Para que o Reino dos Céus se estabeleça neste mundo, há uma condição fundamental: a expulsão do Mal, armazenado no fundo do coração da maioria dos homens, hoje em dia. De modo geral, as pessoas dotadas de bom senso desaprovam o Mal e evitam o seu contato. Sistemas éticos e morais foram criados para condená-lo. Esta é também a principal meta da educação, enquanto as religiões aconselham a praticar o Bem e a rejeitar o Mal. Em todas as camadas sociais, admoestações contra o Mal são feitas de pais para filhos, entre os cônjuges e entre superiores e subalternos. Inexplicavelmente, porém, a despeito de todos esses esforços, há no mundo muito mais homens maus do que bons. Em cada dez pessoas, pode-se dizer que nove são más, em maior ou menor escala. Em rigor, a proporção dos bons não chega a perfazer um décimo da humanidade.
Há vários tipos e graus de homens maus. O primeiro tipo, por exemplo, é o dos que são perversos do fundo do coração, causando o mal deliberadamente. O segundo é o dos que o fazem inconscientemente. O terceiro é o que o comete por ignorância. E o quarto é o dos que incidem no Mal acreditando tratar-se de um bem. Não há necessidade de explicar o primeiro tipo. O segundo é o mais comum. No terceiro inserem-se os povos etnicamente bárbaros e, individualmente, os dementes, débeis mentais, crianças etc., razão por que não chega a constituir um problema. O quarto tipo é o mais nocivo, devido à firmeza e ao fervor com que se comete o Mal, persuadido de estar praticando o Bem. Mais adiante[1] estender-me-ei sobre esse ponto. Por ora, examinemos o mundo do Mal visto pela perspectiva do Bem.
Bastaria lançar um olhar abrangente ao mundo de hoje para deduzir que se trata de um mundo totalmente dominado pelo Mal. Desde a Antiguidade, muitos têm sido os exemplos de homens bons atormentados pelos maus. Jamais ouvi dizer, porém, que homens maus tenham sido maltratados por homens bons. Os maus sempre contam com muitos aliados, ao passo que os bons, normalmente, têm poucos aliados. Os maus são geralmente poderosos, desprezam as leis e caminham despreocupados pelo mundo. Os bons, ao contrário, vivem oprimidos ou atemorizados. Tal é a imagem da sociedade. Os bons, por serem fracos, sempre foram oprimidos pelos maus, que são fortes. Como contestação a esse contra-senso, nasceu, espontaneamente, a democracia. No Japão, devido à mentalidade feudal predominante, prevaleceu, durante longos anos, uma sociedade em que os fortes dominavam os fracos. Felizmente, graças a uma potência estrangeira, instituiu-se a democracia. No Japão, portanto, a democracia não surgiu espontaneamente; foi antes um efeito natural. Não sou o único, entretanto, a pensar que a democracia ainda não criou raízes firmes. Muitos resquícios de feudalismo ainda persistem em muitas camadas da sociedade japonesa.
Vejamos, porém, a relação entre o Mal e a cultura. O surgimento da cultura deveu-se, basicamente, ao conflito entre o Bem e o Mal. A História nos mostra claramente que, nas eras primitivas e selvagens, os fortes, inicialmente, atormentaram os fracos, privando-os de sua liberdade, matando, saqueando e torturando-os arbitrariamente. Em conseqüência, os fracos tiveram de inventar toda sorte de medidas defensivas. Produziram armas, levantaram cercas, desenvolveram os meios de transporte. Individual e coletivamente, dedicaram-se a todos os tipos de invenções, o que contribuiu enormemente para o desenvolvimento da cultura. Assim, pouco a pouco, desenvolveu-se a intelectualidade, surgiram métodos de escrita e estabeleceram-se os primeiros acordos entre grupos, dos quais se originaram os atuais tratados internacionais. Para refrear o Mal, a sociedade criou leis e sanções punitivas, cuja formulação deu origem às legislações atuais. Mas, em verdade, não é fácil eliminar o Mal do ser humano. O desenvolvimento do intelecto propiciou ao Mal meios ainda mais engenhosos. Assim, desde as épocas mais primitivas da humanidade, prosseguiu ininterruptamente o conflito, com os bons defendendo-se da devastação provocada pelos maus. Em conseqüência, sabe-se o quanto progrediu a inteligência e o quanto se desenvolveu a cultura. Esse processo envolveu um grande número de vítimas, mas pode-se dizer que isto foi inevitável. De qualquer modo, a era da luta entre o Bem e o Mal prossegue até hoje.
