O Shinsenkyo, em construção desde há algum tempo, encontra-se finalmente próximo de seu término, e eu não posso conter minha vontade de comemorar o evento. Simultaneamente, o que está irradiando, de maneira extraordinária, um brilho todo diferente, é decerto o Museu de Belas-Artes. Este, também, como é visível, ficou pronto mais cedo do que se imaginava, faltando, agora, apenas as instalações interiores. Basta só dispormos nele os objetos necessários, para que, então, esteja inaugurado. Outrossim, com o término concomitante de todo o conjunto do Shinsenkyo, escolhi, por fim, o dia 15 de junho vindouro para celebrar o ofício de sua conclusão, junto com a cerimônia de inauguração do Museu de Arte.
Aproveito a ocasião para tecer diversas considerações sobre museus de arte. No que diz respeito aos museus de arte existentes desde o início até hoje, não há um sequer que esteja sempre franqueado ao público em geral. Em virtude de realizarem exibições somente duas vezes ao ano, na primavera e no outono, para determinadas pessoas apenas, seu significado, em termos de valor sociocultural, é, na verdade, pouco profundo. Outrossim, no tangente às peças de exposição, esses museus ou pendem somente para a arte chinesa, ou para a arte búdica, ou para a arte relacionada com a Cerimônia do Chá, ou, ainda, para a pintura ocidental, assumindo um papel restrito. Entretanto, o Museu de Belas-Artes de Hakone, a ser aberto agora, posto que de dimensões reduzidas, abrange a arte oriental em sua totalidade. Além do mais, penso ter selecionado, na medida do possível, peças superiores de cada época, e, por isso, sem querer gabar-me dos meus próprios feitos, posso dizer, antes de mais nada, que este é um museu ímpar no mundo. Assim sendo, ele poderá servir, não pouco, ao propósito de elevar a circunstância cultural do Japão, também, sob uma perspectiva de nação. Portanto, para dizer a verdade, a realização de semelhante empresa de caráter público é impossível para um indivíduo ou uma organização religiosa, devendo ser da alçada estatal.
Contudo, seja como for, sob a atual conjuntura econômica, tal feito, decerto, é impossível. Assim, pode-se dizer que o meu projeto de museu de arte é oportuno. Ademais, se for fazer algo que mereça o nome de museu de arte, os custos de construção, bem como o trabalho e o capital necessários para a coleta das obras artísticas a serem nele expostas, não são nada simples. E, em se tratando de uma religião recém-formada, como é o caso desta, as dificuldades enfrentadas não foram comuns. Sofreu impedimento e pressões terríveis, provenientes não só da incompreensão das autoridades, como também da visão equivocada da sociedade, o que ocorre até hoje, como é do conhecimento geral. Uma vez que foi possível, mesmo assim, concluir o Museu de Arte de acordo com o previsto, vencendo todas essas barreiras, jamais posso considerar, se fico meditando sobre todos esses acontecimentos, que esta tenha sido uma obra humana. Ao pensar nisso, pela profundidade da proteção do Senhor Deus, comovido, contenho as emoções e agradeço.
Este museu de Arte, outrossim, teve tanto sua construção quanto instalações planejadas inteiramente por mim, sem que eu me servisse, o pouco que fosse, dos préstimos de profissionais na matéria. Assim o fiz, porque eu tinha confiança em mim próprio e queria edificar um museu de arte cujo projeto fosse inovador, como modelo para os demais que, no futuro, serão edificados não só em cada localidade do Japão, escusado dizer, mas no mundo inteiro. Nesse sentido, é evidente que eu tenha dedicado especialmente a minha atenção aos mínimos detalhes e, portanto, ainda desejaria ser contemplado, sem falta, com a crítica da sociedade em geral. No tangente, ademais, às suas obras de arte, eu envidei esforços visando a coletar peças peculiares ao Japão, e, no que diz respeito, também aos padrões adotados, atribuí papel principal às obras-primas dos grandes mestres de cada período. Um museu de arte assim, cujo ponto central é a arte nipônica, tampouco existindo no próprio Japão, inexiste também no exterior, não sendo exagero, então, dizer que, em termos atuais, ocupa posição de primazia mundial. Tentarei resumir, aqui, sua história, desde o princípio. Observando que o processo se constituiu de uma sucessão de milagres do início ao fim, é por demais óbvio não se tratar de obra humana, jamais.
