Passaremos agora a falar sobre doenças. O que é a doença? Em síntese, é o processo de eliminação das impurezas que não devem permanecer no organismo. O indivíduo livre de impurezas tem uma boa circulação e uma saúde vigorosa, podendo gozar uma vida sempre ativa durante toda a sua existência. E o que são essas impurezas? São produtos químicos introduzidos no organismo sob a forma de medicamentos que, com o passar do tempo, sofrem uma alteração em sua estrutura, degenerando, envenenando o sangue e transformando-se em pus. Mas por que começou o homem a fazer uso de medicamentos que produzem enfermidades?
Nas eras primitivas, à medida que a população aumentava, os alimentos, pouco a pouco, começaram a escassear. E o homem começou a procurar alimentos em toda parte, comendo tudo o que encontrava nas montanhas, vales e rios: castanhas, frutos silvestres, insetos, moluscos e pequenos peixes. Por serem os seus métodos de pesca e agricultura muito primitivos e por não dispor de uma técnica para distinguir entre os bons e os maus alimentos, o homem, preocupado apenas em saciar o seu apetite, freqüentemente se intoxicava. E ao sofrimento decorrente chamou doença. Procurando um meio de livrar-se das dores, experimentou raízes de plantas e cascas de árvores. Ao descobrir, por acaso, que algumas atenuavam o sofrimento, o homem, agradecido, as chamou remédios. As dores e o mal-estar decorrentes da intoxicação alimentar faziam parte do processo de purificação. Os remédios aliviavam as dores porque interrompiam o processo de eliminação das toxinas. Desde aqueles tempos, entretanto, começou-se a pensar que a paralisação da purificação fosse o meio de curar as doenças. E essa ilusão persiste há mais de dois mil anos.
Na China, a descoberta dos remédios é atribuída a Nanko-shi, um imperador da dinastia Han[1]. Também conhecido com o nome de Shen Nung, foi ele quem introduziu o Kan-po[2]. No Ocidente, extraíram-se remédios não só de plantas e cascas de árvores, mas de todas as outras coisas. Parece incrível que, sob esse aspecto, a inteligência do homem não tenha evoluído desde as eras primitivas e que ainda hoje persista a ideia segundo a qual os remédios curam as enfermidades.
Para melhor explicar as doenças, tomarei como exemplo a gripe, uma afecção que todo ser humano já experimentou. O primeiro sintoma da gripe é a elevação da temperatura do corpo. A seguir, surgem dores de cabeça, tosse, catarro, suores, dores nas juntas e torpor. Alguns desses sintomas são constantes, na gripe. Mas todos são causados pelo fenômeno da purificação, ou seja, o processo de que se serve o organismo para eliminar as impurezas ou toxinas. Por desconhecimento desse fato, a medicina procura tolher a eliminação, cometendo, assim, um grande erro. As toxinas impedem a boa atividade do organismo. Por isso, quando a sua acumulação ultrapassa um certo limite, a própria Natureza provoca a sua eliminação. Nesse processo, as toxinas são dissolvidas pela febre e expulsas do corpo sob a forma de catarro, coriza, suor, urina, diarreia, etc. Se o indivíduo suportar pacientemente a dor e o desconforto durante um curto período, a ação purificadora poderá processar-se normalmente, reduzindo as toxinas e aumentando, proporcionalmente, a saúde. A ciência médica, entretanto, interpreta tudo isso ao contrário, vendo nas dores e no sofrimento um fenômeno prejudicial ao organismo. Conseqüentemente, faz o possível para suprimi-los, o que constitui um erro terrível.
Basicamente, a purificação pode ocorrer com mais facilidade quando a vitalidade do corpo é elevada. O único meio de impedir a purificação é baixar a vitalidade. É precisamente o que fazem os tratamentos médicos. O meio mais eficaz de debilitar o organismo são os venenos chamados remédios. Como os sintomas diminuem à medida que o organismo se debilita, é compreensível que tenha surgido esse equívoco que, no fundo, não passa de ignorância.
