Repórter: As azaleias plantadas na Colina das Azaléias do Zuiun-kyo são de vários tipos; existem aproximadamente quarenta tipos da mesma espécie. São mais de três mil e seiscentos pés, nas cores vermelha, branca, rosa e violeta, colorindo uma colina inteira que, do final de abril ao final de maio, floresce com tal esplendor, que podemos chamá-la de Paraíso das Flores. Mas essa beleza logo termina, dando lugar à estação das azaleias denominadas “satsuki”. A propósito, logo nos lembramos das que estão plantadas no Shinsen-kyo de Hakone. Mas com que objetivo Meishu-Sama plantou essa flor naquele local?
Katsumata: Todos os anos, no final de maio, Meishu-Sama se mudava para o Shinsen-kyo de Hakone. Essa é a época do término da floração das azaleias de Atami e o início do florescimento das azaleias “satsuki”, em Hakone. Como, aí, as flores que florescem cedo e as que florescem tarde estão misturadas, é possível apreciar flores durante todo o mês de junho. Parece, também, que as azaleias “satsuki” se dão muito bem com o ambiente natural de Hakone, caracterizado pelo alto grau de umidade. Acho que foi por esses motivos que Meishu-Sama mandou plantar esse tipo de azaleia no Shinsen-kyo.
Morimoto: Meishu-Sama passava em Hakone o período que ia do fim de maio até o começo de outubro; daí até o fim de maio do ano seguinte, cuidava da Obra Divina em Atami. Para que tudo se ajustasse a esse modo de vida, recebíamos ordem de plantar, em Hakone, todas as plantas que havia em Atami, como as azaleias “satsuki” e o jasmim, que florescem do outono até a primavera do ano seguinte.
Katsumata: Ao contrário, muitas plantas de Hakone também foram levadas para Atami.
Repórter: Acredito que Meishu-Sama pensava nas peculiaridades de cada planta. Como Hakone é um local rodeado de montanhas e o seu grau de umidade é elevado, Ele escolhia plantas adequadas a essas condições, ao passo que, em Atami, que está em frente ao mar e tem um clima temperado, estão plantadas aquelas que se ajustam às suas condições.
Morimoto: Realmente, Meishu-Sama só dava orientações a respeito das plantas depois de ter refletido bem sobre as peculiaridades de cada uma. Certa vez, Ele me ensinou algo sobre a ameixeira. Em termos de aroma, a flor da ameixeira que dá frutos é mais perfumada; em termos de flor, a ameixeira que só dá flores é mais bela. Apesar da minha profissão, eu conhecia as peculiaridades da árvore, mas ignorava as peculiaridades da flor. No entanto, através do meu serviço no Jardim das Ameixeiras, pude comprovar que Meishu-Sama conhecia tudo sobre ambas.
Tendo recebido instruções para encontrar árvores velhas e de flores perfumadas, percorri todo o Estado de Saitama, mas enfrentei muita dificuldade, pois ninguém queria vender ameixeiras que dão frutos. A maior parte foi comprada e transportada do bairro de Shimo-Soga, um lugar situado fora do perímetro urbano de Odawara. Efetuada a compra, também foi muito trabalhoso o transporte. No era nada fácil transportar pés de ameixeiras tão grandes como aqueles. Como, naquela época, não havia estradas tão largas como hoje, eles danificavam as paredes da casa de uns e quebravam os galhos do jardim de outros, causando muitos problemas às pessoas que residiam ao longo da estrada.
Repórter: Além disso, houve problemas relativos ao tempo gasto no transporte, pois era preciso que ele fosse efetuado num curto espaço de tempo, devido à época do plantio, não é verdade?
Morimoto: De fato. Entretanto, um caminhão grande só dava para transportar um ou dois pés, e, para colocá-los dentro do caminhão, necessariamente levavam-se três a quatro horas. A estrada era ruim e estreita e por isso era preciso muito cuidado para não quebrar os galhos das árvores nem incomodar os outros.