A seguir, tratarei, em primeiro lugar, do projeto. Até por ocasião de uns dois ou três anos depois de terminada a guerra, como amante da arte que sou, eu me comprazia em comprar, aos poucos, dentro dos limites permitidos pela situação econômica, as peças que descobria. Entretanto, fortunadamente, naquela época, pela confusão reinante no pós-guerra, peças relativamente boas vieram parar-me às mãos. Hoje, ao pensar nisso, vejo perfeitamente que também este fato foi a manifestação da Providência Divina. Nesse ínterim, o seguinte se passou precisamente no fim do ano retrasado, em 1950. Com a transferência de Torino-ya (Casa dos Pássaros) de um canto do Shinsenkyo (na ocasião, o prédio foi destinado à sede do Daisei-kai), surgiu um terreno vago de 150 (495 m2) a 160 tsubo (528m2). Quando eu pensava em construir nele alguma coisa adequada, nasceu-me repentinamente a ideia da edificação do Museu de Arte. Não obstante ter ponderado que a área era um pouco pequena para um museu, determinei-me, primeiramente no meu íntimo, à sua concretização, em vista de tanto o local como o ambiente serem perfeitos. Porém, por se tratar de um museu de arte, ainda que pequeno, não seria conseguido com qualquer quantia, e eu não via perspectivas de conseguir um volume considerável de dinheiro.
Desta maneira, considerando que, se ao menos deixasse arranjada a área, mais cedo ou mais tarde, a oportunidade de construí-lo apareceria, lancei-me primeiro à tarefa de preparar o terreno. Com o término do arranjo deste, aproximadamente no verão do ano passado, senti uma vontade incontida de construir depressa o Museu. Assim, tendo logo consultado Abe, ele me respondeu: "Então, vou verificar isso imediatamente". Verificação feita, chegou-se à conclusão de que tal desejo não seria impossível. Então passei, rapidamente, aos preparativos já em outubro daquele ano, considerando que o Senhor Deus daria um jeito em tudo. Dessa forma, tão logo ingressamos no mês seguinte de novembro, quantias inesperadas de dinheiro entravam umas após outras, bem como propostas de doações eram feitas seguidamente, pelo que eu não fazia outra coisa senão me admirar com a excelência da proteção divina, muito embora eu fosse sempre com ela agraciado. Portanto, os fundos até hoje necessários ajuntaram-se na medida justa, e tudo se concretizou de maneira melhor que a esperada. Assim, o Museu de Arte foi concluído em meros oito meses e meio depois da elaboração do seu projeto. Certamente, o fato de um edifício de tal natureza ter ficado pronto nessa velocidade não encontra precedentes não só no Japão, é óbvio, mas também no mundo.
Tal empreendimento foi possível porque, desde o início, graças à sucessão de milagres acontecidos, vinha parar-me às mãos, posto eu permanecesse calado, aquilo que eu queria, e o dinheiro necessário para o intento ajuntou-se na medida justa pelo fervor e sinceridade dos membros da Igreja. De tal maneira, vista do ângulo do senso comum, a consecução de um museu de arte desse porte requisitaria tempo, sacrifício e esforço consideráveis. No entanto, ele ficou pronto com facilidade, a ponto de fazer graça, sem dar muito trabalho, como é dedutível do que vim discorrendo. Sinceramente, aquilo que o Senhor Deus realiza é inimaginável. No tocante a tais impressões, como é do conhecimento geral, os numerosos museus de arte convencionais foram, sem exceção, construídos com o fim de preservar a propriedade constituída pelas peças artísticas coletadas por décadas a fio, e de satisfazer a vaidade daqueles homens importantes, que venceram na vida por si mesmos, acumulando em uma única geração uma fortuna fabulosa, graças ao seu esforço e luta solitárias. Outrossim, como esses museus são mostrados apenas a um grupo de pessoas determinadas, divergem radicalmente da minha concepção. Eu sinto a fundo que a obra de arte não deve ser, em hipótese alguma, monopolizada, mas sim mostrada ao maior número possível de pessoas, para que se deleitem com ela e tenham elevado o seu caráter humano. Isto sim — o oferecimento da Arte para o progresso da Cultura — é o verdadeiro âmago da Arte como tal.
