava-se ao urânio e ao plutônio, sendo uma aplicação do princípio da desintegração do átomo.

Assim que entrei no carro, vi que não havia motorista. Nem era preciso, pois bastava o passageiro segurar uma barra com uma das mãos para o carro movimentar-se. É claro, porém, que algumas pessoas se davam o luxo de ter motorista.

Comecei a visita da cidade. Como era bela! Fiquei surpreendido ao ver árvores frutíferas enfileiradas entre a rua e a calçada, como acontecia antigamente com a avenca-cabelo-de-vênus e os plátanos. Havia figueiras, caquizeiros, ameixeiras e árvores mais baixas, como laranjeiras, pessegueiros e pereiras. No meio da rua existiam canteiros semelhantes aos de outrora, separando as duas mãos do trânsito; neles se enfileiravam árvores frondosas, cobertas de belas flores, e as bordas eram coloridas por todos os tipos de flores e plantas. Enquanto eu passava por elas, chegava a mim o perfume de uma flor que não consegui identificar.

O que me pareceu mais bonito no passeio foi um caminho cheio de hortênsias, em determinado bairro, na extensão de uma milha. A segunda coisa mais bela foi o caminho que vinha em seguida, todo florido de dálias. Existia, também, um local onde se viam cachos de uvas pendurados nas duas calçadas das ruas, e latadas de glicínias cujas flores já haviam caído e que só tinham folhas. Em diversos pontos da cidade, havia pequenas casas de chá com mesas e cadeiras enfileiradas na beira das calçadas, a fim de que os transeuntes pudessem tomar bebidas simples apreciando as flores. Cada bairro possuía um ou dois pequenos parques públicos, onde as crianças brincavam alegremente, e por isso a cidade também era o Paraíso das Crianças. Alguns jardins de flores tinham um lago artificial bem no centro, e o interessante é que, em sua superfície, boiavam nenúfares. Todas as plantas eram regadas várias vezes por dia, numa hora determinada. Havia um encanamento instalado em volta dos jardins: era um cinturão quadrado, de cimento, com um número infinito de orifícios. Bastava abrir a torneira para que, desses orifícios, saíssem jatos d’água, como os de um chafariz, molhando todo o jardim.

Outro aspecto que me surpreendeu foi o tempo, que também era controlável, podendo-se fazer sol ou chuva. Assim, se na manhã ou na tarde de certo dia da semana chovia, depois fazia bom tempo até determinado dia. O vento também estava controlado para soprar na proporção adequada, em dias espaçados, sendo que, de vez em quando, soprava um vento forte. Isso era inevitável, para que as árvores fortificassem suas raízes. A antiga expressão “de cinco em cinco dias ventar, de dez em dez chover” deve referir-se a essa época. Naturalmente, tudo decorria do progresso da Ciência.

Nesse meu passeio pela cidade, vi algo interessante. Em diversos locais havia umas casinhas de vidro, semelhantes a caixas, onde se podiam ver desde árvores com folhas aciculiformes até árvores que apresentam sempre o mesmo aspecto, como pinheiros, cedros, ciprestes, lariços e outras. Nessas casas conservava-se a temperatura de mais ou menos dez graus centígrados; naturalmente, havia um aparelho de ar condicionado em cada uma. Era oásis artificiais para aqueles que transitavam pelos arredores, sob o sol quente do verão. Em todos esses locais vi jovens realizando diversas atividades sob a orientação de um responsável, que tinha vasto conhecimento de botânica e fora selecionado entre os componentes da comissão de cada bairro.

Do carro, eu via as lojas da cidade, enfileiradas. Eram construções bem planejadas, cheias de beleza e altivez, proporcionando uma impressão muito agradável. As lojas um pouco maiores pareciam museus de artes. Aliás, não se via construções de mau gosto, de cores berrantes, pequenas como caixinhas de fósforo. Todas tinham janelas bem amplas e iluminação suave. A beleza da pintura e da escultura estava aplicada ao máximo.

Enquanto eu fazia isso e aquilo, parece que ia anoitecendo, mas não se sentia que já era noite. Aliás, não era para menos, pois nas ruas, em determinados espaços, existiam postes de iluminação a mercúrio. Os raios de luz eram diferentes dos que são emitidos pelas lâmpadas: muito mais claros, um brilho surpreendente. Parecia estar-se recebendo a luz do Sol em plena tarde, e nenhuma das cores sofria modificação.

