051 – OS OITO GRANDES DRAGÕES REIS E A RETIRADA DO DEUS-ANCESTRAL DO JAPÃO

Os oito grandes dragões reis[1] e a retirada do deus-ancestral do Japão[2]

 

Kunitokotati-no-Mikoto estabeleceu sua morada na região de Ayabe[3] (Nos textos da religião Amatsu-kyo[4], seu nome aparece como Imperador Kunitokotati). Ele se retirou, conforme a opinião das outras divindades, e mudou-se para o monte Ashibetsu[5].

Na região de Ayabe, existe o costume de dizer “demônio para fora, felicidade para dentro[6]”, o que não é algo sem fundamento por se tratar de uma interpretação feita através do Ofudesaki[7] da religião Oomoto.

Naquela época, as divindades do mundo dos deuses corretos estavam com medo por ter se tornado um mundo de divindades malignas, por isso, tornaram-se budas. Dentre os líderes, teve aquelas que não aceitaram se tornar um buda. Dentre elas, as divindades do hattchu[8] fizeram um apelo para Sakyamuni, que disse ser necessário que elas se tornassem ryujin[9], transmitindo-lhes assim uma ordem.

Os oito grandes dragões reis se tornaram ryujin e se ocultaram nos limites territoriais da ilha de Sado[10] e Etchigo[11], nas baías de Tokyo e Kyushu[12], no lago Towada-ko[13] etc. Com a chegada do momento, elas se elevaram, assumiram aspectos de seres humanos e estão atuando. Obviamente, o ser humano não tem ciência desse fato. O comandante-geral das divindades malignas é Amanowakahiko[14]. Deveras, ele é Amanojaku[15]. Naquela época, havia a ligação continental com a península coreana e a China. Eis a razão pela qual foram encontrados fósseis de mamutes quando fizeram as escavações da Matsuzaka-ya[16] em Ueno, sendo o mesmo motivo das encontradas em Kyushu.

O espírito de Kunitokotati-no-Mikoto tornou-se Enma Daio[17] e o seu corpo tornou-se Kanzeon Bossatsu. Ele também nasceu inúmeras vezes neste mundo. Existem, dentre as divindades corretas, aquelas que perderam para as divindades malignas, e se tornaram malignas também.

Alguns serviçais do deus-ancestral também caíram junto com elas. Eles surgirão no mundo daqui para frente. No Mundo Espiritual, o deus-ancestral já apareceu.

Durante o mundo da noite, ele criou o Budismo como forma de prevenir o domínio das divindades malignas.

Amaterasu Ookami, devido ao fato de Susanoo-no-Mikoto[18] ter quebrado o juramento dos Céus, mudou várias vezes de lugar; foi para Ame-no-manai[19], Moto-Ise[20], fugiu para monte Minakamiyama[21], onde construiu uma simples morada de palha, e viveu seus últimos dias na montanha Tokakushi[22]. Realizei um culto de homenagem póstuma neste local. Ou seja, no Santuário Ise. Todavia, isto é algo muito mais recente, quando comparado com a era dos deuses-ancestrais.

 

1948

Traduzido pela Equipe do Jinsai.org

 

[1] N.T.: Tradução literal de “hatchidairyuou”. Tratam-se de oito reis de uma família de dragões, citados no sutra do lótus como guardiões do Budismo.

[2] N.T.: O original, “kokuso” (deuses-ancestrais), é um termo para expressar as divindades da mitologia japonesa responsáveis pela criação do Japão e do mundo. Geralmente, o termo é associado ao deus-ancestral Kunitokotati-no-Mikoto.

[3] Ayabe: Cidade japonesa localizada na província de Kyoto, que é o berço da religião Omoto.

[4] Amatsu-Kyo: Nova religião japonesa que surgiu no início da era Showa (1926-1989). Em 1952, após a criação da Lei das Novas Religiões, passou a chamar-se Kouso Kodaijingu Amatsu-Kyo.

[5] Ashibetsu: Montanha localizada na região central da ilha de Hokaido, norte do Japão.

[6] N.T.: No Japão, o setsubun (“divisão das estações”, em tradução livre) é realizado no dia 3 de fevereiro, véspera do Risshun (Início da Primavera). Trata-se de um ritual de purificação dos males do ano anterior e afastamento dos demônios e doenças. Na sociedade, diz-se “felicidade para dentro, demônios para fora”, mas a religião Omoto explica que devemos levar a felicidade para outras pessoas.

[7] Ofudesaki: Livro psicografado que contém os ensinamentos de Nao Degutchi (1837-1918), fundadora da religião Oomoto.

[8] Hattchu: Literalmente “oito colunas”. São oito divindades que governam as oito direções.

[9] Ryujin: “Deus dragão”, em tradução livre, é a divindade cultuada como a o deus protetor de um lago, córrego, rio ou mares, que nas lendas japonesas é considerado um ser divino.

[10] Sado: Referência à ilha de Sado, localizada no mar do Japão próximo à província de Niigata, região central da ilha principal do arquipélago japonês.

[11] Etchigo: Antigo nome da região territorial que atualmente se encontra a província de Niigata. Era localizada na região centro-norte do Japão, na costa do mar do Japão.

[12] Kyushu: Terceira maior ilha do arquipélago japonês, localizada ao sul.

[13] Lago Towada: Maior lago de cratera na principal ilha do arquipélago japonês. Está localizado nas províncias de Akita e Aomori, ao norte do Japão.

[14] Amanowakahiko: Divindade da mitologia japonesa que governou Ashiharanonakatsukuni (região entre Takaamahara – local onde vivem os deuses da mitologia japonesa – e Yomi-no-Kuni – Mundo dos mortos).

[15] Amanojaku: Geralmente, é descrito como um pequeno demônio que consegue despertar os desejos mais sombrios em uma pessoa.

[16] Matsuzaka-ya: Rede de Lojas de Departamento estabelecida em 1611, com sede na cidade de Nagoya.

[17] Enma-Daio: Divindade responsável pelo julgamento, após a morte, dos pecados cometidos pelos homens em vida.

[18] Susano-no-Mikoto: Divindade que, na mitologia japonesa, é considerado o deus do mar e das tormentas.

[19] Ame-no-manai: Fonte de águas subterrâneas situada na cidade de Yonago, província de Tottori.

[20] Motoise: Referência ao Santuário Xintoísta Ise dedicado a Amaterasu, situado na cidade de Ise, província de Mie.

[21] Minakamiyama: Montanha ao norte da província de Nagano.

[22] Tokakushi: Montanha localizada na província de Nagano, famosa por ser considerada um local de retiro espiritual e meditação.