Agora, quero discorrer sobre a parte mística do assunto. Dias atrás, tendo ido a Nara, fui levado a meditar profundamente sobre a obra magna e imperecível do renomado príncipe Shotoku. Como é do conhecimento geral, a introdução do budismo no Japão deu-se inicialmente no décimo terceiro ano do reinado do imperador Kin-mei. No princípio, porém, como hodiernamente ocorre com as novas religiões, sua difusão foi débil e vagarosa, em consequência da incompreensão das autoridades governamentais e da opressão do xintoísmo. Todavia, o príncipe Shotoku nasceu no terceiro ano da Era Bitatsu, e, ao tornar-se adulto (antes de mais nada, é preciso considerar que ele era um grande homem como raros, sendo possível dizer que era um santo a encarnar a misericórdia), tão logo entrou em contato com o budismo, percebeu que aquela é que era a missão de salvar a humanidade a ele concedida pelo Buda, e fez o voto máximo de expandir essa religião. Assim, raciocinou ele que o meio forte por excelência de difusão era o baseado na arte búdica, e, estabelecendo, então, o sítio de Nara como terra santa, edificou uma abadia composta de sete prédios, que é o Templo Horyu. Portanto, esse foi, por assim dizer, o modelo do Paraíso Terrestre de sua época. E não é somente isso. A inteligência superior do príncipe Shotoku não se limitou apenas ao budismo, mas se estendeu por todas as áreas, quais sejam, política, economia, educação e outras. A sabedoria todo-poderosa, independente e livre do príncipe foi objeto do temor respeitoso do povo daquela época, fazendo com que ele fosse venerado e louvado como a própria encarnação do Boddhisatta de Mil Mãos, e o budismo, a partir de tal concepção, atingiu o estado de dominar o país e passou-se a julgar, por tais fatos, que o pai do budismo no Japão é o próprio Príncipe.
Assim, os vários séculos passados após essa época constituem, por assim dizer, o período do budismo primitivo. Posteriormente, como qualquer um sabe, monges e sábios famosos, nomeadamente, Dengyo, Kukai, Honen, Shinran, Nichiren e demais, surgiram um após o outro, fundando suas respectivas facções, até os dias de hoje. Desse modo, é possível saber o quanto floresceu o budismo no período Nara, por intermédio da construção do Grande Buda, no renomado Templo de Todai. Seja como for, a consecução de uma obra-prima gigantesca como aquela, numa época em que a cultura era ainda imatura, ilustra muito bem o quão elevado era o fervor religioso.
Em seguida, devo escrever sobre mim mesmo. Eu, desde cedo, amei a arte, e o que me trouxe até o ponto de construir este museu de arte foi a convicção de que tal empreendimento era o mais adequado que qualquer outro, para o desenvolvimento religioso. Simultaneamente, eu prego a Verdade em todos os campos, a partir da medicina e da agricultura, passando pela política, economia, educação e arte, dentre outros; esfacelo a ignorância e venho mostrando o princípio-guia da organização de uma nova cultura. Julgando-se, pois, por tal missão, pelo fato de que eu estendo em âmbito mundial a obra do príncipe Shotoku, tudo o que se refere a mim tornar-se-á perfeitamente compreensível. A única diferença é que o Príncipe se originou da classe alta, ao passo que eu provenho das camadas baixas. Tal realidade é plausível ao se considerar o fato de Maitreya descer ao mundo. Ademais, outra coisa que desejo dizer é que o Príncipe se submeteu ao Buda, devotando-se à expansão do budismo. Eu, no entanto, considero o Buda inferior a mim. A razão é que, há dois mil e seiscentos anos, ele já desempenhava o papel de preparar a minha atual grandiosa obra de salvação da humanidade. Creio que foi possível compreender consideravelmente, pelo exposto, a relação existente entre mim e o Príncipe, bem como o fato de eu estar canalizando meus esforços para a Arte. Mas o importante, agora, é que o objetivo do Deus — o Paraíso Terrestre, livre da doença, da miséria e do conflito — é também o mundo em que a Arte constitui o elemento supremo.
Jornal Eiko, nº 60 — 11 de junho de 1952