2.1 - Existência
Com base na mitologia, sabe-se que a mais alta hierarquia divina, cultuada no Japão, é Amaterassu Ookami, entendida como ancestral da família do imperador. Continua, ainda nos dias atuais, presente em espírito, no Templo de Isse.
Sobre essa divindade existem várias versões. A mais confiável é a seguinte: em tempos remotos, a imagem de Amaterassu Ookami permaneceu numa localidade perto de Kyoto, denominada Tanba no Kuni Motoisse (Vilarejo do Estado de Tanba), mas, há mil e cem anos, foi transferida para outro lugar: Yamada no Isse (aldeia de Isse) onde se encontra até hoje.
Consta que, na época da transferência, a imagem estava sendo carregada por algumas pessoas, num palanquim, que ficou extremamente pesado, no momento de atravessar o Rio Issuzu. Como não conseguiram mais transportá-lo, resolveram voltar ao local de onde a imagem fora tirada (Templo de Tanba). Nessa ocasião, misteriosamente, uma rocha de mais ou menos dez metros quadrados caiu em cima de um riacho que passa atrás do Templo de Isse e aí ficou “sentada” à beira do rio, onde está até hoje. Recebeu, por isso, o nome de Gozaseki (pedra que senta). Esse acontecimento é interpretado como o desejo da divindade de permanecer ali. Ao lado dessa pedra, há uma caverna denominada Iwato (= porta da rocha), relativamente grande, que serviu de moradia para Amaterassu. Quando, no ano passado (1951), fui a Motoisse (Tanba no Kunimoto Isse), tive oportunidade de ver pessoalmente essa pedra.
2.2 - Origem
A antiga história do Japão, fundamentada na mitologia, fala da existência de um casal de divindades, Izanagui e Izanami, que geraram uma filha chamada Amaterassu Ookami e um filho, Kansusanoo-no-Mikoto.
Kansusanoo foi designado para governar a Coréia e Amaterassu o Japão. Daí o motivo de ela ser considerada ancestral dos imperadores.
Amaterassu gerou um menino chamado Hiruko-no-Mikoto. Se isso for verdade, deverá haver o esposo, mas dele não se tem notícia. Até hoje, contudo, ninguém procurou desvendar o enigma porque esse tipo de investigação, antes da Segunda Guerra, significaria irreverência; por isso, não se teciam comentários sobre o assunto. Agora já não há mais esse receio; portanto, eu posso escrever tranquilamente e comentar o fato.
Assim, então, vejamos: de acordo com a antiga História, um povo de nome Tenson, liderado por Minigui-no-Mikoto, desceu do céu e se instalou no alto da montanha Takachiho, situada na ilha de Kyushu (sul do Japão). Mais tarde, o neto de Miniguimo se tornou imperador desse povo com o nome de Jinmu (também chamado Kamu Yamato Iwarehiko-no-Mikoto). Quando atingiu 45 anos, organizou um exército para conquistar o leste do Japão. Segundo consta, avançou em primeiro lugar para Yamato (atual Nara). Houve lutas pouco favoráveis ao exército do imperador Jinmu que, por isso, perdeu a guerra, tendo, também, morrido em combate o seu filho primogênito de nome Itsusse-no-Mikoto. Desolado, Jinmu percebeu que a causa do insucesso fora ter-se encaminhado para a guerra seguindo na direção Leste, contra o Sol. Resolveu, então, dar uma grande volta, dirigindo-se pelo Oeste, mantendo, portanto, o Sol às costas, até atingir novamente o Leste, região que desejava conquistar. Com essa estratégia, venceu a guerra e organizou o governo de Yamato. Não conseguiu, contudo, dominar toda a região do leste, por que ali já havia outras bases militares muito bem organizadas, num local chamado Izumo no Kuni (aldeia de Izumo), bem longe de Yamato. Na verdade esse assentamento militar era a sede central do governo do Japão (o Izumo-cho) chefiado por Ookuninushi-no-Mikoto.
Mesmo assim, a partir de então, passaram a existir dois governos distintos: o de Yamato, regido por Jinmu, e o Izumo-cho de Ookuninushi.
Para resolver a questão, o imperador de Yamato mandou a Izumo dois representantes com a missão de propor o final da guerra, mas não conseguiu êxito. Foi realizada uma segunda tentativa, também malsucedida.
Nos dois casos, o motivo do insucesso foi que o inimigo (Izumo-cho) ludibriou os emissários do imperador Jinmu, oferecendo-lhes bebidas alcoólicas e mulheres.
Enfurecido, Jinmu tentou uma terceira vez, usando meios mais vigorosos, com a finalidade de conseguir o seu objetivo. Para isso, nomeou um general do Exército, Takamikazuchi-no-Mikoto e um almirante da Marinha, Futsumushi-no-Mikoto. Assim planejou atacar por terra e por mar. Diante da situação, Ookuninushi-no-Mikoto se assustou e se entregou sem lutar. Como resultado, o poder passou do povo Izumo para o povo Tenson (= Jinmu).