Em todos os jornais da atualidade há um exagerado número de notícias relacionadas ao Mal: roubos, assaltos, assassinatos, fraudes, mercado negro, contrabando, suicídios, adultério, etc. São tantas notícias desagradáveis, que chega a ser quase impossível enumerá-las. Se estivéssemos no exterior e soubéssemos de tudo isso, poderíamos pensar que não existe país tão horrível quanto o Japão. Entretanto, por pior situação em que ele se encontre, deve haver alguma coisa que se possa elogiar ou que seja motivo de orgulho. Acontece que as coisas boas ficam mais escondidas e são mais difíceis de aparecerem. Desde os tempos antigos, diz-se que as más ocorrências vão longe; de fato, parece que as coisas más logo se tornam conhecidas e se espalham. Também no que se refere aos noticiários dos jornais, o que está relacionado às coisas boas não atrai os leitores. Quanto pior é o assunto, maior é o interesse das pessoas. Principalmente os artigos que falam de fatos macabros, fora do comum, são do interesse de cem por cento dos leitores e por isso aparecem escritos em caracteres bem grandes. A melhor prova é que as manchetes dos jornais dizem respeito aos artigos que relatam notícias ruins.
De vez em quando, aparecem algumas notícias boas, como por exemplo a que saiu estes dias, sobre o Professor Yugawa. Mas isso talvez não passe da centésima parte, em comparação com o número de notícias más. Como podemos ver por esses fatos, os leitores que leem diariamente jornais tão cheios de males, inconscientemente, são influenciados por eles. Assim, a consciência do homem sobre o Mal diminui e, devido ao seu próprio caráter, ele se acostuma até mesmo àquilo que, em estado psicológico normal, lhe pareceria terrível.
Em princípio, o objetivo pelo qual os jornalistas mostram apenas a parte escura das coisas é advertir a sociedade, num esforço para melhorá-la cada vez mais. É uma ironia, no entanto, pois esse esforço surte um efeito contrário. Talvez até a mente dos jornalistas acabe ficando entorpecida e eles comecem a achar que é muito normal relatar ocorrências criminosas com grande eloquência. Como não conseguimos ficar calados diante desta sua tendência ao estado de torpor em relação ao Mal , não temos outra saída senão adotar o método contrário ao deles. Observando a redação de nosso jornal, poderão compreender isso muito bem. Os crimes ou aspectos negativos da sociedade jamais são explorados de forma sensacionalista. Dessa forma, despertamos a sociedade e reafirmamos a absoluta rejeição do Mal. Talvez seja uma posição muito natural para um jornal religioso, mas, se publicações desse tipo contiverem simplesmente artigos semelhantes a sermões, como se estivessem mastigando vela, não atrairão a atenção das pessoas e por isso acabarão não sendo lidas. Como essas publicações são infrutíferas, o nosso jornal, mesmo que se trate de um pequeno comentário, publica artigos que toquem a fundo o coração dos leitores. Publica, também, teorias novas, que raramente são apresentadas. É assim que ele atrai as atenções. Além disso, através do suntetsu (sátira curta e incisiva), fazemos com que os leitores consigam captar o ponto vital das coisas. Principalmente os relatos de graças recebidas, que são artigos característicos de nosso jornal e representam fatos verídicos – recentes milagres de valiosas vidas que foram salvas – nunca deixam de ser lidos. Os leitores ficam maravilhados e talvez não haja um só que não se comova.
Como podemos ver, talvez não exista atualmente um jornal igual ao nosso, que rejeita o Mal e inspira fortemente o Bem. Podemos, portanto, dizer que, mesmo em pequena escala, ele é uma existência de caráter luminoso cujo brilho é único, destacando-se pelo seu objetivo de melhorar o sentimento das pessoas.
18 de fevereiro de 1950