O corpo humano dissolve as toxinas por meio da febre e procura eliminá-las sob forma líquida. Mas isto irrita os nervos, causando dor e sofrimento. Não se sabe quando nem como, esse sofrimento passou a ser erroneamente interpretado como algo prejudicial. Conseqüentemente, procura-se, por meio de bolsas de gelo, cataplasmas, antipiréticos, etc., conservar as toxinas em seu estado sólido, impedindo que se dissolvam. Assim, em lugar de curar a doença, impede-se a sua cura. Mas o alívio temporário da dor é erroneamente interpretado como um processo de cura. No entanto, são os próprios métodos empregados para amenizar as dores que criam as doenças, de modo que o problema é bastante grave. Essa graça denominada doença, dada pelo Céu para aumentar a saúde, foi interpretada ao contrário e faz-se o possível para impedi-la por meio da ciência médica. A expressão “combater a doença”, muito ouvida nos últimos tempos, nasceu dessa ideia errônea.
Quando uma pessoa apanha um resfriado e tenta impedir o seu livre curso, impede a expulsão das toxinas que deveriam ser eliminadas, às quais se acrescentam as novas toxinas dos remédios. Como as toxinas voltam a ser temporariamente solidificadas, desaparecem as dores e o desconforto, e o indivíduo, estultamente, pensa estar curado. Muito ao contrário, pois, além de impedir a eliminação das toxinas, estas ainda foram acrescidas de novas toxinas. Em conseqüência, é natural que surja, mais tarde, uma purificação bem mais severa. A prova é que os resfriados medicados nunca se curam de uma só vez. Com a mudança de clima, a maioria das pessoas apanha resfriados e, para muitas, a gripe se torna uma afecção crônica. Ao lerem estas palavras, poderão convencer-se da verdade.
Há um conceito muito antigo, segundo o qual a gripe é considerada a base de todas as doenças. Nada mais falso. Para o ser humano não existe um processo de limpeza interior do corpo mais simples, mais salutar e benéfico do que a gripe. A grande incidência de casos de tuberculose, registrada nos últimos tempos, é uma conseqüência do combate aos resfriados, pois a supressão da gripe solidifica as toxinas, em lugar de permitir a sua eliminação. Portanto, o melhor meio de prevenir a tuberculose é incentivar as pessoas a contraírem gripes. Assim, o problema da tuberculose seria facilmente solucionado. Como esse fato é ignorado e como se faz justamente o contrário, é natural que o número de casos aumente cada vez mais.
As enfermidades são causadas por toxinas solidificadas. Há dois tipos de toxinas: as constitucionais e as adquiridas. As primeiras são toxinas medicinais hereditárias; as segundas são adquiridas após o nascimento. Esses venenos se aglutinam e solidificam nas áreas onde os nervos são mais ativos. Os nervos mais usados pelo homem são os da parte superior do corpo: especialmente o cérebro e as áreas circundantes – olhos, ouvidos, nariz e boca. Antes de se concentrarem nesses pontos, as toxinas, numa primeira etapa, solidificam-se ao redor do pescoço. Mediante uma pressão com os dedos, pode-se sentir as partes endurecidas no pescoço e perto dos ombros. Poucas são as pessoas que não têm toxinas solidificadas nessas áreas.
Nesses pontos, a temperatura é sempre mais elevada que a das áreas adjacentes, provocada por uma ligeira purificação. A cefaleia, cabeça pesada, endurecimento do pescoço e dos ombros, zumbidos nos ouvidos, lacrimejamento, coriza, catarro, piorreia, etc., são causados por essa purificação. Quando a quantidade de toxinas solidificadas ultrapassa um certo limite, produz-se uma purificação natural. Esta também pode surgir quando a vitalidade do corpo é elevada por meio de exercícios físicos. Uma brusca mudança de clima pode igualmente provocar uma ação purificadora, para que o corpo se adapte à Natureza. Essas são as diversas causas da gripe, sempre prenunciadas por um endurecimento dos ombros. A tosse é uma bomba para expelir as toxinas liquefeitas. Por esse processo, são eliminadas não só as toxinas aglutinadas nas proximidades do pescoço, mas também as de outras áreas. O espirro é outra bomba que expele as toxinas liquefeitas de trás do nariz e do bulbo.
A gripe é um poderoso meio de purificar a parte superior do corpo, que tem o seu centro no cérebro. Portanto, é preciso deixar que siga tranquilamente o seu curso natural. Assim, o interior do corpo se torna mais limpo e a cura se processa normalmente e com rapidez. O mero conhecimento desses fatos poderia tornar o homem muito mais feliz.
[1] Por volta do terceiro milênio a.C.
[2] Kan-po: medicina chinesa à base de plantas medicinais.