Uma das últimas manifestações de luta pelo poder foi a da era Tokugawa ou política do Shogun (como é conhecida no Ocidente, ou Bakufu, no Japão). Neste caso, quem venceu foi a família Tokugawa, que dominou durante 264 anos (de 1603 a 1867), com sede em Tóquio, embora o imperador continuasse em Kyoto.
Sobre o verdadeiro objetivo da política do Shogun, não há necessidade de falar. Ela simplesmente assume o poder que deveria ter ficado nas mãos do imperador.
O primeiro governante desse período foi Ieyasu Tokugawa. Muito esperto, evitou a realização imediata de suas pretensões, procurando elaborar antes um plano estratégico bem fundamentado, tentando prolongá-lo o maior número de anos possível, para não colocar a opinião pública contra ele.
Assim, ao longo do período de domínio, adotou meios que fizessem o povo esquecer a presença do imperador. Sob este aspecto, dá para perceber a perspicácia da inteligência de Ieyasu.
Entre as medidas tomadas por ele, uma foi a diminuição drástica das despesas com a família imperial. Passou a dar-lhes apenas 10.000 goku de arroz, quantia equivalente a 300.000 sacas anuais. Era, de fato, uma quantia irrisória. E, ainda, para completar, nem isso, às vezes, oferecia.
Na verdade, Tokugawa deixou o imperador na miséria. Para comprovar esse fato, basta lembrar que a família dele, governante, recebia, no mesmo período, oito milhões de goku de arroz.
Nessa época, quase sempre, o príncipe e futuro imperador Meiji, que tinha, mais ou menos, sete anos, não podia, devido à escassez de alimentos a que sua família fora submetida, tomar um lanche. Então, o dono da Toraya, uma famosa loja de doces do Japão, sentia muita pena dele e ofertava-lhe doces à vontade.
Mais tarde, quando se tornou imperador (1868 a 1910), uma de suas primeiras determinações foi chamar o dono da Toraya e dar-lhe a concessão, em caráter irrevogável, do serviço do palácio, bem como de toda a aristocracia, em agradecimento pela profunda fidelidade ao príncipe, na época da crise imposta pelo governo inimigo. Ainda hoje, a loja Toraya abastece o palácio imperial.
De fato, nesse período de despotismo, toda a aristocracia enfrentou sérias dificuldades, sendo obrigada a fazer serviços extras para sobreviver.
No final do regime, a situação da família Tokugawa e dos feudais que lhe eram fiéis também não ficou muito diferente no que diz respeito à vida de restrições enfrentada pelos aristocratas. Eles, que constantemente se orgulhavam da riqueza e do luxo, passaram a ter sérios problemas para se manter e oferecer sustento aos feudais pertencentes ao mesmo ramo familiar.
Assim, a maioria deles não teve outra alternativa senão pedir dinheiro emprestado a grandes e ricos comerciantes, oriundos do povo; dando, em troca, objetos valiosos ou de arte. São famosos os nomes de Tatsugoro, Yodaya e Zenemon Koonoike, por terem socorrido os Tokugawa.
Consta que até hoje a família de Koonoike tem um cofre do tamanho de dez casas, onde estão guardados inúmeros objetos preciosos que muitos aristocratas feudais deram em garantia das compras efetuadas. Por esse fato, dá para concluir que os servidores de Tokugawa ficaram também extremamente empobrecidos. Muitos deles precisaram trabalhar até em outro emprego para sobreviver. Entretanto, apesar dessa situação calamitosa, alguns não perderam a importância. Daí o surgimento de um dito popular que expressa muito bem a atmosfera da época: “Samurai usa orgulhosamente o palito, mesmo sem comer”.