O GRANDE SIGNIFICADO DO PARAÍSO TERRESTRE DE SHINSEN-KYO

Finalmente, ficará pronto o tão aguardado protótipo do Paraíso Terrestre de Shinsen-Kyo, sobre as montanhas de Hakone. Desnecessário é mencionar que uma obra como estes Jardins Sagrados não apenas desconhece similares no próprio Japão, mas também no exterior. No topo de um monte assim elevado, usei abundante e livremente rochas e pedras dos formatos mais exóticos, pus em ordem, entre elas, árvores, flores e plantas alpinas, e fiz serpentear por aqui e acolá arroios rápidos: a paisagem proporcionada pela beleza natural que a contento se saboreia, juntamente com o sussurar da água, dá a sensação de que se passeia por um paraíso distante da vulgaridade do mundo, segundo o veemente elogio de todos os que o vêem. Ademais, como a abrilhantar o conjunto, tem-se um templo de beleza fulgurante, de maneira que penso poder sentir orgulho desta como uma obra de arte que conjuga, no todo, a beleza natural à artificial.

Tal impressão, contudo, provém da perspectiva humana. Do ponto de vista espiritual, encerra-se aqui um significado enorme, muito além do que se pode supor. Passarei a elucidar isso com detalhes. De posse dessa compreensão, vislumbrar-se-á quão profundos, sutis e insondáveis são os desígnios divinos, como transcendem a inteligência humana e o quão grandiosos são. Como sempre digo, nos desígnios de Deus, as coisas são inicialmente feitas extremamente pequenas, vão expandindo-se gradativamente e, por fim, alcançam âmbito mundial – fato deveras misterioso. Tal também vem aplicar-se ao mundo material. Quer dizer, quando o homem vai fazer algo grande, constrói primeiramente o protótipo; isso feito, passa à sua execução. Pode-se, por conseguinte, considerar que o Paraíso Terrestre de Shinsen-Kyo, ora acabado, está a sugerir o Paraíso Terrestre mundial do futuro. No tocante a essas considerações, passo a revelar a razão profunda da minha escolha pelas montanhas de Hakone.

Da perspectiva espiritual, o centro do mundo é o Japão, e o Monte Fuji, o pilar central do Globo Terrestre. Reparem no formato dessa montanha – a graciosidade do contorno é ímpar no mundo inteiro. Tido desde a Antiguidade como montanha divina e pico espiritual, os estrangeiros a consideram mesmo o símbolo do Japão: há um sentido profundo oculto aqui. O futuro deste país é tornar-se o centro do Paraíso Terrestre, tendo isso sido estabelecido como Lei Divina, desde os primórdios da criação do Universo. Reparem na beleza da paisagem, na variedade da sua flora, nas vistas características das quatro estações, nas transformações operadas nas coisas, consoante a mudança do clima… Essa abundância de dádivas divinas torna o país por si mesmo dono de uma beleza paradisíaca. Não é por menos que o Imperador Shih-Huang, da dinastia Ch’in, da China, tenha chamado o Japão de lha de Horai (Paraíso) do Oriente. Outrossim, a índole do nosso povo prima especialmente por seu senso estético (opinião também vigente no exterior) a ponto de nenhuma outra etnia poder conosco igualar. É de se admirar, ademais, que no Japão, desde tempos remotos, se encontre uma coleção de obras de arte de vários países do mundo. É o Japão, assim profusamente abençoado, o país que, pela vontade de Deus, traz em si os elementos formadores do Paraíso. A razão de eu sempre afirmar que o Japão é o parque e o museu de belas-artes do mundo reside nesse fato.

Desta maneira, o território japonês é um parque mundial, sendo o seu centro Hakone, que é, por sua vez, o parque do Japão, além de posicionar-se, no ponto central deste, o que é evidente, quando se considera que a porção oriental do país, tomando-se Hakone como referencial, é chamada de Região Leste, e a ocidental, de Região Oeste. Do ponto de vista cultural, também, não existirá país que tenha assimilado tanto a cultura oriental como a ocidental, controlando-as; o país que tem a missão de criar uma cultura pacifista e ideal é o Japão. Ouvi dizer que, recentemente, em determinados círculos intelectuais norte-americanos, surgiram indivíduos que defendem tal tese. Realmente, penso que deve ser assim. O centro do Japão é, pois, Hakone, que por sua vez tem o seu centro em Gora. Quando daí levantamos nosso olhar, a montanha que se ergue detrás do Monte So-un é a Kamiyama (Montanha de Deus), o pico mais alto da Cordilheira de Hakone – o seu centro verdadeiro. Desnecessário dizer, então, que este é o ponto divisório do leste e do oeste do Japão. Isto sim é algo verdadeiramente místico, sendo justa a denominação “Montanha de Deus“.

Na realidade, portanto, eu deveria construir o Paraíso Terrestre sobre essa montanha, mas pela inviabilidade, escolhi o presente local. Nomeei a minha primeira moradia, em Gora, de Shinzan-So (Solar da Montanha Divina), tomando esta montanha por modelo. De forma idêntica, batizei inicialmente o atual Nikko-Den de Alojamento So-un, em virtude do monte do mesmo nome. A seguir, outro fato interessante. Foi a Companhia Tozan Dentetsu que deu início à exploração de Gora. Onde, hoje, se situa este Shinsen-Kyo, ela construíra o Parque Japonês; mais abaixo, no atual Parque de Gora, o Parque Ocidental, o que também é misterioso. Assim, o Japão é o parque do mundo; o parque do Japão, Hakone, e o de Hakone, Gora. O centro de Gora é o Shinsen-Kyo, que é o verdadeiro centro do mundo.

Nesse sentido, o fato de ter-se chegado ao término do Shinsen-Kyo significa que o Paraíso Terrestre surgiu no centro do mundo. Em outras palavras, é o nascimento do Paraíso Terrestre, tratando-se, então, do maior evento comemorativo desde o início do mundo, e uma data a ser festejada mundialmente por toda a eternidade. O dia quinze de junho virá a ser, no futuro, o dia do Culto do Nascimento do Paraíso Terrestre. A propósito, tenho um importante fato a comunicar. A partir de hoje, a atividade espiritual será implementada, e um enorme redemoinho, centrado aqui e avançando da direita para a esquerda, expandir-se-á gradativamente pelo mundo, trazendo uma mudança sem precedentes: a grande reforma da sociedade.

Eiko, nº 216

8 de julho de 1953