Caros leitores, gostaria que imaginassem o aspecto da cidade que acabei de descrever. As mais diversas flores, todas abertas, exalavam um perfume agradável por toda parte, e as árvores estavam carregadas de todos os tipos de frutas. O silêncio era tão grande que não parecia estar-se numa metrópole. Que passeio agradável! Olhando as vitrines das lojas, eu tinha a impressão de estar vendo uma exposição de belas-artes. Naquela cidade, até as lojas bem grandes conseguiam suprir as suas necessidades com apenas um ou dois funcionários, visto que as mercadorias tinham os preços marcados e qualquer pessoa podia pegá-las e examiná-las. Se os fregueses ficavam satisfeitos com o preço e o folheto de explicação, depositavam o dinheiro na caixa coletora, colocada à entrada da loja; o embrulho era feito automaticamente por uma máquina e, de acordo com o tamanho do objeto, era amarrado com um barbante, tornando-se fácil de carregar. Dessa forma, era realmente muito fácil fazer compras.

Como sentisse fome, entrei num restaurante. Não se avistava nenhum garçom. De um lado da entrada estavam enfileirados pratos apetitosos, todos com uma identificação: A, B, C... Sentei-me num lugar desocupado e, olhando para a mesa, vi que era numerada. Depois, apertei um dos botões instalados no canto. Naturalmente, apertando o botão correspondente ao número da mesa e à identificação do prato, este aparecia imediatamente. Olhando com mais atenção, notei que no meio da mesa havia uma abertura mais ou menos do tamanho do prato, que por ali saía automaticamente. Assim, tudo que eu pedia subia logo em seguida. Não havia necessidade de nenhuma explicação; o serviço era muito rápido, muito agradável. Eu tinha ouvido falar que esse método já existia no século XX, mas me parecia inconcebível que estivesse tão aperfeiçoado. Obviamente, todas as bebidas saíam pela mesma abertura, mas as alcoólicas só apareciam até certo limite. Observando melhor, vi que havia mais um botão. Nele estava escrito: “Conta”. “Ah, então aperta-se esse botão...” Apertei. Imediatamente surgiu a notinha. Coloquei a quantia estipulada, e logo apareceu o recibo. Que facilidade! Fiquei satisfeito e não gastei muito tempo. Por isso, resolvi ir a um teatro.

A quantidade de teatros era surpreendente. Qualquer cidade os possuía em tudo quanto é lugar, e, para meu espanto, o ingresso era muito barato. Imaginando que não haveria nenhum lucro, interpelei o gerente. Ele respondeu que todos os teatros eram administrados por milionários como obras sociais, e assim nem seria preciso cobrar ingresso. Não obstante, a construção e as instalações eram luxuosas, ostentando a maior beleza e boa qualidade. Não se permitia a entrada de espectadores além da quantidade de cadeiras, de modo que se podia assistir muito bem às representações.

Quando entrei, estava havendo uma exibição cinematográfica curiosíssima. Exibiram-se dois filmes produzidos por uma companhia nipo-americana - um sobre os Estados Unidos e outro sobre o Japão. O primeiro era um filme histórico que retratava o período transcorrido desde a época em que os puritanos da Inglaterra foram para os Estados Unidos e começaram a desbravar a terra, até a Guerra da Independência. O segundo mostrava um personagem que poderíamos chamar de cientista religioso, o qual revolucionou a medicina e teve uma vida de lutas incessantes buscando solução para o problema da doença. Ambos os filmes eram muito interessantes. Ainda houve outro espetáculo, transmitido pela televisão, mas parecia uma peça representada em algum teatro.

Como estava exausto, voltei para casa e fui dormir. Refletindo sobre o que vira nesse dia, concluí que realmente o sonho da humanidade havia sido concretizado. Fiquei bastante comovido, achando que era a Utopia há tanto tempo idealizada por ela, e meu espírito de pesquisa aumentou de forma irrefreável, pois eu sentia necessidade de conhecer todos os aspectos da cultura da Nova Era. Primeiramente, resolvi pesquisar em silêncio. Acreditando, entretanto, que os leitores também desejam conhecer tudo sobre esse novo mundo, relatarei, pela ordem dos fatos, aquilo que fiquei sabendo.

