O lado psicológico da tuberculose, embora poucos lhe deem a devida atenção, é o aspecto mais relevante da moléstia. Quando uma pessoa é declarada tuberculosa, sofre um grande choque emocional. Perde a esperança no futuro e o mundo fica negro à sua volta. É como se tivesse recebido uma declaração de pena de morte, faltando apenas determinar o dia da execução. Para evitar essa reação, os médicos, ultimamente, vêm difundindo que a tuberculose é curável, mediante certos tratamentos e dietas. Mas os doentes, geralmente, não se tranquilizam, pois muito poucos têm saído dos sanatórios verdadeiramente curados. Em sua grande maioria, depois de receberem alta, sofrem recaídas e voltam ao hospital ou recebem tratamento domiciliar até morrerem. É natural, portanto, que a maioria das pessoas não acredite na propaganda segundo a qual a tuberculose é curável. Por isso, ao saber que está tuberculoso, o indivíduo é tomado pelo desânimo; perde a esperança, o apetite e a vitalidade e não consegue afastar a idéia de morte. Um triste quadro!
Compreendo muito bem esse estado psicológico porque eu também, aos 17 anos, fui declarado tuberculoso pelo renomado Dr. Irisawa. Não é bom, portanto, declarar a uma pessoa que ela está tuberculosa. Mas, como a terapia atual exige, além de repouso, tratamentos específicos, é impossível que ela ignore o seu mal. Os testes de tuberculina e os raios X são hoje considerados os meios mais precisos para o diagnóstico. Na minha opinião, é melhor não fazê-los. Quando uma pessoa que não tem nenhum sintoma perceptível e que se julga sadia ouve dizer que está tuberculosa, sofre um choque, tal qual um relâmpago num céu claro. O repouso instituído contribuirá para enfraquecê-la e, ao fim de alguns meses, será visível o seu emagrecimento.
Há tempos, conheci um homem forte e de compleição robusta, faixa preta de kendo[1]. Os resultados de um exame médico ao qual se submeteu revelaram uma tuberculose latente. Foi-lhe prescrito o repouso. O fato de ficar confinado ao leito, coisa que lhe parecia uma tolice, o impacientava e ele bufava, dizendo não suportar ficar deitado, uma vez que não sentia nenhum sintoma consciente. Seis meses mais tarde, entretanto, já estava pálido e tinha as faces encovadas. Seu rosto era o de um tuberculoso. Soube que ele morreu no ano seguinte. Fiquei penalizado. Se ele não tivesse feito aquele exame médico, penso que ainda estaria com plena vitalidade. Deve haver muitos casos semelhantes.
Nos achados de necrópsias, 90 entre 100 cadáveres apresentam sinais de terem adquirido a moléstia alguma vez, da qual se curaram. Esse fato é demonstrado estatisticamente, como é de pleno conhecimento médico. Eu sempre penso que, se não se fizessem exames médicos, o número de pacientes de tuberculose diminuiria bastante. Os médicos, porém, argumentarão que a tuberculose é uma moléstia contagiosa e excessivamente perigosa. Por isso, por medida profilática, é preciso descobri-la a tempo, mesmo porque o tratamento é mais eficaz quando instituído no início da moléstia.
Não me estenderei a respeito do diagnóstico precoce além do que já comentei acima. Falarei agora sobre um grande erro que se comete no tocante ao aspecto contagioso da doença. Eu asseguro que o bacilo da tuberculose não é contagioso. Sempre que eu faço essa afirmação, sou perseguido pelas autoridades, porque ainda se desconhece a etiologia da tuberculose.
