A CONCEPÇÃO DO PARAÍSO TERRESTRE

Havendo ainda uma série de coisas, além das que já escrevi até hoje, no que tange aos dois Paraísos Terrestres em construção em Hakone e em Atami, passarei a discorrer sobre elas. Como sempre digo, objetivo a criação de uma obra de arte global da natureza, por meio do máximo realce conferido à beleza original de cada elemento – a começar da paisagem natural – quesito básico do Paraíso Terrestre – inclusive as árvores que florescem, as de copa verdejante, a beleza dos matizes variegados das flores, bem como as pedras, os rochedos, os arroios e os lagos – e, simultaneamente, pela atenção dispensada à harmonia de todo o conjunto.

Assim, as obras de Hakone já estão de setenta a oitenta por cento do seu total concluídas, enquanto as de Atami não chegaram ainda à metade. Entretanto, crendo que se pode tirar uma ideia final do estado de ambas as obras, solicito aos senhores visitantes apreciá-las na medida do possível com calma e suficientemente, de todos os ângulos e detalhes também. Seja como for, as obras foram tomando forma gradativamente, em consonância com a orientação divina, instruindo eu os encarregados, sem desleixar no detalhe de uma árvore, uma planta ou uma pedra sequer. Gostaria, pois, que ao percorrê-las, fizessem-no levando esse fato em consideração.

Conquanto existam – e em número considerável – jardins que gozam de fama desde antigamente, talvez não haja outros tão inusitados como estes Jardins Sagrados. Afirmo isso porque também eu já visitei, o quanto pude, muitos e variados jardins, porém foi difícil achar um que me impressionasse. Passo a enumerar os até hoje vistos por mim. Aquele jardim de pedras, hoje inexistente, do Duque de Satake, em Mukojima; o do Duque de Okuma, em Waseda; o Parque Koraku, de Koishikawa; o Parque Rikugi, de Komagome; o Parque Horai, de Yanaguihara; o Jardim Botânico, de Koishikawa; a Vila Imperial, de Hama, e os Jardins Imperiais, de Shinjuku. Além deles, visitei, no interior, as vilas imperiais de Katsura e Shugaku-in, de Quioto, e os parques Sankei, de Yokohama, Ritsurin, de Takamatsu, e Kenroku, de Kanazawa. Tanto estes como aqueles, porém, tratam-se, na sua maioria, de jardins do estilo feudal convencional, sendo plausível dizer que não há um único interessante como o nosso Shinsen-Kyo, de Hakone. Particularmente, no que toca ao aspecto da fartura de pedras e rochas de formato exótico, não seria exagero afirmar que este é o primeiro do Japão.

No tangente à Atami, a construção tem sido conduzida a passo acelerado, estando o término do jardim previsto, no mais tardar, ainda para o corrente ano. Os senhores não perdem por esperar. Como sabem, a beleza do panorama grandioso, que, desse local se deslumbra, goza do conceito de não encontrar outra semelhante no Japão inteiro. Em breve, estarão terminadas a correção do relevo do terreno e a sua completa arborização. Quando, a partir da próxima primavera, as ameixeiras, os pessegueiros, as cerejeiras e as azaleias abrirem consecutivamente as suas flores, quem quer que contemple tal espetáculo terá o seu olhar seduzido pela magnífica vista, imerso na sensação de viajar pelo paraíso deste mundo. Não resta dúvida de que, uma vez concluído, virá a ser um dos lugares famosos do Japão.

Acabo de fazer uma descrição, grosso modo, apenas da beleza natural. Passarei a escrever, brevemente, também sobre a artificial. Espera-se que o Museu de Belas-Artes de Hakone fique pronto até maio do ano vindouro. Assim, o Paraíso Terrestre de Hakone estará praticamente concluído. Como a construção deste museu foi toda planejada por mim, gostaria que aguardassem com interesse o seu desfecho. Quanto às obras a serem aí expostas, os entendimentos com museus do país inteiro e coleções particulares, para a mostra do que há de mais refinado neles, já estão acertados. A sua inauguração atrairá grande público, com certeza. É provável que, no Japão, ele venha a ser um museu de primeira categoria. Por eu o ter construído como um modelo inicial, suas dimensões não são tão avantajadas. Entretanto, o de Atami, a ser posteriormente terminado, deverá tornar-se um museu de artes exemplar, do qual nos orgulharemos não apenas diante do Japão, mas diante do mundo inteiro. Acredito, portanto, que mesmo de uma perspectiva internacional, estaremos contribuindo, de maneira inestimável, em prol da cultura humana.

Eiko, nº13

18 de julho de 1951