Ogata Kōrin (尾形光琳 Kyoto, 1658 — Kyoto, 2 de junho de 1716) foi um pintor, envernizador e desenhador japonês da escola Rinpa.
Fato curioso é que ele nasceu exatamente cem anos depois de Koetsu (1558 – 1637), que, juntamente com Sotatsu, é creditado como o fundador da Escola Rinpa, cujo estilo decorativo ficou famoso por incluir o uso de cores brilhantes e ouro.
O avô de Kōrin adquirira consideráveis meios de fortuna como fornecedor de sedas da corte imperial, sob o comando da Imperatriz Tofukomon´in, e Kōrin não precisou preocupar-se em ganhar a vida. A loja de seu avô e de seu pai chamava-se Kariganeya.
Interessante é notar que o bisavô de Kōrin, Sohaku, era casado com a irmã mais velha de Koetsu, e a família Ogata tinha uma residência em Takagamine, uma colônia da arte estabelecida nos subúrbios de Kyoto por Koetsu. O pai de Kōrin, Soken, era um realizado calígrafo da escola de Koetsu, e também um amante do drama Nô. Portanto, Kōrin e seu irmão Kenzan cresceram rodeados pelos trabalhos de Sotatsu e Koetsu.
Embora os dois irmãos tenham recebido uma grande herança de seu pai, o extravagante e socialmente dinâmico Koetsu ficou logo num impasse econômico e foi impelido a ganhar a vida pela produção de pinturas e trabalhos em laca. Sabe-se que em 1701 ele alcançou o grau de hokkyo (título fornecido a quem alcançasse um alto grau em determinada especialidade) , indicando que ele estava ativo como um pintor completamente desenvolvido nesta época. Depois disso, virtualmente todos os seus trabalhos passaram a levar a assinatura Hokkyo Kōrin . Muitos dos seus trabalhos que sobreviveram até hoje são desta época ou posteriores. Nesta época, Kenzan estabeleceu um ateliê em Naruaki e começou a produzir cerâmicas lá. Os dois irmãos Ogata freqüentaram a casa da família e produziram seus trabalhos de arte dentro do contexto da tradicional elite cultural de Kyoto. Ao mesmo tempo, durante este período, conhecido como Era Genroku (1688 – 1704), uma economia livre estava crescendo e originando uma extravagante cultura Samurai sob os auspícios do 5º shogun Tsunayoshi. Kōrin foi pra Edo em 1704 e serviu uma família daimio , mas aparentemente ele não se encaixou muito bem dentro do contexto da cultura samurai e retornou a Kyoto.
Como quase nenhum dos seus trabalhos traz uma data, é difícil determinar a cronologia de sua obra, mas parece que todos os seus trabalhos importantes foram produzidos no período de 20 anos a contar de 1697. Esses anos podem ser divididos em 3 partes: o período Kyoto de formação, de 1697 a 1703, quando ele ganhou reconhecimento como artista; o período de 1704 a 1710, quando ele morou em Edo (atual Tokyo), e os anos de 1711 a 1716, seus últimos anos de vida, quando ele atingiu seu clímax artístico.
Kōrin estudou sob a orientação de Soken Yamamoto, Kano, Tsunenobu e Gukei Sumiyoshi. Soken era membro da oficialmente reconhecida escola de Kano, e era hábil nas pinturas tanto do estilo chinês quanto na escola Tosa, que empregava tema japoneses e um estilo decorativo colorido.
Embora tivesse encontrado proteções e amigos na aristocracia, era considerado, em virtude dos seus hábitos excêntricos e da sua riqueza, um esnobe, algo no gênero de um Oscar Wilde. Ele não era casado até 1697, já com quase 40 anos. Esse comportamento pode ser ilustrado por uma história de um piquenique que Kōrin fez com seus amigos em Arashyama, subúrbio de Kyoto. Tendo cada um dos participantes exibido suas esplêndidas louças, Kōrin garantiu o clímax da festa envolvendo sua comida em folhas de bambu decoradas a ouro. Quando o artista acabou sua refeição, ele lançou as referidas folhas no rio, uma ação pela qual ele foi banido de Kyoto por um período, porque havia uma lei em Kyoto que proibia o uso de ouro e prata entre as pessoas comuns. Por causa de extravagâncias como essa, Kōrin perdeu a fortuna que tinha herdado e passou a se sustentar através da arte.