O caso que se segue aconteceu no dia seguinte ao daquele passeio.

Um vizinho meu convidou-me para ir a um lugar muito agradável, e eu o acompanhei sem hesitar. Mais ou menos no centro de certa cidade, existia um edifício surpreendentemente suntuoso. Dirigimo-nos para lá. Nele, havia teatro, restaurante, locais de diversão etc. Eu quis saber que edifício era aquele, e meu amigo me disse que era o centro comunitário, acrescentando que todas as cidades tinham um ou dois desses centros. Em seguida ele falou que uma vez por semana os membros se reuniam para trocar ideias. Naturalmente avaliavam propostas sobre o plano de expansão da cidade, higiene, diversões e outros setores, objetivando aumentar o bem-estar dos cidadãos.

Primeiramente nos encaminhamos ao restaurante, onde saboreamos pratos deliciosos; a refeição era excelente, muito melhor que as do século anterior, em termos de beleza, sabor da comida e aroma das bebidas alcoólicas. Pelo que meu amigo contou, uma vez por semana havia o Dia da Felicidade, em que os membros se reuniam e passavam momentos aprazíveis, saboreando pratos apetitosos, ouvindo música e assistindo a representações teatrais e exibições de dança. Nessa ocasião, as danças e as músicas eram apresentadas, com grande altivez, por moças de todas as famílias da cidade, as quais treinavam estas artes habitualmente. Artistas profissionais e amadores faziam apresentações conjuntas. Todas as despesas com essa e outras atividades eram feitas pelos milionários da cidade, através das instituições sociais.

Nesse novo mundo, era surpreendente a intensidade do turismo. Nos parques nacionais, nas regiões montanhosas, nas praias e em ilhas pitorescas de várias regiões havia um grande número de visitantes, provenientes de todos os países. Consequentemente, por mais afastado que fosse um lugar, o progresso cobria todas as distâncias com trens elétricos, bondinhos aéreos e outros meios de transporte. As ferrovias e os meios de navegação eram magníficos e luxuosos; os preços, no entanto, eram bem baratos. Chegava a ser quase de graça. E não era de se admirar, pois tudo isso também se tornava possível graças à contribuição social dos milionários.

Ouvi todas essas explicações durante o período de descanso, e nem preciso dizer que fiquei surpreso, não obstante tudo aquilo que já tinha visto.

Há coisas muito importantes das quais o leitor precisa estar ciente, em relação à composição da sociedade, política, economia etc., e que passo a escrever agora. É que, até os meados do século XX, o mal sempre predominava sobre o bem, mas hoje a situação se inverteu, predominando o bem sobre o mal. O leitor retrucará dizendo que isso é um absurdo, mas eu digo que o leitor tem muita razão para dizer isto, e portanto irei explicar.

Por que nas épocas anteriores ao século XX o mal predominou? É porque foi necessário muito tempo para expor o mal à Luz do Dia. Suponhamos que há um criminoso aqui. Mesmo que ele cometa o crime, demora dez, vinte anos, às vezes até mais, para ser descoberto. E ele vai subindo na vida. Como ele não é facilmente descoberto mesmo cometendo o crime, torna-se ousado e vai cometendo mais crimes e subindo cada vez mais na vida. O povo que assiste a isso tenta imitá-lo. É esta a razão de o mal predominar. Para evitar que isso aconteça, tornam as leis mais rigorosas, e a polícia e a justiça lançam mão de todos os meios e estabelecimentos possíveis, mas o crime não diminui como esperado. Não apenas não diminui como também tende até a aumentar. Eu descobri que, para tanto, há muita causa grave latente, e descobri também o que vem a ser essa causa.

Na verdade, o que foi mais decisivo que a descoberta foi a mudança dos tempos.

