A ILHA DE HORAI

O Japão, quando percebido do ponto de vista de uma cultura pacífica, é sempre por mim considerado como um país verdadeiramente excelente. Pretendo, então, escrever um pouco daquilo que tenho percebido em relação a tal assunto. Gosto de obras artísticas e, desde jovem, a cada oportunidade, vim dedicando a minha atenção a essa área, dentro dos limites permitidos pelas circunstâncias. Mesmo nos dias de hoje, continuo a ver tais obras, a comprazer-me com elas e a estudá-las e — fato surpreendente — é-me possível afirmar que, no Japão, encontra-se quase toda a variedade de obras artísticas do mundo inteiro. Desejo ressaltar, particularmente, o fato de que, dentre essas obras, as chinesas foram abundantemente coletadas pelos detentores do poder diletante de cada época, desde a Antiguidade, e chegaram em nossos dias bem conservadas. Esse é o fruto de um trabalho que não pode passar em branco, pois, antes de mais nada, evitou a destruição e a dispersão dessas obras artísticas por um longo espaço de tempo, proporcionando-lhes um cuidadoso tratamento. Tal fato advém, ao que parece, desde o Período Fujiwara, e a ele acresce que as excelentes obras de talentos e mestres nascidos no Japão também foram legadas. Ademais, surgiram obras-primas notáveis no espaço que vai do final do xogunato e adentra-se pela Era Meiji. Graças ao fato de os zaibatsu e magnatas terem disputado entre si a coleta de obras artísticas, o Japão arrebanhou e entesoura um vasto acervo de obras antigas e modernas, peças chinesas e coreanas, bem como um número relativamente extenso de obras ocidentais. Este é um país sem par no mundo. O Japão é, sem dúvida, um museu de artes mundiais.

Entrementes, no que tange à China, que é uma das fontes do referido acervo, as conturbações dos incêndios oriundos de guerras causaram a destruição e a queima de um grande número de obras (em particular, quase não sobraram pinturas antigas), restando tão somente umas poucas peças em bronze, cerâmica e porcelana. Tais obras recebem a denominação de "peças soterradas", e salvaram-se da destruição por terem estado sob a terra durante muito tempo, sendo que existem em relativa quantidade. Porém, a partir de algumas décadas atrás, tanto magnatas quanto intelectuais americanos e ingleses descobriram essas obras, e, como as compraram com avidez, não resta quase mais nada delas, atualmente. Hoje, no British Museum (acervo doado pelo multimilionário inglês Sr. George Eumorfopoulos) e nos de Boston e de Washington, elas existem em número razoável, tendo eu já visto fotografias delas. Nos dois últimos museus, elas são, na sua maior parte, em bronze, cerâmica e porcelana, e, naturalmente, vêm a ser peças de primeira qualidade. Contudo, em se tratando de pinturas, não há das antigas; as existentes são apenas algumas obras modernas. No Japão, todavia, existem em bronze, cerâmica, porcelana, e pinturas, bem como outras obras da China e da Coréia em número incalculável. Como, porém, encontram-se espalhadas pelo país inteiro, uma vez que não estão, à semelhança do que ocorre na Inglaterra e nos Estados Unidos, reunidas em um só recinto, é impossível apreciá-las. Como se diz usualmente, trata-se de um tesouro jogado às traças. Na verdade, no Japão, a começar dos museus, existem várias galerias particulares de artes, as quais deixam, realmente, muito a desejar. Nos museus — aqueles a que cabe cumprir um papel importantíssimo —, os elementos histórico e arqueológico assumem preponderância, e, no que toca às galerias privadas, essas têm — que me desculpem a expressão — o defeito de serem demasiadamente pequenas.

Detendo-me por aqui, em matéria de arte, é meu desejo discorrer algo sobre um fato fundamental — nada mais, nada menos que a longevidade humana. Deixando à parte as eras anteriores à do Imperador Jinmu, é possível obter a comprovação, por intermédio de bibliografia, de que, mesmo em épocas posteriores, pessoas comuns gozavam de longevidade superior a uma centena de anos. O que se conclui, então, é que as doenças inexistiam. Esse fato pode remeter-se à completa ausência de remédios. Aquele famoso imperador Shih-Huang, da Dinastia Ch'in, disse ao seu súdito Hshu Fu que, no Mar Oriental, situava-se uma Ilha por nome Horai, e, como seus insulares pareciam gozar de grande longevidade, deveria haver ali, sem dúvida, um bom remédio. Ordenou, então, que fosse procurá-lo. Hshu Fu veio, então, daquelas paragens longínquas até o Japão. Ao desembarcar aqui, entretanto, já que essa droga inexistia, ele não a encontrou, por onde quer que a procurasse. Desesperançado, não logrou retornar à sua pátria, permanecendo, assim mesmo, no Japão, e aqui findou a sua vida. A veracidade desse fato é clara pela existência do seu túmulo em Kumano, ainda hoje.

Tentei discorrer dessa maneira, concisamente, sobre esse assunto e concluo: caso todo o povo venha a ser sadio e goze de longevidade superior a cem anos, a Arte do mundo inteiro seja encontrada em abundância e a beleza natural das montanhas e rios seja generosa, a que outro lugar haveremos de dar o nome de Ilha de Horai, do Mar Oriental, que não a este? Todavia, não nos enganemos: é ainda muito cedo para nos alegrarmos. Esclareço: esta somente poderá ser a genuína Ilha de Horai quando, além do mencionado, não mais houver criminosos, quando a autossuficiência alimentar for alcançada e ao findar-se a inquietação com guerras. Tal fato, entretanto, não é difícil. Assim que esta religião for conhecida pela maioria dos japoneses, tal maravilha, infalivelmente, concretizar-se-á. Quão gratificante é esta religião!

Jornal Eiko, nº 100 — 30 de maio de 1951

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