CAPÍTULO XI

Nos seus últimos anos de vida, Meishu Sama dedicou-se a visitar templos e museus, além de ir inspecionar pessoalmente os núcleos da Doutrina Messiânica, então bem espalhados no Japão.

Em 1954, o Mestre quis fazer uma visita ao templo de Muroo-ji, perto das montanhas de Yoshino.

A Doutrina Messiânica encerra Ensinamentos que nem sempre são bem compreendidos pelas pessoas muito presas a dogmas e cerimoniais. Meishu Sama pregava o amor à vida, o gozo das coisas belas, seguir a Natureza, que é uma expressão de Deus.

Nem mesmo aos filhos o Mestre impunha suas convicções. Ele ensinava e praticava a tolerância. Se o homem foi dotado de livre arbítrio, é sagrado o seu direito de escolha. Ele dizia aos próprios filhos:

- Cada um deve agir de acordo com sua própria vontade, desde que não prejudique os outros.

O Mestre jamais permitiu que sua família tirasse vantagens do fato de ele ser um líder espiritual de grande prestígio. Depois da Segunda Guerra Mundial, quando a vida ficou difícil para todos, não deixava a família andar de automóvel senão quando absolutamente necessário. Não admitia que os filhos fossem mimados ou preguiçosos.

Entretanto, Meishu Sama exigia que os filhos sempre dessem bom dia aos pais. Mesmo quando se levantavam tarde, tinham de procurar o pai para cumprimentá-lo. Nestas ocasiões, Meishu Sama caçoava com o dorminhoco: “Levantou-se cedinho hoje, hein?” Esta brincadeira, dita com um sorriso brejeiro, era mais eficaz que uma reprimenda. Os filhos esforçavam-se por levantar cedo.

O Líder Espiritual tratava seus discípulos com a mesma camaradagem que tinha com os filhos. Tinha sempre alguma palavrinha que fazia todos darem boas risadas e o culposo nunca se magoava.

Acontecia que os filhos e certos discípulos mais chegados esperavam gozar privilégios junto a Meishu Sama e receberem o Johrei antes dos outros. Enganavam-se. O Mestre cultuava a justiça. A justiça mandava que fossem atendidos primeiro os que estivessem doentes. Gente com saúde ficava para o fim e só recebia dois ou três minutos de Johrei.

Os filhos tentavam impor-se:

- Papai, minha dor da cabeça ainda não passou!

Mas o pai sorria e respondia:

- Vai passar logo, você vai ver.

Do mesmo modo, os filhos, quando brigavam com os empregados, iam queixar-se ao pai. Este dizia:

- Oh! Então ele te ofendeu? Se foi assim, vou ralhar com ele.

Mas Meishu Sama não concordava com o provérbio japonês que declara: “Numa briga, ambos têm culpa”. O Mestre sabia que as briguinhas não têm importância. Em vez de jogar lenha na fogueira, era preferível contemporizar e não magoar ninguém. Mantinha-se atento para ser justo, mas era sempre calmo e imparcial.

Além disso, Meishu Sama cuidava de sua aparência pessoal. Ensinava que todos devem cuidar-se e andar bem arrumados e assim o fazia.

Portanto, compreende-se que sacerdotes ortodoxos não apreciassem um líder tão espontâneo, simples e humano.

Antes de Meishu Sama visitar o antigo santuário de Muroo-ji, um grupo de discípulos foi avisar os sacerdotes do templo e pedir-lhes que reservassem para o Mestre o melhor quarto de hóspedes. A resposta foi dura: admiravam Meishu Sama como instrutor e como pessoa, mas o melhor quarto de hóspede só era reservado para aqueles que os senhores sacerdotes do templo considerassem superior espiritualmente.

O imprevisto aconteceu. No dia em que Meishu Sama chegou ao templo de Muroo-ji com sua comitiva, para grande surpresa de todos, o templo estava preparado para uma recepção de honra e os sacerdotes lá estavam à porta, metidos em suas melhores roupas. O Sumo Sacerdote em pessoa levou Meishu Sama ao melhor quarto de hóspedes!

Depois ficaram sabendo o motivo da mudança de opinião. De acordo com a tradição, aquele velho templo era protegido por uma entidade muito poderosa. O Espírito Guardião sempre dava um sinal quando alguma pessoa altamente evoluída vinha visitar o templo. Fazia cair uma chuva prolongada, a fim de purificar a área, antes da chegada do visitante insigne. Além disso, a chuva pesada não encheria de lama as águas do rio Muroo ali próximo, como acontece com os rios em regime torrencial.

Naquele dia, havia chovido muito, duas horas antes da chegada de Meishu Sama. Depois o céu clareou e ficou todo azul. As águas do rio avolumaram-se, porém continuaram límpidas e cristalinas.

Foi assim que os sacerdotes do templo de Muroo-ji tiveram certeza de que Meishu Sama merecia o melhor quarto de hóspedes.

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