AIZO NANIWATEI

Não se limitam a dois ou três nomes os mestres — que não atores — sobre os quais desejo falar. Como desde jovem eu gosto de canções do gênero Ro-kyoku, escreverei aqui sobre os seus mestres. Meu gosto pelas canções Ro-kyoku é restrito às da região oriental do Japão: mesmo hoje não sinto interesse pelas da região ocidental. Portanto, escreverei principalmente acerca das primeiras.

Este gênero tomou o nome de Ro-kyoku depois do aparecimento do rádio: o pessoal antigo certamente sabe que o nome anterior era naniwabushi. Quando se discute a respeito das canções Ro-kyoku, ninguém negará que, no estilo do Japão Oriental, o primeiro Aizo Naniwatei, e, no estilo do Japão Ocidental, Kumoemon Tochugen, são mestres. Fora estes dois mestres, poderiam ser citados, ainda, Toramaru Bekkosai e Torazo Hirosawa, no estilo do Japão Oriental, bem como Naramaru Yoshida e Ungetsu Tenchuken, no estilo do Japão Ocidental.

Aizo era exímio intérprete de Tasuke Shiobara e de Suneemon Ataka, da peça Keian Taiheiki; Kumoemon, da Saga dos Quarenta e Sete Samurais; Toramaru, do personagem Sakasaki, O Senhor de Dewa; Torazo, dos personagens Jirocho de Shimizu e Ishimatsu de Mori; Naramaru, de Genko Otaka; e Ungetsu, de dramas envolvendo pais e filhos.

O mundo das canções Ro-kyoku também fica cada vez mais vazio. Shigetomo faleceu; Tomoe definhou e dizem que Rakuen irá aposentar-se. Yonewaka não tem mais o vigor dos anos idos; a arte de Odo, Bai-o e Musashi é ainda imatura: fora Torazo, quem hoje sustenta a situação seriam apenas Katsutaro, Wakae, Urataro e Ayataro. Como no caso de Danjuro, é veemente o meu desejo de que surja algum mestre que se equipare a Aizo, no domínio das canções Ro-kyoku.

Aizo Naniwatei atuou quando eu estava nos meus vinte anos; trata-se, portanto, de alguém de quatro ou cinco décadas atrás. Não apenas a sua melodia como também o volume de sua voz eram deslumbrantes. Sua voz maviosa não encontrava rival, nem mesmo entre os demais mestres de outros gêneros que não o das canções Ro-kyoku. Sua voz era tão bela a ponto de eu não poder acreditar — sempre que a ouvia — que ela se originava da garganta humana. Na época, ele atuava com base numa casa de espetáculos chamada Eijutei, em Shiba, a qual estava sempre superlotada. Curiosamente, Kumoemon, que era discípulo da escola de Shigekichi Naniwatei, em Tóquio, foi expulso por razões, de conduta, indo para Osaka e, posteriormente, para Kyushu. Aí criou uma modalidade peculiar de melodia, combinando a canção da região ocidental do Japão com a viola biwa. De posse disso, tornou a Tóquio e passou a competir sua arte com a de Aizo. Estabeleceu-se na casa Happotei, em Shiba, debatendo intensamente com Aizo. Contanto, por não ter podido com este, desistiu de Tóquio e levantou bandeira em Osaka. Infelizmente, porém, Aizo faleceu jovem, na casa dos trinta. Kumoemon, tendo retornado a Tóquio, depois da morte de Aizo, acabou por ganhar tremenda popularidade, dominando a sociedade com sua arte: fato ainda recente em nossa memória. Kumoemon não se sobressaía apenas pela técnica. Ele era dono de excelente tino na área do espetáculo. Sua criatividade elevou a canção Ro-kyoku, até então de âmbito restrito às pequenas casas de espetáculo, ao palco dos teatros, e fez ocultar os tocadores de viola de três cordas de acompanhamento, dentre outras inovações.

Remanescem ainda hoje na memória Komakichi e Minekichi Naniwatei, o primeiro Katsutaro, Sanso e Rakuyu Azumaya, além de outros.

Ensaios, 30 de agosto de 1949

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