Transportadas as ameixeiras, tinha-se de abrir os buracos um a um, para plantá-las. Assim, desde a compra das árvores até o final da plantação, despendeu-se muito tempo; do começo até o fim, foram quatro anos.
Repórter: Puxa! Foi muito trabalhoso, não? O sacrifício exigido para transportar e plantar os trezentos e sessenta pés de ameixeiras, num determinado espaço de tempo, foi incalculável, e só os que o fizeram sabem avaliar. Para realizar um trabalho desse tipo, a hora, ou melhor, a época, torna-se muito valiosa, não é?
Katsumata: No tipo de serviço que empreendemos, o mais importante é a época certa. Se não tivermos isso sempre em mente, os resultados não serão satisfatórios e falharemos. Mesmo que, por acaso, o que foi plantado pegue, sempre haverá defeitos.
Repórter: Certa vez, em Hakone, transplantou-se um grande número de enormes cedros, e nenhum secou; todos eles pegaram. Creio que isso também se deve ao fato de terem sido plantados na época certa, não?
Katsumata: Aqueles cedros foram transplantados porque houve uma ordem de aplainar a Colina de Luz do Shinsen-kyo, a fim de preparar o terreno.
Normalmente, o tempo apropriado para se removerem cedros e ciprestes é em meados de novembro. Quando se trata de árvores muito grandes, a remoção deve ser iniciada em dezembro e terminada até o final de março do ano seguinte. Escolhendo a época do inverno, replantamos mais ou menos oitenta pés. Graças a Deus, como a época foi apropriada, até as árvores grandes pegaram.
Há vinte anos atrás, Meishu-Sama comprou o terreno plantado de cedros onde hoje está situado o Santuário da Divina Luz. Certo dia, quando eu estava cortando uma árvore, Ele disse: “Não se deve cortar árvores que já estão crescidas, a não ser que haja necessidade; elas são importantes e, por isso, não devem ser cortadas”.
Então, parei, com o serrote já na metade do corte. Apesar disso, essa árvore não secou, e existe até hoje. Está no vale situado à esquerda do Santuário da Divina Luz.
Certamente só eu sei de sua existência, ninguém mais.
Repórter: O fato de Meishu-Sama querer preservá-la mesmo com o corte do serrote demonstra o Seu grande amor às árvores. Ele considerava sagrada uma vida que não se compra com dinheiro, não é?
Katsumata: Seu amor era realmente grande. Ele só permitia que as árvores fossem cortadas se elas atrapalhassem uma construção ou se fosse absolutamente necessário.
Repórter: Para finalizar, se tiverem lembrança de alguma palavra de Meishu-Sama, recebida quando serviam ao Seu lado e que ainda hoje permanece gravada em seus corações, transmitam-na para nós.
Katsumata: Aconteceu há dez anos atrás. Estava relembrando Meishu-Sama e, de repente, como se uma luz iluminasse meu coração, percebi que todos os Seus Ensinamentos estavam interligados. Concluí isso meditando umas palavras que eu havia deixado passar despercebidas quando recebi ordem para cortar uns galhos, há vinte anos. Ele dissera estas palavras: “O homem é como as árvores. Tem partes pontiagudas, enroladas e, se não tomar cuidado para eliminá-las, não conseguirá um bom relacionamento com os seus semelhantes. É isso que estou ensinando”.
Realmente, se agirmos dessa maneira, concretizar-se-á o Paraíso Terrestre, onde não há conflito de espécie alguma.
Morimoto: Hoje, objetivando o Centenário de Meishu-Sama, unida, a Igreja vem desenvolvendo a construção do Museu de Belas-Artes de Atami. Ao ver-me num beco-sem-saída, relembro as épocas passadas, e parece que ouço Meishu-Sama me incentivar: “Morimoto, esforce-se; não se esqueça do tempo que passou”. Doravante, para construir o Paraíso Terrestre idealizado por Meishu-Sama, também quero continuar me esforçando na construção de belos jardins, que não encontrem similares em nenhum outro lugar.