Uma das coisas importantes que surgem ao escrever sobre política é o modo de ser do partido. Logicamente a democracia, praticada há cem anos, serviu de referência e, após o progresso gradativo, passou a ser adotado o sistema de classes. Podemos chamá-la de democracia classista. Em tal sociedade, o povo se divide em três classes: primeira classe, segunda classe e terceira classe, e cada uma delas se divide em três níveis, totalizando nove níveis. Em termos concretos, nas reuniões oficiais e cerimônias, os assentos a serem ocupados dividem-se em três níveis, e a moradia, roupas etc. também se dividem em níveis alto, médio e baixo. Por isso, não acontece mais de buscarem somente o benefício de sua própria classe, atacarem outras classes e provocarem lutas, e o povo está satisfeito dentro de sua própria classe e deseja que as demais classes também sejam cada vez mais prósperas. Mesmo assim, se as pessoas tiverem mérito, elas subirão de classe, acontecendo o contrário, logicamente, se não fizer jus. O rebaixamento de classe constitui uma espécie de penalidade. E os deputados escolhidos da primeira classe serão os da câmara alta, os da segunda classe serão os da câmara média e os da terceira classe serão os da câmara baixa. O Congresso Nacional só se reúne duas vezes ao ano, na primavera e no outono, e dura cerca de vinte dias. Abro parênteses aqui para acrescentar que os dias de descanso, que antigamente eram semanais, agora são a cada dez dias, ou seja, três vezes ao mês, sendo escolhido um número final — 3, 5 etc. Os descansos semanais não eram nada práticos. Principalmente entre os japoneses, devem ser poucas as pessoas que conseguem responder prontamente quando perguntado em que dia da semana estamos. Se for a cada dez dias, é facílimo de memorizar e muito prático. Deve ser por isso que a duração do trabalho do Congresso Nacional também é de vinte dias e não três semanas. Apesar de serem apenas quarenta dias ao ano de trabalho, são votados numerosos projetos, por onde pode-se ver como são eficientes. Os partidos políticos do século XX muitas vezes se opunham por se opor, relegando ao segundo plano o bem-estar do povo e priorizando os interesses do seu próprio partido, ao examinar os projetos, por isso havia muitas discussões inúteis e conluios. Por conseguinte, gastavam tempo tentando derrubar projetos ou adiar a votação, e a duração dos trabalhos também se prolongava, o que o povo sempre via com desgosto.

Geralmente, são os dois maiores partidos políticos que assumem o poder alternadamente — não digo tomar o poder, pois esta expressão tem uma conotação desagradável. Isto é, eles cedem o poder um ao outro pacificamente. Como o principal objetivo da política é aumentar o bem-estar da humanidade, eles o têm como meta única, e sequer se importam com os interesses do partido. Assim, mesmo havendo dois grandes partidos políticos, há muitos pontos coincidentes entre suas políticas, nem existindo a expressão “colapso do Gabinete” como antigamente. O que acontece é a alternância de Gabinetes. É claro que a instituição das leis acontece com a concordância de três câmaras — alta, média e baixa, mas o número de leis é muito pequeno hoje, não chegando nem a um décimo do que havia no século XX, e tende a diminuir a cada ano. Neste sentido, o Congresso Nacional deveria ser chamado de poder abolitivo e não de poder legislativo. Portanto, o número de repartições públicas e de funcionários públicos está diminuindo aos poucos desde que entramos neste século, e principalmente os trabalhos administrativos relativos à justiça, tais como os de polícia, fórum etc. se tornaram comparavelmente enxutos em relação aos tempos antigos.

Agora vou falar sobre a eleição geral. Que forma mais simples de se eleger é esta! Primeiramente, os candidatos anunciam sua candidatura e o boletim de eleição é publicado. Pense como era na época do século XX: o custo da campanha era de um milhão, dois milhões de ienes. Um absurdo!. Ela requeria dezenas de pessoas, chamadas de cabos eleitorais, e se somasse as despesas de condução, refeição, remuneração, cartazes, correio, impressão etc., chegaria à soma acima. Mas nem sempre os candidatos a deputado eram ricos. Pelo contrário, muitos dos políticos tinham pouca afinidade com o dinheiro e acabavam sendo levados a angariar fundo para a campanha eleitoral por meios escusos. Isso dava origem a diversos incidentes abomináveis, que acabavam levando-os ao tribunal. Acontece que hoje, cem anos depois, basta um anúncio no jornal, de modo que o custo não deve chegar a dez mil ienes, mesmo somando diversas despesas. Além disso, evita-se o desperdício de tempo dos candidatos e cabos eleitorais, contribuindo enormemente para a economia nacional.

