Tenho imenso prazer em receber e procuro entrevistar-me com artistas e artesãos, enfim, com todas as pessoas relacionadas com o ramo das Belas-Artes e dos entretenimentos. Em contrapartida, não tenho muita vontade de manter encontros com personalidades da sociedade, por mais elevada que seja a sua posição. Tal atitude não deriva, em especial, de algum capricho meu. Assim ajo porque, julgando que semelhante gesto é desprovido de sentido, não me sinto inclinado a ele. Há algum tempo, o senhor fulano de tal, então Ministro dos Negócios Internos, quis encontrar-se por duas vezes comigo. Certo dia, quando eu me achava em Gora, ele veio até Miyanoshita propondo-me uma entrevista. Mesmo assim, por não querer ter com ele, recusei delicadamente a proposta. Assim, quando não estou disposto a algo, não há mesmo o que fazer. O motivo para tal procedimento seria o seguinte.
Desde jovem eu gosto de espetáculos de entretenimento, a começar pelo teatro, tendo já assistido a muitos deles. Ultimamente, como sabem os fiéis, por faltar-me tempo e também por apreciar, procuro ver filmes uma noite sim, uma noite não. Em semelhantes ocasiões, sinto-me agradecido ao autor da peça, ao seu diretor, aos seus atores e demais integrantes da equipe por — não obstante tais atividades façam parte da sua profissão — terem cooperado, com afinco, entre si, para a produção de uma obra interessante, e proporcionarem divertimento. O mesmo é válido com relação ao rádio. Quando vejo, outrossim, obras-primas de arte tanto antigas, como modernas, o sentimento de gratidão aflora-me espontaneamente do íntimo, por me proporcionarem prazer, graças ao esforço e trabalho dos seus autores. Sobretudo se se trata de uma peça de um mestre extraordinário, sinto minha alma tocada e adoto uma postura de humildade diante dela. Naturalmente, como alguém assim é insubstituível, o meu respeito é ainda maior.
Nesse sentido, verdade é que existem muitos grandes homens entre os políticos, empresários e intelectuais; não descubro neles, porém, pontos positivos que sejam motivo de gratidão. Ademais, não me deparo com personalidades que eu possa considerar imprescindíveis. Sinto que existem substitutos aos montes para elas. Acresce que, principalmente entre tais pessoas (não sei se, no exterior, também acontece o mesmo), sejam muitas aquelas que detestam religião. Acredito que quem detesta religião não se trata, no mínimo, de um homem de bem. De fato, eles praticam atos elogiáveis, mas por ser algo calculado, não me infunde respeito. Consequentemente, em se tratando dos mesmos homens de bem, prefiro entrevistar-me e manter amizade com aquele que conhece Deus, pois é o legítimo.
Jornal Eiko, nº 253 — 24 de março de 1954