Foi precisamente para aliviar o sofrimento dos bons que surgiram, de tempos em tempos, os grandes religiosos. Em seus ensinamentos, procuraram limitar os desejos materiais, colocaram em primeiro lugar as idéias baseadas na resignação e ensinaram a obediência. Ao mesmo tempo, para infundir esperanças no futuro, profetizaram o advento de um mundo ideal, o Reino dos Céus na Terra, o Mundo de Miroku. Por outro lado, empenharam-se ao máximo para pregar a Lei de Causa e Efeito e procuraram induzir os perversos a se arrependerem o mais rapidamente possível. Mas para difundir os seus ensinamentos, sofreram sucessivos martírios e tiveram de suportar perseguições tirânicas e sangrentas. Esses homens obtiveram notáveis resultados, mas nada puderam fazer contra a tendência geral. Os ateus, por outro lado, elaboraram a ciência e esforçaram-se para, através de meios materiais, proteger a humanidade das desgraças resultantes do Mal. Em conseqüência, a ciência progrediu e a cultura produziu frutos muito superiores a qualquer expectativa. Surgiram, porém, dificuldades inesperadas, pois o lado mal também começou a utilizar-se dos progressos da ciência. Podemos notar claramente que, quanto mais potentes se tornam os armamentos, maior é a escalada das guerras. O resultado é a bomba atômica, cristalização de um horror jamais imaginado. Ao saber de sua descoberta, muitos se alegraram, pensando que as guerras haviam chegado ao fim. Mas não tardou a surgir o perigo de sua utilização pelo lado do Mal, agravando-se ainda mais a intranquilidade. Não obstante, é certo que se aproxima o tempo em que se tornará impossível deflagrar uma guerra. Quando meditamos profundamente sobre essas coisas, notamos um fato curioso: o mesmo Mal que criou a guerra será o Mal que porá fim á guerra. Podemos perceber assim que tanto o Bem como o Mal fazem parte integrante do Plano Divino.
Tanto as pessoas que estão do lado da cultura espiritualista como as que estão do lado da cultura materialista, excetuando-se as que são más do fundo do coração, anseiam por um mundo ideal de paz e felicidade. A questão é saber se tal mundo é realmente possível e, em caso afirmativo, quando chegará o tempo de sua realização. Como, no momento, não existe nenhuma perspectiva nesse sentido, agrava-se cada vez mais o sofrimento da humanidade. Muitas pessoas bem intencionadas, mas cercadas pelas nuvens da dúvida, não conseguem enxergar uma saída para os seus problemas. Algumas a procuram na religião, enquanto outras a buscam na filosofia. A maioria procura promover o progresso da ciência, por acreditar que somente esta poderá trazer a solução. Mas a ciência tampouco parece oferecer muitas esperanças e os seres humanos se sentem num beco sem saída. Enquanto isso, a humanidade continua afligida por três grandes calamidades: doença, pobreza e guerra, continuamente, sem alternativas.
Eu soube, por Revelação Divina, a razão de todas essas coisas, que exporei nesta obra a fim de serem corrigidos os erros de toda a cultura.