Daikokuten
1705
Rolo suspenso
Tinta em papel
Dimensões: 52,9 cm X 28,3 cm
Museu Miho, Japan
Entretanto, o caso de Kōrin levanta um interessante problema: o que acontece a um esnobe possuidor de qualidades excepcionais? Kōrin começou por repensar tudo o que o rodeava, a fim de fazer disso uma obra de arte, e com esta intenção escolheu cores não-habituais ou mesmo chocantes. Ainda hoje se mostra em Kyoto a pequena sala onde se efetuavam as suas cerimônias do chá, que, para ele, como para quase todos os seus contemporâneos, eram a ocupação estética por excelência. Mas esta sala é, sem dúvida, a única no Japão pintada de negro. Kōrin também criou cerâmicas e fez desenhos para seu irmão Kenzan, mais célebre como ceramista do que como pintor; aliás, por vezes, pintava também algumas das suas cerâmicas.
Kōrin trabalhou igualmente a laca, e as suas normas criaram escola, a tal ponto que é difícil saber quais são as peças que provêm da sua mão. Mas parece ter-se apaixonado de tal forma por esta arte que não receou assumir todas as dificuldades do ofício de laquista. Pintou os kimonos de uma família amiga, contando-se hoje estas vestes entre as obras-primas da pintura japonesa. Antes de mais nada, era pintor – um pintor muito pessoal, se bem que não hesitasse em copiar fielmente várias obras de Sotatsu, cuja técnica apreciava acima de tudo. Os críticos japoneses pensam que a diferença existente entre as duas técnicas tem origem no fato de Sotatsu pintar mantendo o pincel perpendicular, ao passo que Kōrin o segurava oblíquo. Sabia ainda dar à sua pintura um brilho mate semelhante ao nácar. Kōrin estimava, principalmente, como Sotatsu, os modelos da escola de Yamato-ê, dos séculos XII e XIII.
Duas das pinturas mais famosas representam cenas do Ise Monogatari . Numa delas, o príncipe Narihira, no decurso de uma viagem, está sentado ao lado da Ponte de Oito Caminhos , à beira de um pântano com flores e íris. Tanto ele como os amigos sentem saudades da pátria, e o príncipe experimenta o desejo de ver novamente a bem-amada distante. A história, como sempre, termina com um poema. Todas as linhas do desenho de Kōrin são cheias de espírito e de uma composição seca e nítida como a Casa da Fronteira de Sotatsu.
Caixa para instrumentos de escrita com design de búfalo d´água e trevo do mato
A diferença entre a pintura de Kōrin e a de Sotatsu, abstraindo da maneira de segurar o pincel, consiste principalmente na cor. Kōrin procura, igualmente, vigorosos e luminosos contrastes e não hesita em chocar com a tradição. Seria absolutamente errôneo supor Kōrin um simples imitador que tivesse sintetizado as técnicas de Sotatsu e de Koetsu, no estilo do seu tempo. De qualquer modo, para agir como ele, era preciso ter um estilo que pudesse formar-se independentemente da moda.
Kōrin utiliza os tons quentes. Não que evite as cores frias; mas estas não lhe agradam. As tonalidades ordenam-se num acordo pleno e substancial, que talvez não fosse conhecido ou estimado nas alturas de 1600, mas que marcou o estilo dos anos à volta de 1700 e lhe deu a plenitude e a força.
A característica principal deste estilo único de Kōrin é o que podemos chamar de um “Impressionismo de realce”, que é expressado com poucas e simples formas altamente idealizadas, com uma absoluta negligência do realismo ou das convenções usuais. Na laca, o uso de Kōrin de metais brancos e de madrepérola é notável.
Kōrin morreu com 59 anos. Seus principais discípulos são Kagei Tatebayashi e Shiko Watanabe, mas o atual conhecimento e apreciação de seu trabalho devem-se principalmente aos esforços de Hoitsu Sakai, que trouxe um renascimento do estilo de Kōrin.
Ao querer ser diferente dos outros, Kōrin realizou em segredo os desejos de todos: deu o tom à arte do seu tempo.
Fonte: ogatakorin.com.br
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