CANÇÃO

Escreverei um pouco também sobre as canções. Como é do conhecimento geral, antigamente as canções eram denominadas joruri, em Osaka, e gidaiyu, em Tóquio, ocupando estas papel preponderante. Jamais me esqueço: lá pelo início da década de dez (início da Era Taishô), a famosa intérprete Rosho Toyotake vinha mensalmente de Osaka para participar do programa Reunião de Mestres, do Teatro Yurakuza. Ela, sim, era dona de verdadeira mestria, fazendo jus ao título. Eu, na verdade, não gostava do gênero gidaiyu, no entanto, Rosho era exceção: não podia deixar de ouví-la. Assim, sempre que ela se apresentava, eu ia até o Yurakuza para ouvi-la. Sua voz maviosa, sua entoação e tudo o mais eram inexplicavelmente belas. Naturalmente, sua especialidade eram as peças amorosas. Sem dúvida, jamais haverá alguém dono de tamanha mestria. Graças ao estímulo dela recebido, fiquei com vontade de aprender gidaiyu, começando a treinar sob a orientação de certo professor. Continuei por volta de um ano, mas acabei por largar com o grande terremoto que assolou a região de Kanto. Ela faleceu pouco depois, ainda jovem, o que foi uma verdadeira pena.

Naquela época, às vezes eu ia ouvir as intérpretes Shogiku e Shonosuke, que se apresentavam nas casas de espetáculos de Tóquio. Dentre os intérpretes masculinos, havia um chamado Asadayu, cuja especialidade eram as canções amorosas. Eu gostava dele e ocasionalmente ia ouvi-lo. Quando, da região de Kansai, Datedayu e Nanbudayu vieram a Tóquio, fui assisti-los em duas ou três ocasiões.

Ultimamente, a viola de Chikuzen acabou por cair de moda, mas antes gozava de bastante popularidade. Parece ser universal o fenômeno de as coisas entrarem em decadência com a ausência dos grandes mestres. Dizem com frequência que a luta de sumo tomou grande impulso com o surgimento de alguém fortíssimo como Futabayama, e eu concordo em absoluto com tal afirmação. Citarei Kyokuran Takano, de Hakata, como tocadora de viola de Chikuzen das primeiras duas décadas deste século. Deve ser ela incluída entre os grandes mestres da arte. Em vista disso, o volume de discos seus vendidos alcançou um número considerável. Como intérprete masculino, citaria Takamine Chikufu, pai da atual artista de cinema Mieko Takamine. Sua melodia original, aliada à sua bela voz, difundiu sua fama. Depois dele vem Kyokujo Toyoda. Quanto à viola de Satsuma, Kinjo Mito e Kinshin Nagata tocam muito bem. Eu, todavia, prefiro a viola de Chikuzen.

Hoje, a rainha das canções é o gênero nagauta. Outrora, também esta modalidade servia exclusivamente como acompanhamento para peças teatrais. O grande mestre de então era Ijuro Yoshimura. Sua bela e possante voz ressoava por todos os cantos do amplo salão de teatro kabuki. Ainda agora é-me impossível esquecê-la. Com o aparecimento do quarto sucessor de Kosaburo Yoshizumi, sua voz, conjugada às cordas de Jokan Kineya, não somente viabilizou que esta assumisse forma independente da arte teatral, como possibilitou a fundação da Associação Kensei, conduzindo o gênero nagauta ao sucesso que hoje goza. Por tudo isto, o seu mérito é extraordinário.

Ademais, guardo na memória os intérpretes Rinchu da escola Tokiwazu e Enjudayu, da escola Kiyomoto. Tinha eu predileção particular pela escola Shin-nai, gostando, quando jovem, da cantora Wakatatsu e do cantor Sicho — ambos cegos. À parte, havia ainda Kagadayu, muito ouvido, embora não pudesse ser considerado de grande mestria. Depois, com o aparecimento do rádio, citaria, dentre outros, Bun-ya Okamoto e Suzu Kaga, muito bons. Eu, contudo, preferia sem dúvida alguma Mikimatsu Yanagiya, da escola Shin-nai. Não é exagero classificá-lo como o maior mestre desta escola.

A seguir, muito embora não se trate de canção, não será inútil escrever algo sobre as narrações épicas e cômicas. Quando jovem, ouvi bastante as duas modalidades. Eu gostava de ouvir, dentre os narradores antigos, os primeiros Roshu, Hakuzan e Teikichi, Hakuchi Shorin, Hakuen, Tenzan, Joen, Hajime Murai, Jakuen, Enrin e outros. Conquanto não desfrutasse de grande fama, havia um narrador chamado Nanso, de cabeça raspada. Ele poderia ser considerado, antes de qualquer outro, próximo da mestria. Sua interpretação da epopeia do xogum Hideyoshi Toyotomi era única, sendo que certa vez eu fui ouvi-la durante vinte dias seguidos. Havia, outrossim, outro — este originário dos meios amadorísticos de nome Kokuen Moribayashi: sua técnica, como a de Nanso, beirava as raias da mestria. Da época que seguiu ao aparecimento do rádio, dentre aqueles que podem ser citados como quase mestres, temos o segundo Hakuzan, Hakukaku e Teizan. Os recentemente falecidos Hakuryu e Rozan também eram muito bons. O terceiro Teizan, Teikyo, e Teijo são ainda muito bons e muito prometem. Como se vê, a decadência do gênero narrativo épico é gritante: seu futuro é preocupante.

A seguir, quanto às narrativas cômicas, enumeraria, dentre os narradores antigos, os seguintes: En-yu, Ensho, Shinsho, Saraku, Kokatsu, Kosanji, Enzo, Kingoro, o primeiro Kosan, Sangoro, Tsubame e Baraku, dentre outros. Com relação aos contadores de histórias de costumes, três estariam próximos da mestria: Encho, Enkyo e En-u. Também incluiria entre os mestres Enshi, um contador da época especializado em casos de assombração. Devo enumerar ainda como mestre um contador dos dias de hoje: Kingoro. Kingoro é o melhor contador de narrativas cômicas entre os que até hoje ouvi. É lastimável que ele tenha virado um ator teatral e não seja mais possível apreciar suas excelentes narrativas cômicas. Atualmente, dentre os contadores que se apresentam no rádio, há os antigos como Ryukyo, Shozo, Kimba, Gontaro, Madoka, Momotaro, Bunji, Emba, Umesuke e outros, novatos bastante promissores. Pode-se apostar no futuro de Shinsho, Kasho, Ryuko, Ensho e Chiraku.

Havia, além do mais, um mestre do gênero da anedota. A falecida Miss Wakana era sem dúvida uma mestra. Como anedotista do gênero caricatural, eu apontaria Shiro Otsuji em primeiro lugar.

Ensaios - 30 de agosto de 1949

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