Depois eu ouvi a explicação sobre o sistema econômico e fiquei novamente admirado. Veja que surpresa, leitor, “o povo é totalmente isento de impostos”. Como o povo sofreu com os impostos no século XX! Quando pensamos nisso, podemos perceber como é grande a felicidade do povo, mesmo considerando apenas este aspecto. Mas se não há imposto, como o governo consegue se manter? A pergunta é bastante pertinente, mas a explicação abaixo sobre a organização econômica deverá ser suficiente para tirar esta dúvida.

Vamos dividir a organização econômica em dois tipos. O primeiro é formado por grandes empresas, cujo lucro é dividido em três e distribuído da seguinte forma: uma parte vai para o governo, a outra vai constituir a renda dos capitalistas e a última parte é distribuída entre os profissionais, técnicos e operários. Por outro lado, os médios e pequenos comerciantes e industriários estão organizados em cooperativas, e o lucro deles é unificado por cooperativa e dividido em três, da mesma forma que no grupo de grandes empresas.

Relações internacionais entrarão em um estágio completamente novo. Fronteiras internacionais permanecerão mais ou menos como estão, mas perderão todo o significado prático, já que as discrepâncias de poder entre os países desaparecerão. Tem havido dois tipos de invasão na história – aquelas inevitáveis, se não justificáveis, e aquelas cometidas por questões territoriais ou outras ambições. De vez em quando, um país é compelido a procurar saídas para sua excessiva população, recorrendo à força militar, caso não consiga encontrar outro meio. Isto produziu guerras de agressão. Na Era do Dia, ou Mundo de Miroku, nenhum país ocasionará guerras de agressão contra outro, já que não haverá nem necessidade nem razão para invasão. No paraíso vindouro, nenhum conflito ocorrerá por causa de superpopulação. Por um lado, o ajuste pacífico na distribuição da população resolverá os problemas de países pequenos e povoados como o Japão. Uma Assembleia Mundial usará os mais justos e racionais meios para realocar o excesso de população para áreas menos povoadas. A Assembleia também encontrará soluções para outros problemas que poderão surgir. Seus representantes serão impassíveis frente a interesses nacionais ou particulares restritos, mas serão guiados exclusivamente por um perfeito senso de justiça. À parte da Assembleia Mundial, cada país continuará a ter algum tipo de Parlamento Nacional, cujos membros atuarão não na base de interesses pessoais ou partidários, mas no princípio do universalismo e amor pela humanidade. Ao invés de gastarem seu tempo com politicagem ou discussões sem sentido, ou, como vemos às vezes nos dias de hoje, lutando, eles trabalharão na eficiência e harmonia dos interesses que são importantes. O tempo que eles gastam em um debate será reduzido a uma fração do que é em muitos países atualmente. Um Parlamento Nacional na Era do Dia se reunirá somente uma vez a cada três meses para 3 sessões de meio dia. Menos tempo de reunião será necessário, já que haverá menos problemas políticos para resolver e menos leis para serem decretadas. Leis são necessárias apenas para restringir a conduta dos homens maus, mas em um mundo livre do Mal e repleto de boas pessoas, a necessidade de um sistema de leis será mínima. Conflitos de interesse também serão muito menos intensos do que hoje. Um Parlamento, então, terá a função apenas de tomar decisões nacionais em interesses que são essenciais para o funcionamento da sociedade.

A ideia de um governo mundial, tal como de vez em quando ouvimos falar hoje em dia, é, em si mesma, um passo à frente em direção ao Paraíso Terrestre. A Assembleia Mundial escolherá o presidente do governo mundial, cujo tempo de mandato será de 3 anos. Representantes para a Assembleia serão selecionados entre os membros de cada Assembleia Nacional na proporção da população do país.

Finalmente, o segundo tipo de invasão – como serão resolvidos os problemas das violentas guerras por ambições territoriais? Elas serão categoricamente finalizadas. Nenhum país terá nada parecido com forças armadas ou armamentos com os quais invadirá outro. Disputas internacionais, caso haja alguma, serão resolvidas pacificamente, bem como desequilíbrios populacionais, distribuição desigual de recursos ou riquezas e outras iniquidades serão resolvidas com imparcialidade e justiça. Assim, não há mais necessidade de escrever sobre essa questão.


[1] O artigo original, escrito por Meishu-Sama, se completa com o Ensinamento chamado “O Século XXI”, publicado em um folheto em 1948, em duas partes. O presente artigo, juntado dessas duas fontes, está, portanto, completo.