Em vista de ter ido outro dia à "Exposição do Instituto Japonês de Artes" deste ano, como de costume registrarei, aqui, algumas das minhas impressões. Inicialmente, ao entrar no primeiro salão, senti, ao dar uma olhada, que algo estava diferente de sempre. Usualmente, expõem-se, no referido salão, peças de pintura japonesa. Contudo, este ano, havia apenas quadros de pintura ocidental. Intrigado com aquilo, consultei-me com o meu acompanhante, pelo que obtive a resposta de que tudo ali era pintura japonesa. Ante tal revelação, esfreguei os meus olhos e procurei olhar melhor, com esse intento. Claramente, todas as obras eram peças de pintura ocidental executadas com pigmentos nipônicos! Meu susto, então, foi duplicado. Depois, apreciando, gradativamente, as peças, cheguei à conclusão de que a pintura japonesa dessa mostra desaparecera, tendo, por limite derradeiro, a do ano anterior. A nossa saudosa pintura japonesa, que se orgulha de uma tradição de um milênio, tivera, na mencionada exposição, seu fim declarado! Ao pensar em tal decadência, confesso não conter um fio de lágrimas a me escorrer pela face.
Desta maneira, eu me pus longamente a meditar. Afinal, o que acontece? É incompreensível. Não devo ser só eu quem julgue existir uma razão para tal. Foi aí que me veio à mente a situação hodierna da sociedade. Haverá, além dessa, várias outras causas, mas, indiscutivelmente, a principal é a mania do japonês de adorar as coisas do Ocidente. Indo diretamente ao assunto, tomemos o exemplo do "jazz", recentemente em voga entre os jovens; da maquiagem; do penteado e das roupas das moças. É de assustar a escandalosa densidade da presença das maneiras norte-americanas em todos esses tipos de comportamento. Vejamos, ainda, os anúncios de jornais: nos textos dos comerciais de cosméticos e produtos farmacêuticos, destacam-se, infalivelmente, frases alusivas aos Estados Unidos. Assim, a difusão da cultura norte-americana é algo estupendo. Em síntese, esta onda invadiu até mesmo o campo das Artes. Naturalmente, no caso da Pintura, a onda provém da França, mas, de qualquer forma, não deixa de ser adoração das coisas ocidentais. No tocante a tal influência, fiz uma retrospectiva da História da Pintura no Oriente e no Ocidente. Tem-se, primeiramente, no Japão, a pintura japonesa inicial, da Era Higashiyama. Naquela época, importaram-se, profusamente, peças de pintura das dinastias Sung e Yuan da China, das quais a Escola Kano tirou inspiração para o seu surgimento. Dentre os pintores famosos da época, podem ser citados desde Sesshu, Shubun, Keishoki e Dasoku até Soami, Geiami, Noami, Motonobu e Sesson. Com o início da Era Momoyama, surgiram, seguidamente, artistas de renome e grandes mestres como Yusho, Tohaku, Togan, Sanraku, Eitoku, Tannyu e outros.
Entrementes, há algo de especial, nessa época, digno de ser notado. É o aparecimento de Sotatsu e Koetsu, os criadores de um estilo de pintar revolucionário, manifestador do senso peculiar do japonês, rompendo de maneira esplêndida com a pintura nipônica que, até então, não pudera desvencilhar-se um passo sequer dos moldes tradicionais da China. Além disso, com o passar de centenas de anos, no encetar da Era Genroku, os dois irmãos Korin e Kenzan produziram uma arte ainda mais avançada, trilhando as pegadas dessa mesma corrente. Todavia, curiosamente, também na Europa, aconteceu um fenômeno que veio a coincidir com este que acabo de comentar. Desde a Idade Média, a Arte Pictórica desenvolveu-se intensivamente e culminou com o realismo exclusivo. Concomitantemente, o estilo renascentista, que se emparelhara com tal tendência, chegou — ainda que temporariamente — a dominar, de maneira revolucionária, o Artesanato fino de todo o continente europeu da época. Porém, de forma idêntica ao acontecido com a Pintura, este estilo também chegou a um impasse. Quando não havia mais solução, repentinamente, houve o surgimento de Korin. Basta dizer que esse estilo era o contrário dos padrões até então vigentes: ousado, sendo sóbrio; a tudo omitindo, expunha, plenamente, a essência do objeto. Tal técnica não podia deixar deslumbrado quem a visse. Desnecessário dizer que o acontecimento foi como um abrir de olhos graças a um farol aceso em mar tenebroso, ocasionando uma guinada de cento e oitenta graus. Desvendou-se, a partir desse momento, uma senda de possibilidades infinitas: é, pois, adequado afirmar que Korin — aquele que, de fato, salvou a pintura européia — constitui motivo do maior orgulho para os japoneses. Posteriormente, sob o estímulo da xilogravura ukiyo-e, representada por Sharaku, Utamaro, Hokusai, Hiroshige e outros, os pintores europeus, revigorados por esse hábito vital do Oriente, começaram a avançar com brio, surgindo daí as correntes impressionista e pós-impressionista. Foi a época em que despontaram, seguidamente, gênios como Cezanne, Van Gogh, Gauguin e Renoir, dentre outros. Conformou-se aqui o estilo moderno da Pintura. Deste modo, ao confrontar o histórico da pintura oriental e da ocidental, cheguei à seguinte conclusão: a reprovável tendência, hoje verificada no Oriente, de imitar a pintura ocidental, mais cedo ou mais tarde, chegará a um impasse. Contudo, como acredito poder contar com o aparecimento repentino de um gênio fabuloso que rompa tal casca, considero a atual febre de adoração da pintura ocidental uma fase desse processo, não vendo, pois, necessidade alguma de incorrer em pessimismo.
Passemos à Escultura. Seria acertado dizer que também não foge à tendência geral. Quanto aos trabalhos de artesanato fino — para dizer com franqueza —, são horríveis de se ver. Se por um lado não satisfazem aos moldes da antiga tradição, por outro, não são capazes de imitar o Ocidente: há não apenas as restrições impostas pelos hábitos e costumes nipônicos, mas a questão do material. Mesmo assim, constata-se a vontade enérgica de produzir algo novo. Todavia, pela presença de rastros do processo de ansiedade e agonia para que se lograsse tal resultado, a impressão tida não agrada. Mas, uma vez que, também, o artesanato fino acompanha, de maneira básica, o caminhar da Pintura, é inevitável que, temporariamente, evolua nas condições atuais. Assim, coloquei no papel o que realmente pude sentir em visita à "Exposição do Instituto Japonês de Artes".
Jornal Eiko, nº 236 — 25 de janeiro de 1953