OBSERVANDO OS PINTORES DE KYOTO

Vamos dar, aqui, uma espreitada pelo que hoje se passa com o círculo de pintores de Kyoto. Seiho Takeuchi dominava, então, esse meio, com a majestade de um rei. Tinha-se a impressão do país inimigo do Oeste a fazer oposição a Taikan, no Leste. Naturalmente, os pintores dotados de Kyoto seguiam Seiho. Entrementes, sua morte veio expor a situação de desamparo em que caiu a sociedade pictórica de Kyoto: um cego que perdeu a sua bengala. Nesse período, os únicos que não se inspiraram em Seiho, desenvolvendo uma técnica própria, foram os dois gênios — Kansetsu Hashimoto e Keisen Tomita. Pesarosamente, quando mais prometiam, vieram a falecer.

Agora, ao passarmos a vista sobre os pintores do Leste e do Oeste, devemos dizer, infelizmente, que quase não encontramos quem tenha futuro. De fato, caso nos esforçássemos em procurar, apontaríamos, em Tóquio, Kokei, Yukihiko, Seison, Ryushi e Yuki; no Oeste, Heihachiro e Insho. Realmente, eles atingiram as regiões da habilidade, mas quer-me parecer não estarem capacitados, ainda, à liderança. O porvir mostra-se o mais preocupante possível, sendo inevitável que nosso apetite de apreciação se afaste da pintura contemporânea. O único pintor que resta é Gyokudo. Inquestionavelmente, no que concerne à sua técnica, ele não se põe atrás nem de Taikan nem de Seiho. Sua personalidade desprendida, a que nada cobiça, fá-lo buscar refúgio solitário nos ermos de Okutama, onde, sem contato com o mundo, entrega-se inteiramente à Pintura. Hoje, tal fato é suficiente para que o consideremos um grande homem. Faço votos de que ele leve, serenamente, o restante de seus dias, como o tesouro nacional vivo que é. Ao passar, desta maneira, uma revista pela situação da pintura nipônica, não serei eu somente a julgá-la desoladora.

Faz-se mister, no momento, aprofundarmos nossa discussão.Taikan, em virtude da sua idade avançada, perdeu o vigor de antes, enquanto Seiho já é falecido. Caso não surjam grandes mestres aptos a substituir estes dois grandes modelos, a pintura japonesa, sem dúvida, virá a estagnar-se. Neste estado de coisas, foi preciso descobrir um novo curso para ela. A época, ao mesmo tempo, começou a corroborar esse acontecimento. Ou seja, procurou-se vida nova na pintura ocidental. Todavia, tal busca não passou de um auto consolo passageiro, que aniquilou a vida da pintura japonesa.

Jornal Eiko, nº 70

20 de setembro de 1950

 
 

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