(Do diálogo com certo visitante)
Visitante: Há muito tempo que Vossa Reverência pratica a arte caligráfica?
Meishu-Sama: Já há uns vinte anos.
Visitante: Acho as peças caligráficas chinesas extremamente viris: são firmes com seus traços grossos e sem aparente preocupação com detalhes.
Meishu-Sama: Dentre os chineses, o mais exímio é Wang Hsi-chih. É verdadeiramente exímio. Dentre os japoneses, Kobo Daishi é exímio. Todavia, há uma diferença entre ser exímio e interessante. Na China, quem tem uma letra interessante é o mestre Wuchuo da seita budista Zen, e eu possuo o seu melhor trabalho. No Japão é o monge Daito Kokushi, o fundador do templo Daitoku-ji, de Kyoto. Gosto também da letra de Ikkyu. Conforme o gênero, podem-se classificar as letras de interessantes, habilidosas, elegantes, e assim por diante. Eu adoro a obra caligráfica do monge zen-budista Ikkyu, mas sua letra é feia. Contudo, nos seus trabalhos, não aparece a intenção de quem quis escrever bem. Sente-se que ele queria escrever com naturalidade — isso é que é bom. Na maior parte dos casos, transparece a pretensão de bem escrever. Por exemplo, a letra de Takuan. Há nela a ambição de quem quis escrever bem, de uma maneira excêntrica. Isso torna sua caligrafia um tanto afetada. A mais pura é a de Ikkyu.
Visitante: Vi, não me lembro onde, o retrato do mestre Ikkyu: tem ele uma fisionomia realmente natural. A letra do falecido senhor Konoe gozava de boa consideração. Parece-me que foi ele que escreveu a tabuleta com os dizeres Ministério Pan-Asiático, por ocasião da fundação do órgão.
Meishu-Sama: Concordo. Naquela época, quando vi a mencionada tabuleta, gostei das letras e, ao perguntar quem as escrevera, soube ter sido o Sr. Konoe. De fato, a letra depende do homem. Tanto a caligrafia como a pintura manifestam a personalidade, pelo uso da tinta e do pincel. Por isso, a letra do calígrafo profissional não é interessante. Suas peças estão apenas bem escritas. Aí não se trata de personalidade, mas de técnica.
(O interlocutor de hoje foi o Sr. Tsunezumi Isao, vice-diretor do Departamento de Ciências do jornal Yomiuri Shimbun. O presente texto é um extrato do diálogo travado entre o mencionado senhor e Meishu-Sama, durante entrevista realizada no outono passado, em Shinzan-so.)
Jornal Eiko nº 199 - 11 de março de 1953