Eu sou Mokiti Okada, Líder Espiritual da Sekai Meshiya Kyo. É uma honra para mim a visita dos senhores, pessoas de cotidiano atarefadíssimo, nos dias de hoje. Agradeço-lhes profundamente. O motivo que me levou, em especial, a solicitar a sua apreciação do Museu de Arte antes de inaugurá-lo, foi o desejo de submetê-lo à crítica dos senhores, que são homens de discernimento artístico, bem como pela vontade de expor um pouco da minha aspiração. Ora, o ideal original da religião reside na construção do Mundo da Verdade, do Bem e do Belo; a Verdade e o Bem são elementos espirituais, mas o Belo é aquilo que, por intermédio da visão, enobrece a alma humana. Os senhores sabem o quanto floresceu a Arte religiosa tanto, como é do seu conhecimento, no Ocidente, desde a Grécia e Roma até a Idade Média, naturalmente, quanto no Japão, desde a época do Príncipe Shotoku até o Período Kamakura. Portanto, o fato de a Religião ter sido a geratriz da Pintura, da Escultura, da Música e de toda a Arte é uma realidade incontestável.
Todavia, com o aproximar da atualidade, tal fato foi debilitando-se gradativamente, e a Religião e a Arte acabaram por ficar uma longe da outra. Com a influência dos efeitos da ciência moderna, ouve-se sempre que a religião se encontra estagnada. Por tal razão, eu penso que a Religião e a Arte devem, infalivelmente, avançar em íntima conexão.
Após este comentário, desejo, agora, falar algo sobre o caráter nacional do Japão. Originalmente, todos os países existentes sobre a face da Terra têm, respectivamente, da mesma forma que as pessoas, suas concepções e culturas características. No caso do Japão, tal evidência consiste em contribuir para elevar a cultura, deleitando o gênero humano por intermédio da Arte, o que deve ser perfeitamente compreensível quando, apenas, levamos em consideração tópicos, tais como o fato de que a beleza paisagística japonesa é particularmente notável, pela profusão das suas espécies de flores, plantas e árvores, pela agudeza da percepção artística e pela excelência da técnica manual do japonês. Entretanto, por ignorar semelhante base, o resultado de ter despertado em si uma ambição por demais descomedida como é a guerra, conduziu-o à experiência miserável daquela derrota militar. Desnecessário é dizer que o fato de o Japão ter acabado, além do mais, privado de suas armas, de modo a não mais promover guerras, foi, sem dúvida, um ato de Deus a despertar o japonês para a sua verdadeira missão. É verdade que, nestes últimos dias, fala-se, ruidosamente, em rearmamento, mas isso se trata apenas de um meio de defesa, não assumindo, obviamente, significado maior.
Pelo exposto, o caminho que doravante o Japão deve seguir é por si só evidente. Eu, que já me conscientizara disto, acreditando que a paz e a prosperidade adviriam sem falta, desde que se as tivesse por objetivo, vim marchando com esta convicção, não obstante a debilidade de minhas forças. E, como método concreto disso, primeiramente, eu construí o pequeno Paraíso da Beleza, com projetos de revelá-lo ao mundo. Os sítios adequados a tais requisitos são, diga o que se disser, Hakone e Atami, locais perfeitos pela extrema facilidade de acesso e beleza paisagística, bem como pela existência de águas termais e por seu excelente clima. Assim, escolhendo terrenos particularmente pitorescos nos dois mencionados sítios, intentei edificar neles o lugar ideal da Arte, onde a beleza natural se coaduna com a artificial: o que finalmente ficou pronto foi este Paraíso Terrestre e o Museu de Belas-Artes. Quanto a este último, como é do conhecimento dos senhores, no Japão, até hoje, não houve sequer um único museu de arte tipicamente japonês. Havia museus de arte chinesa e de arte ocidental, bem como a Arte religiosa dos museus gerais, de forma que nos encontrávamos numa situação tal que, conquanto fôssemos japoneses, era-nos impossível apreciar a arte japonesa. Assim, caso, hipoteticamente, um estrangeiro viesse agora ao Japão e quisesse ver alguma coisa típica, seria impossível satisfazer seu desejo. Não seria essa, então, a maior deficiência do Japão como o país da arte? Assim, se este museu de arte puder suprir, um pouco que seja, essa falha, eu sentirei que fui recompensado muito além de minhas esperanças.
Há mais um fato do qual desejo que os senhores fiquem cientes. Posto que houvesse em abundância no Japão, desde antigamente, obras artísticas maravilhosas, das quais podíamos nos orgulhar diante do mundo, até o fim da guerra elas jaziam profundamente guardadas nos depósitos da nobreza e dos magnatas, não se deixando que fossem, na maior parte, expostas aos olhos do grande público. Em suma, isso pode ter provindo de idéias monopolistas e feudais. Hoje, quando nos tornamos uma nação democrática, tal absurdo, escusado dizer, virou um sonho do passado. Outrossim, aquilo que leva o nome de obra de arte é, originalmente, para ser mostrado ao grande público e deleitá-lo, elevando, imperceptivelmente, o espírito do homem. A isso, sim, se pode chamar de razão de existência da obra artística. Portanto, há que, antes de tudo, esboroar o ideário monopolizante e dar liberdade à Arte. Todavia (Oh! Fato afortunado!), por ocasião das enormes transformações nacionais que se operaram no pós-guerra, aqueles numerosos tesouros nacionais que jaziam ocultos foram despejados no mercado. Desnecessário discorrer sobre o quanto esse fato contribuiu para a construção do meu museu de arte.
Desta feita, apesar de pequeno em proporções, o referido Museu foi por mim edificado consoante a diretriz de servir de modelo para os demais museus de arte que, de agora em diante, deverão surgir seguidamente dentro e fora do país. É ele, nos seus mínimos detalhes, fruto de penoso trabalho meu. Obviamente, também o jardim em sua totalidade foi planejado por mim: uma simples folhagem, uma mera árvore, tudo. Portanto, deve haver uma porção de defeitos, pelo trabalho de leigo que recebeu. Se, porém, prestar, ainda que pouco, como um ponto de referência para os senhores, eu me darei por satisfeito. Além disso, no que tange aos eventuais bombardeios aéreos, incêndios ou roubos que poderão ocorrer no futuro, eu acredito ter ponderado, suficientemente, sobre o ambiente, as instalações, etc., de modo que o presente Museu de Arte poderá ser de valia também para a conservação dos tesouros nacionais. Penso que os senhores entenderam mais ou menos o que expus acima. Em suma, eu não acalento outro pensamento senão o de anelar para que o Japão se transforme no país da Beleza, o que é, originalmente, o Paraíso Mundial. Outrossim, como tenho planos de construir, em um futuro próximo, paraísos terrestres e museus de arte anexos tanto em Atami quanto em Kyoto, solicito encarecidamente o contínuo apoio dos senhores. Esta é a minha saudação.
Jornal Eiko, nº 164 — 9 de julho de 1952