Voltemos, porém, à questão inicial: se é do Mal que provém a infelicidade do ser humano, por que permite Deus a existência do Mal? Até hoje, nem as religiões nem a ciência tocaram nessa questão, renunciando à tentativa de elucidá-la. É impossível, para o intelecto humano, perscrutar esse problema altamente complexo e inescrutável. Mas, enquanto essa questão não for esclarecida, será impossível estabelecer uma verdadeira civilização. Por isso, revelarei agora a significação fundamental do Mal. Em verdade, a existência do Mal na Terra foi necessária até agora e constituiu, até hoje, o mistério do mundo.
De todos os males, os mais ameaçadores para a humanidade são as duas grandes calamidades: guerra e doença, porque afetam a vida humana. A guerra, evidentemente, é a maior das tragédias, porque ceifa grande número de vidas. Para escapar a essa calamidade, os homens envidaram o máximo de seus esforços e de sua inteligência, o que impulsionou extraordinariamente o progresso da cultura. Veja-se o magnífico desenvolvimento alcançado por todos os países, sem exceção – vitoriosos ou derrotados – no período do pós-guerra. Sem guerras, a cultura, provavelmente, teria permanecido até hoje em seu estado primitivo, apresentando, quando muito, algum pequeno progresso. Assim como dois fios, torcidos um com o outro, formam um cordão, foi através das vicissitudes da guerra e da paz que evoluiu, gradativamente, a cultura. Curiosamente, a mesma verdade se aplica à sociedade e ao destino do próprio homem. É claro, portanto, que os conflitos entre o Bem e o Mal nada mais são do que degraus para o progresso. Podemos ver, assim, que o Mal vem desempenhando um grande papel. Sua duração, porém, não será eterna, mas limitada. Tal é a vontade do Supremo Deus que governa o mundo. Em termos filosóficos, é o Ser Absoluto, a Vontade Cósmica. Em outras palavras, trata-se do Fim do Mundo profetizado por Jesus e o subseqüente advento do Reino dos Céus, tão ansiosamente aguardado pela humanidade: um mundo de Verdade, Virtude e Beleza, isento de doenças, pobreza e conflitos, o Mundo de Miroku, etc. Os nomes diferem, mas o significado é o mesmo. Em síntese, é o mundo onde o Bem terá triunfado sobre o Mal.
Mas, para a criação de um mundo tão maravilhoso, é necessária uma preparação adequada. Todos os requisitos, tanto espirituais como materiais, deverão estar preenchidos. Na ordem da preparação, Deus antecipou a da parte material, porque a elevação da parte espiritual pode ser instantânea, ao contrário da parte material, que é mais difícil e requer um longo período de elaboração. Ao mesmo tempo, foi preciso que o homem, antes de tudo, descurasse a existência de Deus. Em conseqüência, a mente humana inclinou-se, naturalmente, para a parte material. Assim nasceu o ateísmo. O pensamento ateísta foi necessário para a criação do Mal. E assim nasceu o Mal que, gradativamente, se fortaleceu, afligindo o Bem, insuflando lutas e atritos, mergulhando a humanidade nos abismos do sofrimento. Os seres humanos, debatendo-se em agonia, empenharam-se ao máximo para escapar de tão penosa situação. Isto foi indubitavelmente trágico, mas imprescindível, pois impulsionou o desenvolvimento da cultura.
Assim terão compreendido, de modo geral, o sentido básico do Bem e do Mal. Agora é finalmente chegado o tempo da expulsão do Mal. Encontramo-nos na linha divisória a partir da qual o Bem trocará de lugar com o Mal, cuja situação já não é tão fácil. Não se trata de mera suposição, esperança ou conjetura minha, mas do despontar do programa de Deus no Plano mundial. Acreditem ou não, este é o destino decisivo da humanidade. A roda do Mal será sustada. A cultura, até agora livremente manipulada pelo Mal, voltará para as mãos do Bem. Assim, ingressamos na fase do estabelecimento do Reino dos Céus na Terra.
[1] Na terceira parte do livro.