Durante a Segunda Guerra Mundial, devido à existência de muitos soldados tuberculosos na Marinha, fui solicitado por esse Ministério a colaborar na solução do problema. Assim, enviei um dos meus discípulos à base aérea de Kasumigaura. Lá chegando, ele disse que a tuberculose não era contagiosa e enfureceu a tal ponto os médicos militares, que estes o dispensaram imediatamente, alegando que, se o conceito fosse adotado pela Marinha, a tuberculose não tardaria a espalhar-se por entre todos os militares. Entretanto, continuo a defender essa teoria, da qual tenho absoluta certeza. Primeiramente porque entre os meus adeptos – e são dezenas de milhares – não surgiu até hoje um único caso de contágio por tuberculose. Acrescente-se que durante vários anos mantive em minha casa um ou dois pacientes tuberculosos, a título de experiência. Nesse período, eu tinha seis filhos entre os cinco e os vinte anos de idade. Prossegui com a experiência durante mais de dez anos, sem que ninguém se contagiasse. Ainda hoje, os seis gozam de perfeita saúde. É claro que durante todo esse tempo não dispensei nenhum tratamento especial aos pacientes hospedados, sendo que, além de não empregar nenhum método de assepsia, não os segreguei do convívio dos meus familiares.
Há tempos, ouvi falar de uma viúva tuberculosa de cerca de 40 anos que, após o falecimento do marido, não tinha para onde ir, porque os seus parentes e amigos temiam o contágio. Tive pena e a acolhi sob o meu teto. É claro que ninguém se contagiou. Com o passar do tempo, ela readquiriu a saúde normal e continua a trabalhar até hoje em minha casa, onde ninguém se preocupa com tuberculose, pois sabem que, ainda que se contaminassem, seriam facilmente curados. Só o fato de acreditar que a tuberculose não é contagiosa proporciona aos meus adeptos uma grande tranqüilidade. No mundo, porém, as pessoas estão sempre em estado de alerta e o temor do contágio tem gerado inúmeras tragédias. A vida familiar se desmorona pela segregação do paciente, ao qual são destinados pratos, talheres, roupa de cama e objetos de uso pessoal separados. Esposos, pais e irmãos são impedidos de se falarem de perto. Mas, a darmos crédito no que diz a medicina, não se pode agir de outra maneira.
Citarei outro caso interessante. Certa vez, uma moça de 16 ou 17 anos que vivia numa comunidade agrícola foi declarada tuberculosa e passou a viver segregada, pois construíram-lhe uma casa separada. A casa ficava à beira da estrada e as pessoas passavam correndo, cobrindo a boca. Ao ouvir essa história contada pela própria moça, lembro-me de ter dado boas risadas. É uma história tragicômica, mas havia uma lógica na atitude das pessoas, uma vez que temiam o contágio pelo ar.
Quando há um tuberculoso numa família, os seus parentes não conseguem livrar-se da preocupação do contágio a qualquer momento. Tomam o máximo cuidado para não se resfriarem mas, quando, por acaso, apanham uma gripe, pensam que finalmente se contagiaram. Aflitos, recorrem ao auxílio do médico e dos remédios. O medo, aliado às toxinas dos medicamentos e à paralisação da purificação, acaba gerando a tuberculose. Eis por que ainda perdura a tese do contágio. Para provar o contrário, seria interessante escolher entre os meus adeptos um número de indivíduos – que poderia chegar a 10 ou 20 mil – para uma experiência definitiva.
Outra causa da tuberculose é de ordem espiritual. O espírito de uma pessoa que morreu de tuberculose pode encostar-se em algum dos genitores, irmãos, parentes, amigos íntimos ou na pessoa com a qual manteve uma ligação amorosa. Esta manifestará, então, os mesmos sintomas do falecido, dando a impressão de ter havido contágio. Isto será melhor compreendido nos capítulos subsequentes, quando tratarei mais extensamente do problema da possessão.
Ultimamente, têm-se registrado alguns surtos de tuberculose nas escolas primárias. Nesses casos, as pesquisas sempre revelam a presença de um ou dois professores portadores de tuberculose ativa. Surge então o clamor, responsabilizando-se esses indivíduos como tendo dado origem à contaminação. Na realidade, isto não é uma exceção, pois a regra é encontrarmos sempre, após um exame rigoroso, a existência de duas ou três pessoas com tuberculose ativa em qualquer escola, e não somente naquelas nas quais se verificaram os surtos. Portanto, não se pode dar muita credibilidade à teoria da contaminação.
[1] Kendo: arte marcial com espadas.