070 – SHIRANUI E O DOSSIÊ TAKEUCHI

Pergunta: Trata-se de algo referente ao Mar do Shiranui[1], em Kyushu[2]. Todos os anos, por volta das 2 h às 3 h da madrugada, no primeiro dia do Ano-Novo do antigo calendário[3], é possível ver chamas que parecem estar enfileiradas sobre o alto-mar. Até hoje não foi descoberta a origem dessas chamas. Peço para nos ensinar a respeito do que as ocasiona.

Meishu-Sama: São vários mistérios divinos. Na época governada pelo Imperador Jinmu[4], antigos registros da história do Japão foram jogados no Mar do Shiranui[5] e acabaram desaparecendo. O senhor Takeuchi fugiu para Echizen[6] com uma parte deles e os enterrou. Ele é ancestral de Takenouchi-no-Suke[7] e foi na Amatsu-kyo[8] que teve início a pesquisa desses registros e pergaminhos. Essa pessoa chama-se OomaroTakeuchi[9].

Dizem que há um artigo genuíno dos três objetos sagrados e uma Tachi[10] com cerca de 180 cm de comprimento. O objeto mais incomum é uma outra versão dos dez mandamentos de Moisés gravados em uma pedra. Existe um palacete na cidade de Tateyama, em Echu[11], onde existem esferas que brilham a noite. Há registros delas na fábula Momotaro[12].

Metade dos registros que foram lançados no Mar do Shiranui são protegidos por um ryujin[13]. Dizem que o corpo desse ryujin emite luz, mas que isso ocorre quando há a incidência da luz solar. O corpo do karyu[14] emite luz.

Se isso fosse um fenômeno astronômico, certamente seria irregular, pois o Sol não fica parado no mesmo lugar.

A história do Japão que antecede o Imperador Jinmu é um mistério divino. Mesmo hoje, não pode ser dita. Ao saber sobre ela, a história do Japão que conhecemos muda completamente. Com isso, pela primeira vez sua verdade será compreendida.

Ninigi-no-Mikoto[15] atravessou o mar e veio da China.

8 de junho de 1949

Traduzido pela Equipe do Jinsai.org

 

[1] Shiranui: Fenômeno ótico semelhante a miragem, que ocorre em alto-mar devido a inversão térmica. Geralmente, o fenômeno é visto durante o verão japonês no mar de Yatsuhiro e no Mar de Ayake, ambos localizados na ilha de Kyushu.

[2] Kyushu: Terceira maior ilha do arquipélago japonês, localizada ao sul.

[3] Antigo calendário: O calendário japonês, em sua forma original, não faz a contagem dos anos como nosso calendário gregoriano; ele é baseado em eras, onde a contagem é reiniciada sempre que uma era termina e outra inicia. Trata-se de um calendário lunissolar, baseado no calendário chinês. De acordo com esse sistema, o ano solar acompanha os ciclos da Lua, fazendo com que sejam necessários ajustes periódicos. Assim, havia meses mais longos e mais curtos, cuja ordem variava a cada ano. Durante a Reforma Meiji, em 1873, o governo anunciou a adoção do calendário gregoriano.

[4] Imperador Jinmu: O Imperador Jinmu (711-585 a.C.) foi o primeiro imperador do Japão. Governou entre 660 até 585 a.C. e a linha de sucessão dos imperadores japoneses baseia-se nos descendentes de Jinmu.

[5] Mar doShiranui: Como também é conhecido o Mar de Yatsuhiro, extensão marítima semifechada que separa a ilha de Kyushu das ilhas de Amakusa.

[6] Echizen: Antiga província do Japão que, atualmente, equivale a parte da província de Fukui.

[7] Takenouchi-no-Suke: Também conhecido como Takenouchi-no-Sukune, foi um herói lendário da história do Japão, que serviu a pelo menos cinco imperadores, entre eles o Imperador Ojin (270-310), que foi uma encarnação anterior de Meishu-Sama.

[8] Amatsu-kyo: Nova religião japonesa que surgiu no início da era Showa (1926-1989). Em 1952, após a criação da Lei das Novas Religiões, passou a chamar-se Kouso-Kodaijingu-Amatsu-Kyo.

[9] Oomaro Takeutchi: Se tornou famoso por ter divulgado textos polêmicos sobre o futuro da nação japonesa no início da Era Showa (1926-1989). O incidente passou a ser conhecido como Takeutchi Bunsho (Documentos Confidenciais de Takeuchi), mas posteriormente foi comprovada a falsidade dos textos que ele divulgou.

[10] Tachi: Um tipo de espada tradicional japonesa, carregadas pelos samurais com o gume voltado para baixo e com a ponta mais fina que a base. É mais curvada e longa do que a katana, que se tornou mais popular e é considerada sua sucessora. As tachi geralmente apresentavam entre 60 e 80 cm, mas poderiam chegar até 200 cm para fins religiosos; neste caso, são denominadas de odachi (espada grande).

[11] Echu: Antiga província do Japão na região central da principal ilha do arquipélago japonês. Sua área abrange a atual província de Toyama.

[12] Momotaro: Popular herói do folclore japonês que, segundo a atual lenda (datada da Era Edo), veio à Terra dentro de um pêssego gigante e foi adotado por um casal de idosos. A lenda também conta que ele recebeu dos pais adotivos kibidango (bolinhos feitos de arroz) e partiu para a onigashima (ilha dos demônios) para derrotar os demônios acompanhado de um cachorro, um macaco e um faisão.

[13] Ryujin: Termo que, em tradução livre, significa “divindade dragão”. Trata-se de uma divindade cultuada como padroeira das águas ou divindade dos mares. Também é considerada protetora de lagos, córregos, rios, mares e oceanos. Desempenha um papel divino nas lendas japonesas por ser considerada a divindade que controla o movimento dos mares.

[14] Karyu:“Dragão de fogo” em tradução livre.

[15] Ninigi-no-Mikoto: Na mitologia japonesa é considerado o neto de Amaterasu Ookami, que o mandou para a terra ensinar o conhecimento sobre a plantação do arroz e governar o mundo (ou seja, pacificar o Japão). Para cumprir essa tarefa, Amaterasu Ookami forneceu-lhe três tesouros conhecidos como Relicário Imperial do Japão (1. A jóia Magatama; 2. O espelho Yata no Kagami; 3. A espada de Kusanagi).