CAPÍTULO 5 – SAÚDE E LONGEVIDADE

Farei aqui uma exaustiva análise crítica da medicina. Antes, porém, devo escrever sobre a saúde e a longevidade. Se a medicina contemporânea fosse uma autêntica arte de curar, deveria, logicamente, reduzir a cada ano o número de doentes e prolongar paulatinamente a vida. Bastariam algumas centenas de anos para que a tuberculose[1] e as epidemias, consideradas os problemas mais difíceis da atualidade, fossem exterminadas, e para que os sofrimentos decorrentes das enfermidades se tornassem uma lenda do passado. A realidade, entretanto, nos mostra exatamente o contrário, deixando claro que não se trata de uma autêntica medicina.

Quando o Criador criou o ser humano, determinou claramente a duração de sua vida. Esta, como me foi mostrado por Deus, deveria ser de 120 anos no mínimo, com possibilidades de se chegar até aos 600 anos. Se os homens, portanto, não incorressem em erro, poderiam atingir normalmente a idade de 120 anos, e sua existência seria então repleta de esperanças. Além de uma vida longa, gozariam sempre uma saúde vigorosa sem jamais se preocuparem com doenças. E a Terra se tornaria realmente um Paraíso.

Mas em que consiste o erro? A causa, por incrível que pareça, é precisamente a medicina. Ilustrarei a tese dos 120 anos com uma alegoria, dividindo a vida humana em quatro estações: primavera, verão, outono e inverno. Janeiro, fevereiro e março são os três meses da primavera[2]. Considerando como Ano Novo o dia do nascimento, em janeiro temos o período da infância. Fevereiro, quando as ameixeiras se cobrem de flores, corresponde ao período da adolescência. E, na época em que começam a florir as cerejeiras, o homem tornou-se independente, lançando-se no mundo. Segue-se o mês de abril, quando a floração das cerejeiras atinge o seu clímax. Nesse período, que se estende até os 40 anos, o homem, de coração alegre e despreocupado, está no auge de suas atividades.

Dizem que aos 42 anos o homem atinge uma idade crítica. Poderíamos compará-la ao período em que desabam as tempestades, despetalando as flores da noite para o dia. Nos meses de maio, junho e julho, que correspondem à estação do verão, novas e luxuriantes folhagens verdes começam a brotar, até que os galhos fiquem pesadamente carregados de frutos. Passada essa estação, a temperatura começa a declinar e chega finalmente o outono, época de sazonamento e do início das colheitas. Assim também é com o ser humano, que vê amadurecerem, nessa época, os frutos de seu árduo labor de longos anos. Concluída uma fase de seu trabalho, ele adquire respeitabilidade e, enquanto vê os seus netos se multiplicarem, ingressa no ditoso período final de sua vida. Fazendo uso de suas diversas experiências e da confiança que granjeou, dedica-se a ajudar os outros e a beneficiar o mundo, na medida de suas possibilidades. Ao fim desse decênio, tendo atingido os 90 anos, começa a estação invernal, e o homem pode passar o resto de seus dias apreciando a Natureza. A menos que prefira prosseguir com suas atividades, pois tem condições de trabalhar até o fim de sua existência.

Pelo exemplo citado, vemos que a duração da vida coincide perfeitamente com as quatro estações. Esse ponto de vista é o mais apropriado para substanciar a tese dos 120 anos. Quando as terapêuticas medicinais tiverem desaparecido, viver até os 120 anos não será algo prodigioso.

Vários são os métodos de tratamento médico existentes, mas, até o século XX, os mais empregados foram os medicamentos. Utilizados durante séculos, produziram muitas enfermidades. Como as doenças foram criadas pelos remédios e como se tenta curá-las por meio de remédios, é natural que as moléstias se agravem e que diminua, ao mesmo tempo, a duração da vida humana. A melhor prova do que foi dito é que as variedades de moléstias não diminuíram, como deveria ocorrer, com os progressos da medicina. Ao contrário, o seu número aumenta em proporção ao surgimento de novas espécies de medicamentos.

Há outro fato importante, geralmente negligenciado. Se a medicina pudesse verdadeiramente curar enfermidades, a saúde dos médicos e de seus familiares deveria ser muito superior à dos demais indivíduos, e não inferior, como é na realidade. Entre os doutores, são os médicos, como se sabe, os que têm a vida mais curta, e os membros de suas famílias são mais fracos. Excetuando-se os óbitos devidos a desastres ou acidentes, quase todas as mortes, hoje em dia, são causadas por enfermidades. E a agonia é geralmente tão penosa que muitos doentes chegam a implorar que os matem de uma vez, para não terem de suportar tantos sofrimentos.

Qual a razão de tais padecimentos? É que as pessoas morrem antes de haver chegado a sua hora, como galhos que são partidos à força. Quando as folhas das árvores secam e caem, quando a grama murcha ou quando os cereais são colhidos depois de amadurecidos, o seu ciclo de vida concluiu-se de modo natural. Mas se uma folha é arrancada enquanto ainda está verde ou se uma espiga de arroz é colhida antes de amadurecer, trata-se de um processo antinatural. A morte deve ser sempre natural. Contudo, a vitalidade do homem moderno está de tal modo debilitada, que mesmo quando morre de morte natural, geralmente não chega além dos 90 ou 100 anos de idade. Deus deu ao ser humano pelo menos 120 anos de vida e criou-o para que possa trabalhar sem sofrer enfermidades. Mas os homens, em sua estultice, incorreram no erro, criaram os sofrimentos decorrentes das doenças e encurtaram a vida. Faltam-me palavras para expressar tão dolorosa ignorância.

[1] Na época em que Meishu-Sama escreveu estas palavras, a tuberculose vitimava grande número de pessoas, no Japão.

[2] No Japão a primavera começa efetivamente em janeiro.

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